Brasília - Nesse
período de pequeno crescimento do PIB, fica visível observar como o
mercado brasileiro está saturado de medidas paliativas, e torna clara a
necessidade de uma real atualização e mudança no sistema econômico.
Quando a crise se agravou, uma série dessas isenções fiscais foi feita,
mas essas medidas paliativas provaram-se emergenciais, não se
sustentaram em longo prazo. Se analisarmos a história, podemos ver que
grandes crises foram superadas com grandes investimentos em
infraestrutura.
O
difícil escoamento de mercadorias dos grandes centros metropolitanos e
de centros industriais no interior, devido a falhas nos sistemas
rodoviário, ferroviário, portuário e nos aeroportos gera um aumento ao
custo final das mercadorias brasileiras.
Analisando
os distintos sistemas de transporte interno vemos: um trem transporta
uma tonelada de carga com um litro de combustível por 86 km, enquanto um
caminhão por 25 km; a vida útil de um trem é de 30 anos em média,
contra 10 anos do caminhão; o custo médio da tonelada por quilômetro
transportado no sistema ferroviário é de 1,6 centavos, contra 5,6 no
sistema rodoviário. Assim, o custo logístico rodoviário chega a ser 350%
maior do que o ferroviário, reduzindo assim a competitividade
internacional dos produtos brasileiros e o aumento do custo para os
consumidores internos.
Os
países dos BRICS possuem uma economia emergente e predominantemente
exportadora, sendo assim, existe uma competitividade por mercados entre
esses países. Quando analisamos a quantidade de ferrovias presentes,
vemos que o Brasil está em desvantagem. A Rússia possui 154 mil
quilômetros de ferrovias, seguida pela China com 86 mil e logo vem a
Índia com cerca de 60 mil. O Brasil possui 29 mil quilômetros, lembrando
que a extensão territorial do nosso país é superior a da Índia, e que
as regiões industriais chinesas encontram-se predominantemente próximas
ao litoral. Um quarto do preço das mercadorias produzidas pelos
agricultores do centro-oeste, que são os responsáveis pela maior
produção de soja do país, advém do frete.
Para
reverter esta situação, além de grandes investimentos seria necessária
uma quantidade de mão de obra qualificada relativamente abundante. Este
último quesito não torna a situação mais favorável. Nos últimos 10 anos
pareceu haver um descaso com a comunidade científica no Brasil. De cada
três engenheiros que se formam no país, apenas um está formalmente
empregado em ocupações típicas da profissão. Isso mostra que falta ânimo
para engajarem na profissão, quando muitas vezes são tentados por
cargos que não requerem tanta especialização, mas equivale ou até supera
os salários.
Logo
seriam necessários, no mínimo, 70 mil engenheiros por ano sendo
formados, quando a produção beira a metade desse número. Em comparação, a
Rússia forma cerca de 120 mil engenheiros por ano e a Índia cerca de
190 mil. O descaso com o preparo de jovens nas áreas chamadas ciências
exatas no ensino médio reflete visivelmente em todo o mercado econômico e
desenvolvimento do Brasil.
O
que o Brasil precisa além de grandes projetos e investimentos em curto
prazo, seria a valorização da comunidade científica e de engenheiros,
para que a economia e o mercado possam voltar a se desenvolver em um
ritmo adequado. A questão é que a resposta visível dessas medidas não
seria imediata, o que não favoreceria a imagem política do governo em
curto prazo; mas são ações extremamente necessárias e suas realizações
dependem do campo de visão do governo: resolver o problema ou jogar para
frente. Só resta torcer que a decisão certa seja feita.
Estudante do 4º semestre de Física da Universidade de Brasília (UnB) e membro da JPSDB/DF
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