O Diário Oficial é o mais obscuro território da administração pública. Ele se nutre de sombra como uma planta de luz. Chama-se Luiz Felipe Denucci a penúltima manifestação da anti-fotossíntese.
Denucci presidia a Casa da Moeda, pedaço da administração pública assentado no Ministério da Fazenda. Aqui e ali pipocavam no colo dele pequenas suspeições. De repente, um estrondo.
Empresas abertas em paraísos fiscais. Espanto! Em nome de Denucci e da filha Daniela. Assombro! Movimento de US$ 25 milhões. Pasmo! Dinheiro provido por fornecedores da Casa da Moeda. Estupefação!
Ao saber que o barulho viraria manchete, Mantega mandou Denucci ao olho da rua. Descobriu-se que o ministro já sabia que convivia com um auxiliar de alta octanagem. Dera de ombros.
Consumado o estrondo, Mantega grita, na boca do palco: “Eu não conhecia essa pessoa, o Luiz Felipe [Denucci], nunca tinha visto. Recebi o currículo da mão do Jovair Arantes [líder do PTB na Câmara].”
Na véspera, o deputado cassado Roberto Jefferson (RJ), presidente do PTB, afirmara coisa diferente: “O Mantega chamou o Jovair e pediu um aval. Ele não é do PTB. Ele é do Mantega. O PTB fez um favor ao Mantega e se deu mal.”
O ministro esforça-se para desdizer Jefferson. Sustenta que, tempos depois da fatídica nomeação, “o próprio Jovair Arantes manifestou desejo de trocar o indicado, pois não estava correspondendo às expectativas dele.”
O caso exige que sejam consideradas todas as hipóteses. Na melhor das hipóteses, Mantega colocou na presidência da estratégica Casa da Moeda uma pessoa que não conhecia, indicada por um deputado que, por obscuro, o país desconhece.
Na pior das hipóteses, é Jefferson quem diz a verdade. O PTB fez um “favor” a Mantega, converteu-se em barriga de aluguel de Mantega e deu-se mal. E mambas as hipóteses, o escândalo pariu um órfão. Afinal, quem pariu Denucci?, eis a interrogação que lateja.
De concreto, por ora, apenas uma certeza: o governo leva o fisiologismo a sério. No entusiasmo, esquece de maneirar. Já se sabia que a Casa da Moeda fazia dinheiro. Descobre-se agora que a produção é insuficiente para atender toda a clientela.
Mantega tranquiliza a nação. “Uma comissão de sindicância” vai analisar a encrenca. “Além disso, o Ministério Público também está apurando.” Não se sabe onde a investigação vai dar. É provável que conclua: Luiz Felipe Denucci era um gestor egoísta.
Vale a pena repetir um trecho de Mantega: “O próprio Jovair Arantes manifestou desejo de trocar o indicado, pois não estava correspondendo às expectativas dele.”
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