Depois de atingir quase 40% das intenções de voto, Arruda é derrotado no TSE e vê sua candidatura próxima do insustentável .
Folha corrida: As encrencas do político
› Violou o painel eletrônico do Senado e perdeu o mandato em 2001.
› Foi deposto do Buriti, depois de filmado recebendo maços de dinheiro.
› Tornou-se o primeiro governador preso, por obstruir investigações policiais.
› Foi condenado em segunda instância por improbidade administrativa.
› Antes de ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa pelo TSE, foi exposto em vídeo contabilizando votos de ministros.
Concorrente ficha-suja: aliados vão pressioná-lo a desistir
Duas das estatuetas mais cobiçadas na entrega de um Oscar são a de ator
principal e a de diretor. No filme de suspense da eleição para o
governo do Distrito Federal, o candidato José Roberto Arruda (PR) pode
concorrer em ambas as categorias. Dono de quase 40% das intenções de
voto, ele protagoniza uma campanha de sucesso com boa parte dos
eleitores, ainda que envolvida numa enorme insegurança jurídica. Na
última terça (26), essa briga lhe rendeu uma punhalada irremediável: o
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o impediu de seguir no pleito. Arruda é
um ficha-suja. Diante desse enredo, integrantes de sua coligação falam
em desistir do ator principal e mantê-lo apenas como um líder por trás
das câmeras. E já deram prazo até o dia 10 para ele reverter sua
situação com a lei.
Desde o início da atual campanha, as encrencas de Arruda com a Justiça
sempre mantiveram sua candidatura por um fio. Condenado por improbidade
administrativa em duas instâncias, suas atuais sentenças o ligam ao
maior esquema de corrupção já revelado no DF. Nessa trama, documentada
em ampla filmografia, o político aparece recebendo propina das mãos de
Durval Barbosa, articulador da saga de distritais que vendiam apoio ao
governo. Os episódios seguintes foram a implosão da cúpula
governamental, a prisão do ex-chefe do Executivo, a depressão e o
ostracismo em São Paulo. Neste ano, Arruda reapareceu na cena candanga.
Mais magro e bem-disposto, cercado por medalhões do mundo jurídico e
obstinado em retomar o poder, ensaiou seu retorno. Sedutor, com uma
lábia maior do que sua ficha corrida, conseguiu sócios para uma
superprodução. Juntou-se a Joaquim Roriz, a quem considerava inimigo em
2010, e acertou um pacto com o senador Gim Argello (PTB). Candidato à
reeleição na chapa do ex-governador, o petebista é considerado um
'sem-voto' ele era suplente de Roriz. Apesar disso, ostenta o requisito
mais importante na arena eleitoral: dinheiro. Só dentro de casa, Argello
acumula 800 000 reais em espécie. Muito para a maioria dos mortais, mas
um troco para as cifras milionárias cobradas pelos escritórios de
advogados que trabalham em favor de Arruda.
Bombardeado pelo complexo momento jurídico do ex-governador, esse tripé
eleitoral apresentou sua primeira grande rachadura pública nesta
semana. Poucas horas antes de ser julgado no TSE, Arruda foi
surpreendido com uma gravação clandestina. Nas imagens, ele contabiliza
votos de ministros do Judiciário. O conteúdo é fraco, mas o seu efeito
deixou ainda mais sombrio o ambiente já desfavorável ao combalido
candidato do PR. Antes da degola política na corte, ele sentiu a traição
de alguns dos seus aliados. Quem gravou o vídeo foi Eri Varella,
advogado e amigo de Joaquim Roriz.
Toda essa intrincada história pode promover Gim Argello à condição de
cabeça de chapa. Uma das hipóteses desenhadas no grupo é fazer do
senador o plano B na corrida ao Buriti. Nesse caso, já se especula que
Arruda assumiria a coordenação-geral da campanha. Ele ainda poderia ser
contemplado com a presença da mulher, Flávia, que herdaria o posto de
vice. Mas há outros scripts. Num deles, Jofran Frejat (PR), hoje
candidato a vice, lideraria a chapa. Luiz Pitiman, concorrente do PSDB
ao governo, fez sua tentativa. Ligou para assessores do ex-governador se
oferecendo como capitão do epílogo. O presidente da Fecomércio, o
ex-senador Adelmir Santana (DEM), também foi sondado. Toda essa
movimentação na coxia se deu enquanto Arruda, no palco, insistia em
manter-se na disputa. Avisou que recorrerá no Supremo Tribunal Federal
(STF) e, até lá, permanece candidato. Seu grupo, no entanto, já deu
sinais de que vai pressionar. Em reunião na quarta (27), aceitou
apoiá-lo até o prazo limite de votação de um recurso especial no
Superior Tribunal de Justiça (STJ). Os advogados de Arruda confiam em
que ele conseguirá manter-se no pleito se sair vitorioso nessa corte.
Todavia, a paciência pode diminuir se a investida do procurador-geral
eleitoral, Rodrigo Janot, for bem-sucedida. Também na quarta (27), ele
pediu ao TSE o impedimento imediato de Arruda na campanha.
Com o político do PR praticamente abatido e o governador Agnelo Queiroz
(PT) em queda nos levantamentos de intenção de voto, um coadjuvante
pode roubar a cena na disputa. Rodrigo Rollemberg (PSB) começou fazendo
ponta, mas está ganhando espaço — sua rejeição é baixíssima (5%). Nas
pesquisas, empatou com o petista. Membro do partido que surfa na comoção
pela morte de Eduardo Campos (PSB), o socialista vai colar em Marina
Silva. No cada vez mais imprevisível cenário político do DF, ele pode,
quem diria, ser o grande vencedor do Oscar eleitoral.
Fonte: Por Lilian Tahan e Ullisses Campbell - Revista Veja Brasília.
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