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sábado, 23 de fevereiro de 2013

“Dez anos de PT e o descaso com o Brasil do futuro”, por Fernando Lessa


Brasília - Nesse período de pequeno crescimento do PIB, fica visível observar como o mercado brasileiro está saturado de medidas paliativas, e torna clara a necessidade de uma real atualização e mudança no sistema econômico. Quando a crise se agravou, uma série dessas isenções fiscais foi feita, mas essas medidas paliativas provaram-se emergenciais, não se sustentaram em longo prazo. Se analisarmos a história, podemos ver que grandes crises foram superadas com grandes investimentos em infraestrutura.

O difícil escoamento de mercadorias dos grandes centros metropolitanos e de centros industriais no interior, devido a falhas nos sistemas rodoviário, ferroviário, portuário e nos aeroportos gera um aumento ao custo final das mercadorias brasileiras.

Analisando os distintos sistemas de transporte interno vemos: um trem transporta uma tonelada de carga com um litro de combustível por 86 km, enquanto um caminhão por 25 km; a vida útil de um trem é de 30 anos em média, contra 10 anos do caminhão; o custo médio da tonelada por quilômetro transportado no sistema ferroviário é de 1,6 centavos, contra 5,6 no sistema rodoviário. Assim, o custo logístico rodoviário chega a ser 350% maior do que o ferroviário, reduzindo assim a competitividade internacional dos produtos brasileiros e o aumento do custo para os consumidores internos.

Os países dos BRICS possuem uma economia emergente e predominantemente exportadora, sendo assim, existe uma competitividade por mercados entre esses países. Quando analisamos a quantidade de ferrovias presentes, vemos que o Brasil está em desvantagem. A Rússia possui 154 mil quilômetros de ferrovias, seguida pela China com 86 mil e logo vem a Índia com cerca de 60 mil. O Brasil possui 29 mil quilômetros, lembrando que a extensão territorial do nosso país é superior a da Índia, e que as regiões industriais chinesas encontram-se predominantemente próximas ao litoral. Um quarto do preço das mercadorias produzidas pelos agricultores do centro-oeste, que são os responsáveis pela maior produção de soja do país, advém do frete.

Para reverter esta situação, além de grandes investimentos seria necessária uma quantidade de mão de obra qualificada relativamente abundante. Este último quesito não torna a situação mais favorável. Nos últimos 10 anos pareceu haver um descaso com a comunidade científica no Brasil. De cada três engenheiros que se formam no país, apenas um está formalmente empregado em ocupações típicas da profissão. Isso mostra que falta ânimo para engajarem na profissão, quando muitas vezes são tentados por cargos que não requerem tanta especialização, mas equivale ou até supera os salários.

Logo seriam necessários, no mínimo, 70 mil engenheiros por ano sendo formados, quando a produção beira a metade desse número. Em comparação, a Rússia forma cerca de 120 mil engenheiros por ano e a Índia cerca de 190 mil. O descaso com o preparo de jovens nas áreas chamadas ciências exatas no ensino médio reflete visivelmente em todo o mercado econômico e desenvolvimento do Brasil.

O que o Brasil precisa além de grandes projetos e investimentos em curto prazo, seria a valorização da comunidade científica e de engenheiros, para que a economia e o mercado possam voltar a se desenvolver em um ritmo adequado. A questão é que a resposta visível dessas medidas não seria imediata, o que não favoreceria a imagem política do governo em curto prazo; mas são ações extremamente necessárias e suas realizações dependem do campo de visão do governo: resolver o problema ou jogar para frente. Só resta torcer que a decisão certa seja feita.


Estudante do 4º semestre de Física da Universidade de Brasília (UnB) e membro da JPSDB/DF

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