Figuras
que pareciam ter ficado para trás, envolvidas em escândalos de
corrupção, terão papel decisivo na disputa pelo governo local e se
juntarão ao enrolado Agnelo Queiroz, que tentará a reeleição
DE VOLTA - Luiz Estevão, Joaquim Roriz e
José Roberto Arruda articulam as eleições no Distrito Federal |
Há mais de uma década, o eleitor do Distrito Federal acostumou-se a uma
lamentável realidade: os políticos eleitos para representá-los acabaram
envolvidos em escândalos de corrupção. A lista começa com Joaquim
Roriz, passa pelo ex-senador Luiz Estevão, continua com José Roberto
Arruda e atinge até o atual governador e candidato à reeleição, Agnelo
Queiroz. Em 2014, a história não será diferente. Na semana passada,
Roriz filiou-se ao nanico PRTB, seguindo os passos de Estevão. Arruda
agora faz parte do PR.
Graças à Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, que derrubou
Arruda, e à Lei da Ficha Limpa, que tirou Roriz da disputa, o petista
Agnelo venceu a eleição de 2010 com facilidade. Agora, ele luta contra a
popularidade baixa e a perspectiva de uma disputa dura. A primeira
conquista importante ele obteve: conseguiu do PMDB o compromisso de
manutenção da aliança que o levou ao governo há três anos, embora uma
ala do partido ainda ameace saltar do barco. Parte da dificuldade
decorre da péssima gestão de Agnelo, somada ao histórico de escândalos
mal - ou não - explicados. Por isso, nunca tantos nomes se animaram a
disputar um lugar no Palácio do Buriti. Grupos políticos em decadência e
antigos aliados do PT se entusiasmaram em entrara na briga.
José Roberto Arruda, que ainda não escolheu qual cargo disputará,
precisará convencer o eleitor, pela segunda vez, que merece perdão. Em
2001 ele participou da violação do painel eletrônico do Senado e
renunciou ao mandato para fugir da cassação. Voltou ao poder em 2002,
como deputado federal. Em 2006, elegeu-se governador do Distrito
Federal. Três anos depois, quando o esquema de corrupção montado por ele
veio à tona, Arruda sucumbiu novamente diante de algumas das mais
deploráveis imagens de roubalheira explícita da política brasileira -
Arruda, por exemplo, aparece recebendo dinheiro de corrupção em um
pacote. Ele chegou a ser preso pela Polícia Federal por cooptação de
testemunha e perdeu o mandato.
Naquela época, o então governador deu sinais de que pensava em se manter na política: antes de ser expulso do DEM, deixou o partido por conta própria. Acabou enquadrado na lei de fidelidade partidária, que tirou-lhe o mandato. Ele tinha direito de recorrer à decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), mas optou por não fazê-lo. Há uma razão: com essa punição, Arruda apenas ficava sem o cargo de governador, mas estava apto a disputar as próximas eleições. Caso permanecesse no posto, ele fatalmente seria cassado pela Câmara Legislativa do DF, o que lhe renderia um período de cinco anos de inelegibilidade.
Naquela época, o então governador deu sinais de que pensava em se manter na política: antes de ser expulso do DEM, deixou o partido por conta própria. Acabou enquadrado na lei de fidelidade partidária, que tirou-lhe o mandato. Ele tinha direito de recorrer à decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), mas optou por não fazê-lo. Há uma razão: com essa punição, Arruda apenas ficava sem o cargo de governador, mas estava apto a disputar as próximas eleições. Caso permanecesse no posto, ele fatalmente seria cassado pela Câmara Legislativa do DF, o que lhe renderia um período de cinco anos de inelegibilidade.
Agora, o ex-governador chega ao PR com as bênçãos de Valdemar Costa
Neto, mensaleiro e maior articulador do partido. Ele não hesitou em
desalojar o comando do partido no Distrito Federal para emplacar um
aliado de Arruda no posto.
Roriz – Já o ex-governador Joaquim Roriz, dono de um expressivo capital
eleitoral, está firmemente disposto a se candidatar ao governo. Mas tem
uma situação mais delicada: aos 77 anos, ele tem grandes chances de ser
barrado pela Lei da Ficha Limpa. O governador renunciou ao mandato de
senador, em 2007, para fugir da cassação, depois de ser flagrado
negociando a partilha de 2,2 milhões de reais de origem escusa.
