Inquérito revela íntimo relacionamento entre o deputado Fernando
Francischini (PSDB/PR) e o sargento Dadá; parlamentar tucano, que pediu a
prisão de Agnelo Queiroz, em razão do escândalo da arapongagem,
pretendia até trazer seu título de eleitor para o DF, onde concorreria
ao Buriti
247 – Não faltará assunto para a CPI da
Arapongagem, instalada no Distrito Federal, para investigar um suposto
Watergate que teria sido montado no Palácio do Buriti, por aliados do
governador Agnelo Queiroz, para investigar políticos, empresários e
jornalistas.
Na noite deste domingo, reportagem do 247 revelou que um dos supostos
alvos da arapongagem, o vice-governador do Distrito Federal, o
peemedebista Tadeu Filipelli, tramava contra o governador. E, segundo o
inquérito, remunerava jornalistas, como Mino Pedrosa e Edson Sombra,
para provocar o impeachment de Agnelo Queiroz. A mesada de Mino, segundo
uma conversa gravada do sargento Idalberto Matias, o Dadá, seria de R$
100 mil.
Agora, surgem fatos novos, ainda mais estarrecedores, que envolvem
outra autointitulada vítima da arapongagem: o deputado Fernando
Francischini (PSDB/PR). Em 16 de abril deste ano, quando Veja publicou a
reportagem “Espiões vermelhos”, sobre o suposto núcleo de arapongagem
no DF, Francischini anunciou que pediria a prisão do governador Agnelo
Queiroz.
O que o inquérito revela, no entanto, é bem mais grave. Francischini,
que é membro da CPI do Cachoeira, mantinha íntimo relacionamento com os
espiões da quadrilha de Carlos Cachoeira – a mesma que, associada à
construtora Delta, pretendia se infiltrar no Distrito Federal.
No anexo 7 do inquérito (leia mais aqui),
há várias menções ao nome de Francischini – e todas elas, anteriores à
publicação da reportagem de Veja sobre os “espiões vermelhos”.
No dia 31 de janeiro, Dadá faz referência a uma mensagem enviada por
Francischini. Dadá se refere ainda a um contrato na Polícia Civil do
Distrito Federal e a um encontro com o parlamentar tucano.
No dia 4 de fevereiro, Dadá telefona para o bicheiro Carlos Cachoeira
e revela que vem sendo ajudado por Francischini. Diz até que o
parlamentar tucano estaria trazendo seu título de eleitor do Paraná para
o Distrito Federal, onde tentaria ser candidato a governador.
- Quem me falou foi um cara que tá ajudando a gente... é, montando um
escritório aí, com aquele delegado Francischini, bancando pra fuder o
governador... e o Francischini tá trazendo – é deputado federal que é
delegado – tá trazendo o título dele para ser candidato a governador.
No dia 16 de abril, Veja publicou a reportagem sobre os espiões
vermelhos. No dia 17, Agnelo representou à procuradoria-geral da
República, solicitando a prisão de Agnelo Queiroz alegando que o
governador teria promovido uma devassa em sua vida. Só não contou que,
três meses antes, reunia-se com o araponga Dadá, que espionava o Buriti.
Leia, abaixo, a reportagem “Espiões Vermelhos”, publicada por Veja em 16 de abril deste ano.
VEJA: Espiões vermelhos
16/04/2012
O Ministério Público descobre que o governo petista de
Brasília criou uma repartição para investigar aliados, adversários
políticos, promotores e jornalistas
Rodrigo Rangel
Desde que assumiu o cargo, no ano passado, o governador do Distrito
Federal, o petista Agnelo Queiroz, vive enredado em denúncias. Já vieram
à tona irregularidades dos tempos em que era ministro do Esporte do
governo Lula, acusações de cobrança de propina quando era diretor da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, agora, conluio
entre seu gabinete e os negócios do contraventor Carlinhos Cachoeira.
Agnelo é investigado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Em todos
os casos, ele jura inocência e repete que tudo não passa de perseguição
política, porque estaria tentando livrar a capital do país de uma rede
de corrupção montada por antecessores. O esforço do governador para se
afastar dos problemas, no entanto, parece ter extrapolado muito qualquer
tática defensiva. Agnelo resolveu investigar clandestinamente seus
acusadores, um velho hábito do PT para tentar se safar de denúncias de
corrupção a partir da destruição do acusador. Estão no rol do governador
políticos, promotores e jornalistas.
A ação ilegal de arapongas a serviço do governador está sob
investigação do Ministério Público do Distrito Federal. Policiais
militares formalmente lotados no palácio do governo, a poucos metros de
seu gabinete, violaram sistemas oficiais de informações, inclusive da
Receita Federal, para levantar dados sobre alvos escolhidos pelo
gabinete do governador.
A bisbilhotagem, até onde os investigadores já
descobriram, começou no fim do ano passado e teve como vítima o deputado
Federal Fernando Francischini, do PSDB do Paraná. Delegado da Polícia
Federal, Francischini tornou-se inimigo de Agnelo depois de defender
publicamente a prisão do governador com base em documentos que
comprovariam uma evolução patrimonial incompatível com os vencimentos do
petista.
