Nas Entrelinhas
Não faltam indícios de que teremos uma campanha eleitoral em 2014
duríssima, na qual as denúncias de corrupção protagonizarão o debate
eleitoral, em lugar da discussão sobre as prioridades e os graves
problemas do país — embora todo marqueteiro saiba que esse tipo de
abordagem, no horário eleitoral, tira mais votos do que dá aos
candidatos que a utilizam. O problema é que as chamadas mídias sociais
ocupam cada vez mais espaço no debate político e, nelas, a campanha
eleitoral já começou. Verdadeiros exércitos de blogueiros e internautas
estão se formando para uma guerra virtual que promete ser cruenta e
suja. E que pode também dar o tom da campanha nas ruas.
Nas eleições de 2010, já houve intensas campanhas eleitorais nas redes
sociais, mas esse peso será muito maior agora. As manifestações de junho
passado estão aí para mostrar do que as novas mídias são capazes, em
termos de difusão de informações sobre os candidatos e suas respectivas
campanhas. Não foi à toa que o Congresso limitou a propaganda visual nas
próximas eleições. A grande incógnita é saber o poder de fogo das redes
sociais com os eleitores. A maioria dos atores das manifestações
recentes é avessa aos partidos políticos e, mais ainda, a quem está no
poder. Os mais radicais e descontentes tenderão a votar nulo.
O epicentro dessa disputa nas redes está em São Paulo. O desfecho do
chamado mensalão, que levou à prisão políticos e empresários, esquentou o
debate. São paulistas os mais ilustres petistas condenados pelo Supremo
Tribunal Federal (STF) na Ação Penal 470. Cumpre pena na Papuda o
ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. O deputado José Genoino,
ex-presidente do PT, que também estava lá, passou mal, foi hospitalizado
e agora está em prisão domiciliar provisória, na casa de sua filha, em
Brasília — ainda corre o risco de ter de voltar para cadeia.
O caso de Genoino, em razão de sua saúde frágil, provocou a emoção que
faltava. Os petistas recuperaram a velha combatividade ao se digladiarem
com a oposição nas redes sociais. O presidente do Supremo Tribunal
Federal, Joaquim Barbosa, que executou as sentenças em pleno feriadão da
Proclamação da República, virou o saco de pancadas dos autodenominados
blogueiros progressistas, ao mesmo tempo em que é endeusado pelos
oposicionistas.
O pau de aroeira também está cantando pra cima dos tucanos paulistas e
seus aliados por causa do cartel de empresas do metrô dos trens, que
teria atravessado as administrações de Mário Covas, José Serra e Geraldo
Alckmin. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comanda as
articulações do PT visando a eleição do ministro da Saúde, Alexandre
Padilha, para o governo de São Paulo. O presidente do PT, Rui Falcão,
que é deputado estadual, organiza uma brigada de choque nas redes
sociais para esse embate. É nesse contexto que novas denúncias surgiram
na semana passada, mirando parlamentares que apoiam a reeleição do
governador paulista e alguns de seus secretários.
A denúncia provocou uma nota de protesto do presidente do PSDB, Aécio
Neves (MG), pré-candidato a presidente da República, que ontem pediu o
afastamento do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e do
presidente do CADE, Vinícius Marques de Carvalho, acusando-os de vazar
um documento anônimo que serviu de base para a denúncia de suposto
envolvimento dos políticos tucanos com o cartel do metrô e dos trens.
“Essa nova operação remete à prática nefasta e habitual do PT de se
utilizar de dossiês fajutos para denegrir adversários políticos. O caso
agora é ainda mais grave do que o episódio dos aloprados de 2006, pois
Simão Pedro, José Eduardo Cardozo e o presidente do CADE, Vinícius
Carvalho, são figuras prestigiadas no PT”, acusa.
O ministro Cardozo se defende: “Qual é o papel do ministro da Justiça? É
mandar apurar, com sigilo. Se não faço isso, prevarico”. Segundo ele,
não há uso político do órgão: “O CADE vive hoje uma situação semelhante à
da PF. Quando você investiga aliados, afirma-se que é um órgão que o
ministro e o presidente não controlam. Quando você investiga
adversários, fala-se que é instrumentalização”. Cardozo admitiu, porém,
ter recebido o documento em fim de semana, em sua casa, em São Paulo, de
Simão Pedro (PT), deputado estadual licenciado e secretário de Serviços
da prefeitura de São Paulo.
Supõe-se que o parlamentar também tenha vazado o documento, depois de
esquentá-lo, e que o ministro esteja protegendo o presidente do CADE,
seu subordinado. Os delegados que apuram o caso dizem ter recebido o
documento do CADE e não do ministro. Apesar da controvérsia, o fato é
que os políticos citados na denúncia apócrifa terão muito trabalho para
se explicar. Nas mídias sociais, esse tipo de tarefa será inglória. Há
munição de sobra para os “virais sujos” da guerra nas redes.
“Não foi à toa que o Congresso limitou a propaganda visual nas próximas
eleições. A grande incógnita é saber o poder de fogo das redes sociais
com os eleitores”
Fonte: Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense.
Nenhum comentário:
Postar um comentário