Desafiado pelo presidente nacional do PSDB e pré-candidato a
presidente, Aécio Neves (MG), a se posicionar sobre suas pretensões para
2014, o ex-ministro José Serra disse ontem em Brasília que pode
disputar as prévias para escolha do candidato do partido, mas precisa
antes conhecer as regras para esta eventual disputa. A resposta de Serra
foi dada um dia depois de Aécio anunciar que aceita as prévias, numa
estratégia para forçá-lo a dizer se brigará para ser candidato no PSDB
ou se deixará o partido para disputar por outra legenda.
Serra disse que ficou sabendo pelos jornais da proposta de Aécio e que
não tinha conhecimento de que o senador mineiro apoiava a consulta
interna. E insinuou ainda que, dependendo das regras adotadas, o
presidente do partido pode ter condições privilegiadas na disputa:
- Embora ele seja candidato, ele está falando como presidente do
partido. Nesse sentido, eu gostaria de saber quais são as condições
dessas prévias: me refiro à abrangência, número de pessoas, tipo de
participação, qual a taxa democrática, prazos, condições de
competitividade que, evidentemente, deveriam ser iguais entre todos.
Esclarecido isso, é possível que eu seja candidato à Presidência da
República. O senador Álvaro Dias pode também se inscrever de acordo com
as regras que sejam propostas.
Alfinetando o mineiro, Serra sinalizou que está entrando na briga para
valer e disse que é preciso saber se as regras não serão uma simulação
de consulta:
- Não cabe a mim agora falar de regras. No momento, eu não entro nesse
debate. O Aécio falou como presidente do partido. Ele tem essa dupla
condição. Então, cabe explicitar as ideias e as propostas de maneira
precisa. Certamente vão ser propostas boas, não vão ser propostas
restritivas só para parecer que está simulando uma consulta.
Serra foi a Brasília, oficialmente, para encaminhar à bancada tucana
uma proposta de aumento de vinculação de recursos da União à Saúde. A
reunião foi no gabinete do líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes (SP). O
gabinete fica a poucos metros do plenário, onde Aécio estava votando.
Avisado da presença do ex-ministro, Aécio primeiro foi direto para seu
gabinete. Mas, logo em seguida, retornou e, de surpresa, apareceu na
reunião de Serra. Ficou menos de cinco minutos e o "abraço" sequer foi
registrado em fotos.
Perguntado se tinha cobrado de Serra uma resposta sobre as prévias, Aécio disse que foi apenas dar um abraço:
- Já falei o que tinha de falar sobre isso, agora vou trabalhar, cuidar
da vida. Assediado pelo PPS, Serra tem negociado com o presidente do
partido, Roberto Freire(SP), mas até agora não tinha dado uma resposta
ao PSDB se sai ou fica. Desde a última pesquisa Datafolha, em que
aparece num dos cenários com 14% das intenções de votos, o grupo
político de Serra, principalmente do diretório de São Paulo, tem se
manifestado a favor das prévias.
A discussão em torno do modelo de prévias para a escolha do candidato
do PSDB tem oposto novamente tucanos paulistas e mineiros. Os aliados de
Aécio Neves defendem que a consulta tenha a participação apenas
daqueles com direito a voto na Convenção Nacional. Os aliados de Serra
são favoráveis à participação de todos os filiados à legenda.
Ao aumentar o leque de eleitores, a estratégia dos serristas é
neutralizar o favoritismo de Aécio entre as lideranças da sigla. Ontem, o
governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, deu mais força ao pleito de
Serra e defendeu que a consulta seja a mais ampla possível.
- Eu entendo que quanto mais for ampliada a consulta, melhor. Aquele
que for escolhido por uma prévia, tem mais legitimidade e une mais o
partido.
A avaliação do comando tucano é que o partido não está preparado para
fazer uma consulta com todos os filiados a tempo para o pleito nacional.
A estimativa é de que a legenda tenha hoje 1,3 milhão de filiados e 1,5
mil convencionais, que incluem delegados, vereadores, prefeitos,
deputados, senadores, entre outros.
Fonte: O Globo - Por Marina Lima, Gustavo Uribe e Silvia Amorim
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