A partir daí, começaram a circular em Brasília dossiês com
detalhes da vida privada do deputado, que registrou queixa na policia. O
Ministério Público, então, passou a investigar a origem das informações
que constavam nos dossiês. Para identificar os responsáveis, foram
feitos pedidos de informações a órgãos que gerenciam os bancos de dados
oficiais.
As primeiras respostas vieram do Ministério da Justiça, que mantém
sob sua guarda o Infoseg, sistema que reúne informações sobre todos os
brasileiros - desde números de documentos pessoais até endereços e
pendengas com a Justiça. Abastecido pelas Polícias do país e protegido
por sigilo, o sistema só pode ser aberto por funcionários autorizados em
investigações formais.
Cada acesso deixa registrada a senha de quem fez
a consulta. Seguindo esse rastro, os investigadores descobriram o nome
de dois policiais militares de Brasília que haviam consultado
informações sobre o deputado Francischini no fim do ano passado,
justamente no período em que o parlamentar fez as denúncias contra o
governador.
Responsáveis pela arapongagem, o subtenente Leonel Saraiva e
o sargento Itaelson Rodrigues estavam lotados na Casa Militar do
Palácio do Buriti, a sede do governo do Distrito Federal. Detalhe: as
consultas haviam sido feitas a partir de computadores do governo
localizados dentro do palácio.
Identificados os dois militares, o passo seguinte foi conferir no
sistema as outras fichas consultadas por eles. Descobriu-se que os
policiais haviam violado informações sobre mais de vinte indivíduos,
todos desafetos do governador.
Uma das vítimas foi o promotor de Justiça
Wilton Queiroz de Lima, coordenador do Núcleo de Inteligência do
Ministério Público de Brasília e responsável por algumas das principais
investigações que envolvem a gestão de Agnelo.
A lista inclui
jornalistas cujas reportagens descontentaram o governador. Para surpresa
dos investigadores, os arapongas violaram dados até de aliados, como os
do vice de Agnelo, o peemedebista Tadeu Filippelli.
A mesma sorte teve o
chefe de Polícia da capital, Jorge Xavier, que foi seguido e filmado
pelos arapongas. No caso do deputado Francischini, a investigação indica
que as violações se estenderam aos sistemas da Receita Federal.
Dados
cadastrais do parlamentar guardados nos arquivos do Fisco foram
consultados, no mesmo período, a partir de uma senha de uso exclusivo do
governo do Distrito Federal.
Na quinta-feira, VEJA localizou um dos arapongas em pleno expediente
no palácio. Ao ser indagado sobre a função que exerce no governo, o
subtenente Saraiva silenciou. Sobre os dados pesquisados ilegalmente,
saiu pela tangente: "Eu nem tenho acesso a isso". Já o sargento Itaelson
não foi localizado. Coube a outro policial militar, lotado numa das
entradas do palácio e conhecido dos arapongas, a confidência sobre a
real atividade da área em que trabalham: "É o setor de inteligência".
Os
dois militares foram nomeados no fim do ano passado, em atos assinados
pelo próprio Agnelo para cargos comissionados na Subsecretaria de
Operações da Casa Militar do governo.
Eles obedecem ao comando do
coronel Rogério Leão, especialista em inteligência, que trocou a área de
segurança da Presidência da República pelo governo do Distrito Federal
assim que Agnelo tomou posse.
O coronel Leão é apontado pelos
investigadores como um dos chefes do grupo de espionagem, ao lado de
Cláudio Monteiro, agente aposentado da Polícia Civil que era chefe de
gabinete de Agnelo até terça-feira.
Monteiro foi afastado após virem a
público suspeitas de que ele mantinha relações heterodoxas com o grupo
de Carlinhos Cachoeira.
A VEJA, o coronel Leão admitiu que foram feitas pesquisas sobre
Francischini e as atribui uma norma que ele próprio baixou: "A ordem
aqui é para levantar informações sobre todas as pessoas,
independentemente de quem sejam, que atentam contra a integridade do
governador".
O coronel diz que, no caso do deputado, os dados foram
levantados porque ele teria convocado uma manifestação contra Agnelo
num shopping de Brasília. "A gente pesquisa pessoas e não sabe se é
deputado ou não. Afinal, são mais de 500 deputados federais em Brasília.
Nesse caso, não havia informação de que ele é deputado", afirmou.
Ele
negou ter conhecimento de relatórios sobre promotores e, a respeito de
jornalistas, disse saber apenas de algumas "pesquisas" acerca de Edson
Sombra, um dos pivôs da queda de José Roberto Arruda e titular de um
blog com críticas ferrenhas a Agnelo.
O vice-governador Filippelli disse
que nunca soube da existência do grupo de inteligência e que pedirá
"esclarecimentos oficiais" sobre o assunto. Já o governador Agnelo
declarou que nunca foi informado sobre pesquisas envolvendo políticos,
promotores e jornalistas.
O governador afirmou ainda que, se houve
violação das normas dos serviços de inteligência, ele tomará as
providências cabíveis.
Fonte: Brasília 247 - 30 de Abril de 2012 às 09:40