Dono de agência afirma que Youssef repassou R$ 3,5 milhões por serviços prestados ‘sem contrato’ à estatal; empresa não comenta
O
dono da agência de marketing Muranno Brasil, Ricardo Vilani, confirmou
em entrevista ao Estado que o doleiro Alberto Youssef, um dos
personagens centrais da Operação Lava Jato, fez pagamentos a sua empresa
em nome da Petrobrás. Vilani nega, porém, que tenha recebido os valores
- R$ 3,5 milhões no total, ele diz - para evitar que revelasse, em
2010, o esquema de desvios na estatal petrolífera. Vilani afirma que
prestou serviços à Petrobrás no exterior, num acordo sem assinatura de
contrato, e queria apenas receber o que lhe era de direito.
A Polícia Federal coloca a Muranno no rol das empresas que receberam
dinheiro desviado das obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. O
nome da agência fazia parte da contabilidade secreta de Youssef. A PF
diz que parte do dinheiro que passava pela conta da agência era
destinada ao pagamento de propinas para políticos e agentes públicos.
A Muranno aparece ainda no depoimento de Youssef da delação premiada. O
doleiro afirmou que integrantes da agência de marketing estavam
ameaçando revelar o esquema de desvios na estatal caso não recebessem um
dinheiro devido. Nesse trecho do depoimento, Youssef cita o nome do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No relato do doleiro, Lula
ficou sabendo das ameaças e ordenou o então presidente da estatal, José
Sergio Gabrielli, a “resolver essa merda”. Ainda segundo Youssef,
Gabrielli acionou o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa,
outro personagem central no escândalo, e este resolveu o problema.
Youssef não apresentou provas do relato.
Gabrielli nega com veemência a versão do doleiro. Lula não comenta o assunto.
Serviço.
O dono da agência nega ter conhecimento do esquema de desvios
da Petrobrás via Youssef. Nega também a ameaça de revelar esse
esquema.“A Muranno fez alguns trabalhos para a Petrobrás. Ele (o
doleiro) se
apresentou como assistente do Paulo Roberto e que estava lá para tentar
me ajudar a receber (a dívida)”, declarou Vilani ao Estado.
Os serviços de marketing para a Petrobrás foram feitos, segundo o
empresário, entre 2006 e 2009. A Muranno, contou Vilani, fez eventos
para divulgar o etanol brasileiro em etapas da Fórmula Indy, nos Estados
Unidos. O trabalho consistiria, disse, em chamar empresários para os
eventos, nos quais a estatal apresentava seus produtos visando à
exportação. O convite para prestar os serviços, afirmou, foi feito pelo
então gerente de Álcool e Oxigenados da Petrobrás, Sillas Oliva.
Porém, parte dos valores acertados sem contrato não foi paga, segundo afirmou o empresário.
“Nunca fiz contrato com ninguém”, afirmou, explicando que apenas apresentava notas à “Petróleo Brasileiro S/A”.
Segundo o empresário, a dívida da estatal com a Muranno seria de R$ 5
milhões. Em 2009, época da CPI da Petrobrás, um funcionário da companhia
destacado para levantar documentos e descobrir eventuais problemas no
setor de comunicação, como o fornecimento de notas frias, o procurou.
Foi quando Vilani pediu “ajuda” para receber a dívida.
Depois disso, conseguiu uma audiência com Costa na Diretoria de Abastecimento.
Na sequência desse diálogo, o empresário contou que foi procurado por
Youssef, conhecido como “Primo”, que o chamou para “um café” em São
Paulo e acertou os pagamentos. “Um dia, toca meu celular, um número que
eu não conhecia: ‘Olha, estou aqui, quero resolver o negócio da
Petrobrás’. É o Primo”, relatou.
Sem resposta. A Petrobrás não se pronunciou até a conclusão desta
edição. Questionado se convidou a Muranno para prestar serviços à
estatal, Sillas Oliva reagiu, por telefone: “Desconheço”. Ele pediu que
questionamentos fossem enviados por e-mail, mas não os respondeu.
Fonte: O Estado de S.Paulo por Fábio Fabrini, Andreza Matais e Ricardo Brandt.
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