Após
firmarem aliança histórica a fim de disputar o Governo do Distrito
Federal em 2010, parceria entre o PT e o PMDB não está assegurada no
próximo pleito. Com apoios de peso, o vice-governador estuda lançar
candidatura própria
Agnelo e Filippelli uniram forças e garantiram vitória no 2º turno das últimas eleições: acordo repensado |
PT e PMDB, os dois principais partidos da base do governo Agnelo
Queiroz, protagonizaram no passado a disputa entre azuis e vermelhos que
rachou o eleitorado do Distrito Federal. Em nome do pragmatismo
político, as duas legendas dividiram o mesmo palanque em 2010,
derrotaram os adversários em comum e administram juntas a capital do
país. E 2014? A próxima campanha é uma incógnita. Muitos fatores impedem
a renovação da aliança entre os dois grupos, o que levaria a uma
polarização dentro da mesma administração. O vice-governador Tadeu
Filippelli (PMDB), incentivado por analistas, marqueteiros, pesquisas de
opinião, aliados e correligionários, já cogita encabeçar uma chapa
contrária à reeleição de Agnelo.
Entre os petistas, uma nova aliança com o PMDB é dada como certa. Mas,
entre os peemedebistas, a coisa é bem diferente. A falta de uma
candidatura consistente entre os adversários de Agnelo reforça o
sentimento entre os aliados de Filippelli de que ele jamais terá uma
chance tão grande de concorrer em pé de igualdade com o PT. A
perspectiva é de que o vice-governador consiga unir os discípulos de
dois nomes que aparecem nas pesquisas como donos de uma base eleitoral
forte, os ex-governadores Joaquim Roriz e José Roberto Arruda. Ambos
mantêm fiéis seguidores, mas enfrentam dificuldades jurídicas para
concorrer ao próximo pleito.
Mesmo que a presidente Dilma Rousseff (PT) e o vice, Michel Temer
(PMDB), façam uma nova dobradinha na chapa presidencial, o lançamento de
candidaturas peemedebistas próprias em vários estados já é uma
realidade. É o caso das unidades da Federação em que o PMDB já governa,
como Rio de Janeiro, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e
Maranhão, além de localidades em que o partido tem tradição política,
como Rio Grande do Sul e Bahia. “Tenho convicção de que ambiente onde
falte a liturgia política, o PMDB nacional não impediria — não só aqui —
o nascimento de uma candidatura própria”, afirma Filippelli.
O Distrito Federal foi incluído na lista, embora essa possibilidade
seja tratada publicamente com discrição e cuidado para não criar um
constrangimento com Agnelo. O vice-governador evita dizer que poderá ser
candidato, mas não esconde que, na condição de presidente regional do
PMDB, tem conversado com muita gente. “Só podemos falar em candidatura
após as partes conversarem. Da mesma forma que existem fatos positivos,
há fatos negativos que precisam ser bem cuidados”, explica.
Responsável pela montagem da nominata do PMDB para as próximas
eleições, o deputado Rôney Nemer tem se reunido com vários potenciais
candidatos e dito que o partido será cabeça de chapa. Esse cenário tem
animado os prováveis concorrentes a vagas proporcionais na esperança de
que, dessa forma, com um puxador de votos, as chances para a Câmara
Legislativa crescem. “Há quem ache que a aliança foi de sucesso, mas que
é hora de seguirmos o nosso caminho. Há quem diga que não foi uma boa
aliança e defenda um rompimento. O fato é que, onde vamos, ouvimos de
eleitores e de aliados que o PMDB deve lançar candidato a governador”,
diz Nemer, o deputado distrital mais próximo do vice-governador. “Mas
essa decisão será do próprio Filippelli e vamos respeitar qualquer que
seja”, acrescenta.
Nos últimos meses, Filippelli tem analisado pesquisas. O nome dele não
aparece como campeão de votos, mas a avaliação é de que há muito a ser
trabalhado numa campanha. O PMDB é um partido com capilaridade, tem
estrutura, e o vice-governador sempre transitou bem no setor produtivo,
característica que pode fazer a diferença no financiamento da campanha.
Nos últimos tempos, Filippelli até mesmo ensaiou uma volta ao passado.
Um encontro com o ex-mentor político, Joaquim Roriz, foi uma espécie de
anúncio público de que os dois selaram as pazes. Um aliado dos dois
contou ao Correio que soube do encontro 15 dias antes do acontecimento.
