Desejo
na Câmara é que Valdemar, Pedro Henry e João Paulo Cunha desistam
dos seus mandatos; apenas José Genoino tem sido poupado
A luta pela própria sobrevivência supera o corporativismo da Câmara dos
Deputados e tem feito com que Valdemar Costa Neto (PR/SP), Pedro Henry
(PP/MT) e João Paulo Cunha (PT/SP), condenados no processo do mensalão,
sofram pressões para que renunciem a seus mandatos assim que tiverem a
prisão decretada. José Genoino (PT/SP) tem sido poupado porque, além de
seu debilitado estado de saúde, é visto pelos pares como o único capaz
de conseguir encampar um discurso de preso político capaz de sustentar
uma absolvição.
Parlamentares de diversos partidos da base aliada disseram ao longo da
semana ao Estado que não há motivo para Valdemar, Henry e Cunha insistam
em salvar seus mandatos porque suas chances para isso são remotas. O
presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB/RN), já afirmou que só
leva os casos a plenário em votação aberta. Proposta sobre o tema ainda
tramita, mas o compromisso de Alves é visto como a pá de cal na
esperança dos condenados. A avaliação geral é de que nenhum deputado vai
se expor em ano eleitoral. Ainda mais naquelas que serão as primeiras
votações de cassação de mandato com voto aberto da história do Congresso
Nacional. Sob essa condição, deputados dizem que votar pela absolvição é
suicídio político.
Além do constrangimento aos colegas, os condenados têm ouvido também a
constatação de que uma absolvição não seria garantia de nenhuma
vantagem. Isso porque no caso Natan Donadon (sem partido/RO), preso
desde junho e com o mandato mantido em agosto com voto secreto, Alves
decidiu por seu imediato afastamento por não ter como comparecer à Casa
devido à prisão. A Secretaria-Geral da Mesa já adiantou que o rito seria
o mesmo no caso dos condenados a regime semiaberto, situação dos
deputados Valdemar e Henry.
O sentimento de autopreservação está presente mesmo nas bancadas do PP e
do PR. Ainda que demonstrem solidariedade aos correligionários
condenados, os parlamentares avaliam que, devido aos constantes
desgastes na imagem da Câmara, a próxima eleição deverá ter um
porcentual alto de renovação e que uma exposição demasiada na defesa dos
colegas, principalmente pelo voto aberto, pode prejudicá-los em suas
tentativas de reeleição.
Desgaste. Mesmo no PT, que tem feito abertamente a defesa dos "seus"
condenados, há divisão sobre a estratégia a ser adotada no caso de
Cunha. Muitos petistas começam a disseminar a ideia de que um processo
de cassação em ano eleitoral pode arrastar ainda mais o desgaste do
partido e comprometer o resultado nas urnas.
O cenário leva em conta ainda outro fator: a alta probabilidade de que,
caso Cunha não renuncie, a bancada feche questão em defesa de seu
mandato. Com o voto aberto, seria mais uma munição para a oposição
atacar os petistas nas bases. Por isso, cresce a ideia de que a
estratégia do partido de "virar a página" do mensalão seja transposta
para a bancada. Ainda que isso custe a renúncia de Cunha.
O parlamentar não se abate com a pressão e garante que continuará no
cargo mesmo se sua prisão vier a ser decretada. Ele acredita que, por
seu bom trânsito na Casa, pode sim ser absolvido. "Não vou renunciar.
Vou levar o meu mandato até o último dia de 2014", disse Cunha. Ele
alterna momentos de otimismo com desilusão. "Eu acho que acabou para
nós, para a nossa geração no PT. Estou levando a vida como Deus deixa",
costuma repetir a quem pergunta sobre seus próximos passos. Como teve o
último recurso aceito, o petista deve ter a sua condenação definitiva
pelo STF somente no próximo ano.
Por meio de sua assessoria, Valdemar diz que não trabalha com a
hipótese de renúncia. O deputado não foi preso porque entrou com embargo
infringente sobre toda a condenação, mesmo tendo direito a questionar
apenas a parte que obriga a Câmara a determinar a perda imediata do
mandato.
Juridicamente, portanto, é a continuidade do cargo que sustenta o
recurso. Apesar disso, aliados afirmam que Valdemar já admite a
possibilidade de renunciar quando for preso.
Henry não quis se pronunciar. Ele já fez comentários na Casa dizendo
que sairia para poupar a família, mas, em outros momentos, manifestou o
desejo de continuar na Câmara por ter sido eleito duas vezes depois de a
denúncia contra ele ter surgido.
Aposentadoria. No caso de Genoino, a estratégia em andamento de
provocar a sua aposentadoria antes da abertura do processo de cassação
do mandato é tida como a mais acertada. Assim, o deputado seria
preservado e a bancada não teria o desgaste de defendê-lo.
Caso a junta médica da Câmara que deve avaliá-lo na semana que vem não
conclua pela aposentadoria imediata, o processo é tido como mais fácil
do que o dos demais parlamentares. Genoino tem uma história de combate à
ditadura militar e a forma como seu caso foi tratado pelo presidente do
Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, que determinou sua
transferência de São Paulo para Brasília e demorou quase uma semana para
conceder a ele prisão domiciliar, abriria a possibilidade de uma
eventual absolvição, na visão de colegas.
Fonte: Jornal Estado de São Paulo
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