Vocês
leram o que disse a direção da ABI (Associação Brasileira de Imprensa)
sobre os atos covardes perpetrados contra a blogueira Yoani Sánchez?
Não? Compreendo. É que a ABI não disse nada. Na última vez em que a
entidade frequentou o noticiário, tinha cedido seu auditório no Rio para
José Dirceu comandar um ato contra o Poder Judiciário brasileiro.
Estava presente, desrespeitando a lei, o embaixador da Venezuela no
Brasil, Maximilien Arveláiz.
Vocês leram o que disse a direção da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB) sobre as ações ilegais que constrangeram a cubana no Brasil? Viram
o que afirmou o Conselho Federal sobre o fato de uma embaixada
organizar atos de caráter político e confessar que espiões de um país
estrangeiro transitam livremente pelo país? Não? Compreendo. É que a OAB
não disse nada. Na última vez em que frequentou o noticiário, o comando
da entidade enunciou que estava disposto a verificar se a delação
premiada é mesmo inconstitucional, como pretendem dois doutores que
trabalham para mensaleiros: o notório Kakay (Antonio Carlos de Almeida
Castro) e José Luiz de Oliveira Lima (o querido “Juca” de alguns
jornalistas), que tem como cliente José Dirceu, aquele que comandou um
ato contra o Judiciário em pleno território da ABI.
Essas duas ausências dão conta do estado miserável do que já se chamou
“sociedade civil” no Brasil. As duas omissões são igualmente graves
porque os ataques à blogueira remetem mesmo à razão de ser de cada uma
delas. A principal tarefa da ABI é zelar pela liberdade de expressão e
pela preservação dos valores éticos da profissão de jornalista. A
filóloga Yoani Sánchez é também jornalista. A palavra é a sua
matéria-prima. Em Cuba, luta por um regime de liberdades democráticas,
por pluralismo político, por respeito aos direitos humanos. Esses
valores constituem a essência da história da associação. A única ABI que
expressou seu repúdio às agressões foi a Associação Baiana de Imprensa.
A Federação Nacional dos Jornalistas, conforme o esperado, também se
calou. Nem poderia ser diferente. A Fenaj tentou criar no país o
Conselho Federal de Jornalismo, que colocaria o trabalho da imprensa
sob censura, a exemplo do que ocorre em Cuba, que essa gente ama tanto.
O que dizer, então, da OAB? É a entidade que, em tese, vigia, em nome
da sociedade, a, por assim dizer, saúde jurídica do país. Não tem função
meramente cartorial. Ao contrário: a Ordem sempre foi um organismo
político, buscando zelar, como expressão da sociedade civil, pela
qualidade do estado democrático e de direito. Os constrangimentos a que s
arruaceiros — PAREM, SENHORES DA IMPRENSA, DE CHAMAR PESSOAS QUE
PROMOVEM AQUELA BAIXARIA DE “MANIFESTANTES”! — submeteram Yoani até
agora desrespeitam a ordem legal, violam-na. Como é que a OAB ousa — a
palavra essa! — ficar muda?
Eis mais um sintoma de uma sociedade em que um campo ideológico está
hipertrofiado (tenha ele o nome que se queira dar: esquerda, vigarice,
oportunismo) em prejuízo de outro, que está acuado. Que “outro” é esse? O
dos defensores da democracia representativa, da ordem legal e
democrática, do estado de direito. OAB e ABI já se manifestaram sobre
casos com muito menos gravidade do que esse.
Não se trata de superestimar o caso Yoani. A rigor, nem cumpre falar em
assegurar a “pluralidade” porque mal se ouviu o que ela tinha a dizer. A
questão é ainda anterior: trata-se de assegurar o direito à voz. Se
esses vândalos fazem isso agora com uma visitante de um país
estrangeiro, não tarda, e estarão fazendo também com os nacionais.
Fonte: Veja.com - Blog do Reinaldo Azevedo - Por Reinaldo Azevedo
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