João
Cláudio Genu, ex-assessor da liderança do PP, pede que Alberto Yousseff
cumpra compromisso e diz: "Vou até as últimas consequências"
A complexa engenharia criminosa do mensalão implodiu há quase nove
anos, quando o então deputado Roberto Jefferson denunciou a existência
da rede de corrupção. Mas alguns personagens do esquema continuaram em
ação muito tempo depois de a engrenagem principal ter sido desfeita.
Na época do escândalo, João Cláudio Genu era chefe de gabinete da liderança do PP na Câmara. Ele foi responsável por sacar recursos do valerioduto para José Janene, líder do partido. Em troca, o PP asseguraria o apoio da sigla ao governo Lula. O escândalo veio à tona em 2005. Genu deixou o cargo em 2007. Em 2010, Janene morreu. Em 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) começou a proferir as sentenças do caso do mensalão. Ainda assim, o ex-assessor continuou tratando de negócios não-republicanos.
Em fevereiro de 2013, Genu enviou um e-mail ameaçador ao doleiro
Alberto Yousseff, que, segundo a Polícia Federal, lavou o dinheiro
obtido pelo núcleo do PP no mensalão. O doleiro tem um longo histórico
de participação em episódios desabonadores da República – o último deles
é a suspeita de ter pago propina a Paulo Roberto Costa, então diretor
da Petrobras. E foi pelas mãos do deputado Janene que Yousseff se
aproximou de Costa.
O doleiro tinha em Genu um intermediário para o contato com
autoridades. Mas, especialmente após a morte de Janene, ele parece ter
prescindido do antigo aliado. Passou a atuar diretamente com figuras
poderosas.
Yousseff já não dependia de Genu. E, segundo a queixa do ex-assessor do
PP, também não quitou dívidas assumidas com o antigo parceiro. É
justamente esse o assunto do e-mail enviado por Genu e interceptado pela
polícia. “O que está acontecendo? Não tenho tido sucesso nas coisas que
você trata comigo. Não entendo muito bem porque sempre procurei te
respeitar e considerar. Ainda quando o finado [referência a Janene,
segundo os relatórios da PF] estava entre nós, a forma de aproximação
era grande, o agrado era de todo jeito, se falava em amizade e tudo
mais. Mas ele se foi e tudo que ouvia era da boca p [para] fora.”
"Você se aproximou do PR. Não tenho ciúme, mas me sinto traído. Você se
aproximou das pessoas boas e poderosas que te apresentei, também não
sinto ciúme, mas também me sinto traído. Tudo que fizemos e que você
ficou de honrar o que me é de direito tem sido postergado a [sic] quase
dois anos. Não compreendo. Hoje está poderoso, cortejado por todos,
resolve tudo para todos. Mas eu não quero nada, só o que me é devido.
Não consigo mais ter confiança em nada que é tratado comigo”", afirmou o
ex-assessor. PR, dizem os investigadores, é Paulo Roberto Costa, o
ex-todo-poderoso diretor de Abastecimento da Petrobras que foi preso com
Youssef na Operação Lava-Jato, deflagrada na semana passada pela
Polícia Federal.
No fim da mensagem, Genu escreve em tom de ameaça: “Não vou deixar
barato. O que você está fazendo é muita sacanagem. As realidades,
angústias e problemas de cada um de nós são diferentes, mas precisam ser
respeitados. Lembre, qualquer problema é muito ruim tanto para você
quanto para mim". Ele prossegue: "Vou até as últimas consequências".
Caixa - Segundo a Polícia Federal, Youssef formou um caixa bilionário
de campanha com dinheiro sujo. Empresas controladas pelo doleiro
recebiam dinheiro de empresas com contratos no setor público e em
estatais e o doleiro fazia esse dinheiro girar por seu esquema de
lavagem. Depois, “limpo”, o dinheiro retornava para os donos da propina.
A engrenagem criminosa também incluía remessas ao exterior.
A investigação reúne casos de entrega em dinheiro vivo, inclusive em
Brasília, por meio da rede de lavagem montada por Alberto Youssef. Uma
gravação feita polícia mostra como se dava o fluxo dos recursos de
origem suspeita administrados por Youssef. Em conversa telefônica com um
homem não-identificado, em 12 de novembro do ano passado, o doleiro
autoriza a liberação, na capital federal, de “38 reais” (para os
investigadores, seriam 38 mil reais). Diz o interlocutor de Yousseff:
“Tá na mão aqui, é só ele chegar e receber o dinheiro”. O doleiro afirma
que imediatamente avisaria o destinatário do recurso: “Ele já tá indo
agora”.
Fonte: Rodrigo Rangel e Gabriel Castro - Revista VEJA.
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