O
distrital, que luta para manter o mandato, já correu pela Stock Car,
passou em vários ramos empresariais e integrou o primeiro escalão do
GDF. Na Câmara Legislativa, é conhecido por ter o gênio difícil. Seu
destino político ainda depende da Justiça
Raad Massouh teve de fábrica de panelas, passando por hotel-fazenda, a clínica para dependentes químicos
Aos 56 anos, no primeiro mandato efetivo como parlamentar, Raad Massouh
(PPL) pode entrar para a história como o terceiro distrital a ter o
cargo cassado pelos seus pares. O homem de terno alinhado, de corte de
cabelo e cavanhaque impecáveis, luta, como um gladiador — personagem que
ele encarna durante a festa de encenação da vida de Cristo, em
Sobradinho, sua principal base eleitoral — para manter o cargo. A
decisão sobre o seu futuro político, agora, está nas mãos da Justiça.
Acusado de desviar parte de uma emenda parlamentar de R$ 100 mil,
liberada em 2010 para um evento rural em Sobradinho, o sírio
naturalizado brasileiro tem personalidade forte e é um tanto ríspido no
trato com os subordinados. Cobra os melhores resultados de seus
funcionários no ritmo dele, que, segundo contam, é tão acelerado quanto o
das provas de Stock Car, modalidade pela qual disputou na década de
1980. Nos tempos de piloto, Raad mantinha cabelos negros encaracolados e
barba, em vez do atual cavanhaque. “Se não for no tempo dele, ele
estoura. É muito seco. Não é uma pessoa gentil”, comenta um
ex-colaborador.
O empresário, esportista e político nasceu em Marmarita (Síria). É pai
de quatro filhos — dois do primeiro casamento, um da segunda união e
outro que só conheceu há dois anos, já adulto. “Olha, o rapaz (filho que
ele reconheceu a paternidade recentemente) é um doce de menino. Precisa
ver. Bem diferente do pai”, resume uma pessoa próxima ao parlamentar.
Os laços de Raad com Brasília tiveram início em 1957, quando ele chegou
pequeno à capital. Antes de ser político, se lançou em diferentes ramos
de negócio. De fábrica de panelas, no Gama, prestação de serviços com
tratores alugados, passando por agência de automóveis e um hotel-fazenda
recém-transformado em clínica para tratamento de dependência química. A
diária para quem quer se interna no local é de R$ 450, com atendimento
em português, inglês e árabe.
Suplência
A vida política começou em 2006, pelo DEM. Naquele ano, obteve 9.408
votos e, com isso, conquistou a suplência de Leonardo Prudente, o
distrital que foi filmado escondendo dinheiro nas meias e teve de
renunciar para não ser cassado. Raad assumiu a cadeira por alguns
períodos. No fim da legislatura, em 2010, liberou a emenda que lhe
rendeu o processo por quebra de decoro na Câmara Legislativa.
A atuação de Raad não se limitou ao Legislativo. Eleito no pleito de
2010, com 17.997 votos pelo DEM, Raad trocou de partido no fim de 2011,
filiando-se ao PPL. A experiência como empresário lhe rendeu o convite
de Agnelo Queiroz para ser secretário de Micro e Pequena Empresa, cargo
ocupado entre 2 de dezembro de 2011 e 29 de novembro de 2012.
Na Câmara Legislativa, o parlamentar vive com um terço árabe conhecido
como Masbaha nas mãos. A análise de seu caso pelos colegas agora só
depende da Justiça. O Conselho Especial do TJDFT deve analisar, nos
próximos dias, uma ação da defesa do distrital, que pede suspensão do
processo legislativo. Em caráter liminar, os advogados do distrital já
conseguiram barrar a sessão que julgaria Raad. Mas o Ministério Público
entrou com recurso, que ainda não foi apreciado. O assunto passou pela
Corregedoria e pelas comissões de Ética e de Constituição e Justiça da
Câmara Legislativa. Em todas as instâncias, Raad tentou argumentar que
não tinha como se responsabilizar pela execução de uma emenda. No
entanto, não conseguiu convencer seus colegas da inocência, pelo menos
por enquanto.
Significado
Masbaha é um objeto similar a um rosário, de uso tradicional entre os
fiéis da religião islâmica. Conhecido na Grécia como kombolói, chamado
também de terço grego, árabe e islâmico, é usado para meditações,
orações e pedidos de auxílio. Em geral, trata-se de um colar com 33 a 99
contas divididas por um nó, que podem ser de diferentes materiais como
madeira, marfim, plástico e sementes. Utiliza-se habitualmente para
praticar o dikr ou para invocações dirigidas a Alá. O número de suas
contas tem relação com o recital dos 99 nomes de deus, também utilizado
para outros tipos de oração. É comum, assim como os rosários,
encontrá-los pendurados nos retrovisores de automóveis, em guidões de
motos e nas paredes de locais mulçumanos.
Colecionador de atritos
Eleito basicamente pelos moradores de Sobradinho, Raad Massouh teve
como adversário direto o delegado de polícia Dr. Michel (PEN), que
também se elegeu. Mas, na atuação parlamentar, adicionou rivais ao
currículo ao “invadir” áreas de outros deputados para cooptar eleitores.
“Ele fez isso com o Cláudio Abrantes, em Planaltina, com a Eliana
Pedrosa, com o Dr. Michel e com o Joe Valle, na área rural. Reúne um
conjunto de famílias que, habitualmente, apoia outro parlamentar e
arrebanha as pessoas com promessas e convites para trabalhar com eles”,
relata um deputado, que diz manter bom relacionamento com Raad Massouh.
Outra característica do parlamentar que o teria afastado dos demais
pares seria a pouca habilidade de articulação. “É um sargentão. Vai
passando por cima. Lida com o mandato como se tivesse gerenciando uma
empresa, dando ordens. O ‘time’ não é o da política”, avalia um
distrital. Segundo esse mesmo deputado, Raad não é dado a negociações
políticas “necessárias na atividade parlamentar”, além de ter
dificuldade em cumprir acordos. “No parlamento, é preciso o equilíbrio
de forças, a ponderação. O adversário de hoje é seu aliado de amanhã.
Quando a disputa é feita como em um campo de futebol, as sequelas se
tornam suas inimigas. Ele vai perder mandato por ter colecionado
adversários. A inabilidade política se somou aos problemas éticos
criados por ele”, avalia.
Entre as atividades parlamentares, Raad Massouh destaca em seu site a
atuação de “forma imparcial e transparente como corregedor do processo
disciplinar do deputado Pedro Passos, que resultou na renúncia do
ex-parlamentar”. E, no atual mandato, o fato de ser o autor de um dos
projetos mais importantes: o fim dos 14º e 15º salários para os
deputados distritais. Ressalta, ainda, o fato de ter aberto mão da ajuda
de custo a que todos os deputados têm direito. “Eu acho que não devemos
usar a verba da Câmara para fazer campanha eleitoral. Em janeiro, mês
de recesso parlamentar, voltei a abrir mão da ajuda de custo.” (AB)
Fonte: Correio Braziliense - Por Adriana Bernardes
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