“Foi tudo acertado para criar um fato político”, conta. Entre
rorizistas, o sentimento é de que o ex-governador já superou as
desavenças do passado, quando teve de deixar o PMDB, derrotado por
Filippelli, para ser candidato nas últimas eleições. “Dona Weslian ainda
tem restrições, mas Roriz já deixou o episódio para trás”, revela um
interlocutor do ex-governador que se recupera de uma cirurgia no
coração.
Por Ana Maria Campos
Sucessão de 2018 na mira
O principal trunfo dos petistas para manter a aliança com o PMDB é a
possibilidade de, em caso de vitória da chapa, o vice-governador Tadeu
Filippelli assumir o governo durante nove meses em 2018, e concorrer à
reeleição. Agnelo Queiroz (PT) deverá disputar algum cargo público,
provavelmente o Senado, e entregará o poder para o vice. Essa é uma
situação que não pode ser desprezada. Filippelli será governador, com a
ajuda do PT. Não é pouca coisa%u201D, afirma o líder da bloco PT-PRB na
Câmara Legislativa, deputado distrital Chico Vigilante.
Entre aliados de Filippelli, no entanto, há um receio de que a
convivência entre PT e PMDB se transforme numa guerra depois das
eleições de 2014. Com a eventual nova posse de Agnelo Queiroz, em
janeiro de 2015, começará o trabalho de construção de uma candidatura
petista à sucessão. Entre os nomes cotados estão o secretário de
Habitação, Geraldo Magela, e o deputado distrital Chico Leite (PT), caso
consiga concorrer e se eleger senador no ano que vem. Pode também
surgir alguma novidade entre os principais aliados de Agnelo, como o
secretário de Saúde, Rafael Barbosa, que está filiado ao partido.
Inicia-se, assim, uma corrida pela viabilização de nomes nas legendas
da base de Agnelo. No PMDB, há uma total descrença de que Filippelli
terá o apoio de petistas numa eventual candidatura ao Palácio do Buriti
no futuro. O espaço que detém hoje no Executivo, acreditam
peemedebistas, dificilmente será preservado. Hoje, Filippelli coordena
as áreas de infraestrutura e transporte, mas se ressente de não levar os
louros. O vice-governador nunca participa das reuniões sobre
estratégias do Executivo e dos eventos mais populares. Sobre falhas na
relação entre PT e PMDB, ele resume: Posso garantir uma coisa: não é
espaço. Não é tamanho de responsabilidade do governo. Apenas uma forma
de convivência e respeito.
Pitiman pede para sair do PMDB
Na possível ocupação de espaço na oposição à segunda candidatura de
Agnelo Queiroz (PT), o deputado federal Luiz Pitiman (PMDB) é um rival
do vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB). O parlamentar entrou ontem
com um pedido no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de justa causa para
se desfiliar do partido, sem incorrer na regra de infidelidade
partidária que pode levar à cassação do mandato. Caso a Justiça concorde
com os argumentos de Pitiman para mudar de legenda, ele vai trabalhar
em busca de espaço para concorrer a um mandato de governador.
Na petição protocolada ontem, Pitiman alegou incompatibilidade política
com o PMDB. Depois de deixar a Secretaria de Obras em 2011, ele se
tornou um crítico do governo Agnelo. Migrou, assim, para a oposição. Ele
nunca escondeu disposição de disputar o Palácio do Buriti. Nos últimos
meses, elevou o tom das críticas e se diz censurado pelo PMDB na
intenção de veicular nas inserções do partido a posição sobre a
administração petista no DF. Caso consiga sair da legenda, Pitiman
deverá se filiar no PP, PSD ou PSDB. Ele tem conversado com líderes
desses partidos no Congresso, como o senador Ciro Nogueira (PP-PI), o
ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) e o senador Aécio Neves
(PSDB/MG).
O processo de Pitiman será distribuído a um ministro do TSE para
deliberação no plenário. O prazo fatal para o parlamentar, no entanto, é
5 de outubro, data em que deverá estar filiado a algum partido para
concorrer às próximas eleições. Nesse período, pouco mais de quatro
meses, Pitiman deverá tomar uma decisão. Os advogados do deputado citam
três precedentes favoráveis. É o caso dos deputados Sandro Mabel (GO),
que deixou o PR pelo PMDB, e de Izalci Lucas (DF), que mudou do PR para o
PSDB. Eles não foram punidos. Também ocorreu com o distrital Cláudio
Abrantes, que migrou do PPS para o PT e manteve o mandato. Se a decisão
do TSE for negativa, ele terá de decidir se concorrerá ao governo mesmo
com uma cassação.
Fonte: Correio Braziliense
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