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terça-feira, 17 de setembro de 2013

Raad Massouh, o ex-piloto investigado

O distrital, que luta para manter o mandato, já correu pela Stock Car, passou em vários ramos empresariais e integrou o primeiro escalão do GDF. Na Câmara Legislativa, é conhecido por ter o gênio difícil. Seu destino político ainda depende da Justiça 

Raad Massouh teve de fábrica de panelas, passando por hotel-fazenda, a clínica para dependentes químicos

Aos 56 anos, no primeiro mandato efetivo como parlamentar, Raad Massouh (PPL) pode entrar para a história como o terceiro distrital a ter o cargo cassado pelos seus pares. O homem de terno alinhado, de corte de cabelo e cavanhaque impecáveis, luta, como um gladiador — personagem que ele encarna durante a festa de encenação da vida de Cristo, em Sobradinho, sua principal base eleitoral — para manter o cargo. A decisão sobre o seu futuro político, agora, está nas mãos da Justiça.

Acusado de desviar parte de uma emenda parlamentar de R$ 100 mil, liberada em 2010 para um evento rural em Sobradinho, o sírio naturalizado brasileiro tem personalidade forte e é um tanto ríspido no trato com os subordinados. Cobra os melhores resultados de seus funcionários no ritmo dele, que, segundo contam, é tão acelerado quanto o das provas de Stock Car, modalidade pela qual disputou na década de 1980. Nos tempos de piloto, Raad mantinha cabelos negros encaracolados e barba, em vez do atual cavanhaque. “Se não for no tempo dele, ele estoura. É muito seco. Não é uma pessoa gentil”, comenta um ex-colaborador.

O empresário, esportista e político nasceu em Marmarita (Síria). É pai de quatro filhos — dois do primeiro casamento, um da segunda união e outro que só conheceu há dois anos, já adulto. “Olha, o rapaz (filho que ele reconheceu a paternidade recentemente) é um doce de menino. Precisa ver. Bem diferente do pai”, resume uma pessoa próxima ao parlamentar.

Os laços de Raad com Brasília tiveram início em 1957, quando ele chegou pequeno à capital. Antes de ser político, se lançou em diferentes ramos de negócio. De fábrica de panelas, no Gama, prestação de serviços com tratores alugados, passando por agência de automóveis e um hotel-fazenda recém-transformado em clínica para tratamento de dependência química. A diária para quem quer se interna no local é de R$ 450, com atendimento em português, inglês e árabe. 

Suplência 

A vida política começou em 2006, pelo DEM. Naquele ano, obteve 9.408 votos e, com isso, conquistou a suplência de Leonardo Prudente, o distrital que foi filmado escondendo dinheiro nas meias e teve de renunciar para não ser cassado. Raad assumiu a cadeira por alguns períodos. No fim da legislatura, em 2010, liberou a emenda que lhe rendeu o processo por quebra de decoro na Câmara Legislativa.

A atuação de Raad não se limitou ao Legislativo. Eleito no pleito de 2010, com 17.997 votos pelo DEM, Raad trocou de partido no fim de 2011, filiando-se ao PPL. A experiência como empresário lhe rendeu o convite de Agnelo Queiroz para ser secretário de Micro e Pequena Empresa, cargo ocupado entre 2 de dezembro de 2011 e 29 de novembro de 2012.

Na Câmara Legislativa, o parlamentar vive com um terço árabe conhecido como Masbaha nas mãos. A análise de seu caso pelos colegas agora só depende da Justiça. O Conselho Especial do TJDFT deve analisar, nos próximos dias, uma ação da defesa do distrital, que pede suspensão do processo legislativo. Em caráter liminar, os advogados do distrital já conseguiram barrar a sessão que julgaria Raad. Mas o Ministério Público entrou com recurso, que ainda não foi apreciado. O assunto passou pela Corregedoria e pelas comissões de Ética e de Constituição e Justiça da Câmara Legislativa. Em todas as instâncias, Raad tentou argumentar que não tinha como se responsabilizar pela execução de uma emenda. No entanto, não conseguiu convencer seus colegas da inocência, pelo menos por enquanto. 

Significado 

Masbaha é um objeto similar a um rosário, de uso tradicional entre os fiéis da religião islâmica. Conhecido na Grécia como kombolói, chamado também de terço grego, árabe e islâmico, é usado para meditações, orações e pedidos de auxílio. Em geral, trata-se de um colar com 33 a 99 contas divididas por um nó, que podem ser de diferentes materiais como madeira, marfim, plástico e sementes. Utiliza-se habitualmente para praticar o dikr ou para invocações dirigidas a Alá. O número de suas contas tem relação com o recital dos 99 nomes de deus, também utilizado para outros tipos de oração. É comum, assim como os rosários, encontrá-los pendurados nos retrovisores de automóveis, em guidões de motos e nas paredes de locais mulçumanos. 

Colecionador de atritos 

Eleito basicamente pelos moradores de Sobradinho, Raad Massouh teve como adversário direto o delegado de polícia Dr. Michel (PEN), que também se elegeu. Mas, na atuação parlamentar, adicionou rivais ao currículo ao “invadir” áreas de outros deputados para cooptar eleitores. “Ele fez isso com o Cláudio Abrantes, em Planaltina, com a Eliana Pedrosa, com o Dr. Michel e com o Joe Valle, na área rural. Reúne um conjunto de famílias que, habitualmente, apoia outro parlamentar e arrebanha as pessoas com promessas e convites para trabalhar com eles”, relata um deputado, que diz manter bom relacionamento com Raad Massouh.

Outra característica do parlamentar que o teria afastado dos demais pares seria a pouca habilidade de articulação. “É um sargentão. Vai passando por cima. Lida com o mandato como se tivesse gerenciando uma empresa, dando ordens. O ‘time’ não é o da política”, avalia um distrital. Segundo esse mesmo deputado, Raad não é dado a negociações políticas “necessárias na atividade parlamentar”, além de ter dificuldade em cumprir acordos. “No parlamento, é preciso o equilíbrio de forças, a ponderação. O adversário de hoje é seu aliado de amanhã. Quando a disputa é feita como em um campo de futebol, as sequelas se tornam suas inimigas. Ele vai perder mandato por ter colecionado adversários. A inabilidade política se somou aos problemas éticos criados por ele”, avalia.

Entre as atividades parlamentares, Raad Massouh destaca em seu site a atuação de “forma imparcial e transparente como corregedor do processo disciplinar do deputado Pedro Passos, que resultou na renúncia do ex-parlamentar”. E, no atual mandato, o fato de ser o autor de um dos projetos mais importantes: o fim dos 14º e 15º salários para os deputados distritais. Ressalta, ainda, o fato de ter aberto mão da ajuda de custo a que todos os deputados têm direito. “Eu acho que não devemos usar a verba da Câmara para fazer campanha eleitoral. Em janeiro, mês de recesso parlamentar, voltei a abrir mão da ajuda de custo.” (AB)

Fonte: Correio Braziliense - Por Adriana Bernardes

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