Vannildo Mendes, de O Estado de S.Paulo
Receoso de que tenha sido bisbilhotado dentro do próprio governo do
Distrito Federal, o vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB) decidiu
nesta sexta-feira, 27, pedir formalmente ao Superior Tribunal de Justiça
(STJ) e à Procuradoria-Geral da República (PGR) explicações sobre a
suposta rede de espionagem ilegal que teria sido montada na Casa
Militar.
A suspeita azedou a relação do governador Agnelo Queiroz (PT)
com o vice, que comanda no DF o principal partido da base aliada.
Segundo denúncias da oposição, um núcleo de inteligência,
supostamente montado pelo coronel Rogério Leão, chefe da Casa Militar do
governador, teria quebrado sigilos pessoais de cerca de 80 pessoas e
grampeado autoridades, jornalistas e políticos – de adversários a
aliados de Agnelo.
Entre eles estariam o deputado federal Fernando
Francischini (PSDB/PR), o jornalista Edson Sombra, que edita um blog
crítico ao governo e o próprio Filippelli, maior beneficiário de um
fracasso de Agnelo.
Filippelli já havia feito a mesma consulta ao Ministério Público
local, que, numa investigação de rotina, teria descoberto a existência
de uma rede de grampos no Palácio do Buriti. Mas, diante de resposta
ambígua, recebida nesta sexta, ele resolveu recorrer às instâncias
federais.
“Prefiro não acreditar que algo tão absurdo tenha acontecido”, disse o
vice por meio de nota. Ele alega que desconhece a existência do núcleo
de inteligência, mas por uma questão institucional e para preservar o
governo, decidiu dirimir a dúvida.
Na resposta que deu à consulta, o MP do DF alega que não há “nenhuma
investigação em curso que envolva as notícias” relacionadas à rede de
espionagem. Mas ressalva que, por ser governador, Agnelo goza de foro
especial no STJ e na PGR. Uma vez que os fatos divulgados na imprensa
implicam o governador, anota a instituição, “a atribuição para instaurar
procedimento administrativo investigatório é do próprio Ministério
Público Federal”.
CPI - A suspeita da rede de espionagem, objeto de uma
CPI instalada na Câmara Distrital, começou depois que Francischini, que
é delegado federal, descobriu que seus dados foram acessados no Infoseg
– rede protegida de dados de Segurança Pública dos cidadãos de todo o
País, administrada pelo Ministério da Justiça – por dois militares
ligados ao coronel Leão.
Pelo porta-voz, Ugo Braga, o governador negou as acusações e disse
que sua relação com Filippelli é respeitosa e baseada na confiança
mútua.
Principal suspeito de comandar a rede, o coronel Leão informou que os
dois militares “fizeram consultas legais e devidamente identificadas”
ao Infoseg sobre Francischini e Sombra porque eles “haviam convocado ato
público e incitado a população a destruir casa comercial de familiares
do governador, que são alvos de proteção legal”.
Francischini pediu a prisão do governador por causa do incidente. O
governador já responde a inquérito criminal no STJ e virou alvo também
das atenções da CPI do Cachoeira, que investiga ligações de autoridades
do seu governo com a organização criminosa desmantelada pela Operação
Monte Carlo. Desde o início do governo, a relação entre Agnelo e
Felippelli é de discreta desconfiança.
Os dois sempre nutriram distância política, mas fizeram uma aliança eleitoral forçada em 2010 por causa da coalizão nacional.
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