No fim de setembro, Roriz - que havia deixado o PSC após as eleições de
2010 - chegou a acertar seu ingresso no DEM. Mas a Executiva Nacional
do partido decidiu rejeitar o registro. O ex-governador e sua filha, a
deputada distrital Liliane Roriz, migraram para o PRTB. O partido, em
Brasília, é comandado por ninguém menos do que o ex-senador Luiz
Estevão. Jaqueline Roriz, outra filha do político e deputada distrital
flagrada embolsando dinheiro desviado, é filiada ao PMN.
Estevão enfrenta o ostracismo há mais tempo que os colegas: cassado em
2000 por envolvimento em desvio de recursos públicos na obra do Tribunal
Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo, ele só poderá voltar a
disputar eleições em 2022, devido à Lei da Ficha Limpa. Por isso,
dedica-se à articulação política. Neste ano, o ex-senador se filiou ao
PRTB e passou a comandar o partido na capital federal. “Eu vou me
dedicar mais às chapas para deputados federais e distritais”, diz ele.
Se for barrado pela Justiça Eleitoral, Roriz deve abandonar os planos
eleitorais. Quem diz é Luiz Estevão: “Ele não cogita disputar outro
cargo que não seja o de governador”. Nesse caso, o plano já está
traçado: quem irá para a disputa majoritária é Liliane Roriz. "A
disposição dele em disputar o governo é real. Mas eu sou o plano B do
meu pai", diz Liliane, que recentemente trocou o PSD pelo PRTB.
Em 2010, Roriz fez uma manobra desastrada e escolheu sua mulher,
Weslian, para sucedê-lo e evitar o risco de impugnação da chapa por
causa da Lei da Ficha Limpa. Inexperiente e despreparada, ela passou
vexame nos debates e acabou derrotada por Agnelo.
Nova ala – Depois de apoiar Agnelo em 2010, o deputado federal José
Antônio Reguffe (PDT) aceitou participar da disputa pelo governo no ano
que vem. Ele foi apontado pelo diretório regional de seu partido na
semana passada e aceitou a indicação. Deputado federal com maior votação
proporcional em 2010 (20% dos votos do Distrito Federal), Reguffe
aposta suas fichas no discurso moralizador em um momento de descrédito
generalizado.
Mas a falta de apoio de outras legendas pode prejudicá-lo. A decisão do
PDT – partido que Reguffe quase deixou para se filiar à Rede
Sustentabilidade – surpreendeu porque foi repentina e criou um problema:
Rodrigo Rollemberg, do PSB de Marina Silva e Eduardo Campos, deve
disputar o governo. O PDT não pretende recuar. “Imagine que o PDT decida
apoiar Eduardo Campos no Brasil inteiro. Ele vai ter que fazer alguns
gestos em alguns estados. E pode apoiar o Reguffe em Brasília”, diz o
senador Cristovam Buarque, comandante do PDT do DF.
Cristovam diz que Rollemberg e Reguffe podem disputar simultaneamente,
mas vê problemas na possibilidade de divisão: "Se nenhum dos dois
conseguir atrair o PSOL, aí fica mais difícil. Eles vão ter que se
juntar", avalia o senador, que governou o DF de 1994 a 1998.
O senador Rodrigo Rollemberg (PSB) não é propriamente uma novidade: em
2002, ele foi candidato a governador e não chegou ao segundo turno.
Agora, entretanto, com a crise de Agnelo e o projeto presidencial do
PSB, o nome do senador parlamentar pode ganhar força.
A lista de potenciais candidatos vai além: a deputada distrital Eliana
Pedrosa também deve reforçar o time de oposição. A parlamentar, que já
foi do DEM e do PSD, assumiu o comando do PPS na capital federal. O
PSDB, por sua vez, pode lançar como candidatos dois ex-aliados de
Agnelo: os deputados federais Izalci Lucas e Luiz Pitiman.
É possível que, até abril, quando as chapas serão montadas, o cenário
sofra alterações. Mas alguns personagens que envergonharam a política do
Distrito Federal dificilmente ficarão de fora.
Fonte: Veja.com - Por Gabriel Castro.
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