Pela pesquisa, a presidente teria hoje 40% dos votos; a ex-senadora
Marina Silva, 22%; o senador Aécio Neves, 20%; e o governador de
Pernambuco, Eduardo Campos, 5%.
Mais uma vez, Marina Silva surge como a grande beneficiária dos movimentos de
contestação que ocorrem pelo país, pois, embora tenha sido senadora por
16 anos e fundadora do PT, ela não é percebida pela população como uma
política profissional.
Mas Marina tem também um lado evangélico que, segundo estudos recentes, foi decisivo na sua votação na campanha de 2010.
O professor Cesar Romero Jacob, diretor do Departamento de Comunicação
Social da PUC/Rio, lançou recentemente o e-book “Religião e Território
no Brasil: 1991/2010”, da Editora da PUC, trabalho que, ao analisar as
transformações no perfil religioso da população brasileira, com o
crescimento do número de evangélicos, pode ser útil para o entendimento
do cenário eleitoral do ano que vem, considerando a participação
crescente de pastores pentecostais na política.
Segundo Romero Jacob, o pluralismo religioso se consolidou no país, com
a Igreja Católica perdendo 24 pontos percentuais. O número de católicos
cai de 89% da população para 65% em 30 anos.
No mesmo período, os fiéis do conjunto de Igrejas Pentecostais passam
de 3% da população, em 80, para 13% em 2010. “O Brasil deixou de ser um
país de hegemonia católica para ser um país de maioria católica”.
Segundo o estudo, no Nordeste, em Minas Gerais e no Sul do Brasil, o
percentual de católicos se mantém muito elevado, mas nas áreas de
imigração para a fronteira agrícola e mineral do Centro-Oeste e Norte e
na periferia das regiões metropolitanas os pentecostais crescem. “De um
modo geral, diz Romero Jacob, nas áreas de expansão recente e,
sobretudo, num certo caos social, o pentecostalismo se implantou”.
Essa seria a razão da participação de Marina Silva em cultos
evangélicos para a coleta de assinaturas em apoio à criação do seu
partido, a REDE, como seus militantes fizeram ontem na Marcha para
Jesus, em São Paulo.
Apesar de o livro se ater à questão religiosa, os mapas permitem
algumas ilações políticas, uma vez que os pastores têm demonstrado certo
controle sobre o eleitorado evangélico pentecostal.
Na política, na época da eleição de 2010, na análise de Romero Jacob,
Marina conseguiu atrair os insatisfeitos com a campanha do Serra, os
petistas insatisfeitos com os rumos do governo do PT, os evangélicos e
até os verdes, que não têm uma expressão tão grande assim do ponto de
vista eleitoral.
Mas o que parece agora, com dados novos, diz o professor da PUC, quando
se analisa o mapa dos pentecostais e não determinados com o mapa da
votação da Marina, “mesmo que não sejam exatamente iguais, têm pontos de
contato muito nítidos”.
Embora Marina tenha construído uma carreira em torno da questão
ambiental, isso não significa dizer que os evangélicos não a tenham
apoiado fortemente.
“É claro que a Marina não é uma evangélica óbvia, ela tem uma
sofisticação na fala, no sentido de não estar diretamente ligada à
questão religiosa”, analisa Romero Jacob, ressaltando que “quem é muito
óbvio, como Garotinho e Crivella, tem uma rejeição muito alta exatamente
pela mistura da religião com política”. Ou, como define, “tem um piso
alto, mas um teto baixo”.
Em 2010, Marina tinha a agenda verde na mão, mas agregou pouco ao PV.
Os 20 milhões de votos não aumentaram a bancada de deputados federais do
PV. “Quando se vê Marina indo buscar assinaturas em cultos evangélicos
para viabilizar seu partido, isso significa que aí ela se restringe”,
comenta Romero Jacob.
Entre 22% e 40% se declara evangélica no estado de São Paulo, que tem ¼
do eleitorado, o que dá a Marina robustez eleitoral, “insuficiente para
levá-la ao segundo turno, mas suficiente para construir um segundo
turno”.
Os mapas indicam, segundo Romero Jacob, que a votação da Marina em 2010
foi menos dos verdes e dos eleitores insatisfeitos e mais dos irmãos,
sobretudo no Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. “Mesmo que a
Marina não tenha feito campanha voltada para as igrejas, as igrejas
fizeram campanha para ela”.
Fonte: O Globo - Por Merval Pereira
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