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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Agnelo tenta fugir do Sanatório Geral e, por falta de cadeia para governadores, é internado na ala de segurança máxima


 
Às 8h11 desta quarta-feira, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, foi internado no Sanatório Geral a bordo de uma frase de assustar enfermeiro aposentado: “Palavra de um governador de estado já é, por si, uma prova”. Envolvido até o pescoço em maracutaias, Agnelo achou uma boa ideia lembrar que o que diz merece tanto respeito quanto o palavrório de antecessores como Joaquim Roriz e José Roberto Arruda. Não é um caso simples, deduziu o corpo clínico do movimentado nosocômio.

É mais grave do que parece, soube-se às 10h30, quando o governador tentou escapar  usando como salvo-conduto uma “Nota de esclarecimento sobre frase do governador Agnelo Queiroz publicada no blog do colunista Augusto Nunes“. Transcrevo sem correções a íntegra do documento encaminhado à coluna pela Secretaria de Comunicação do Governo do Distrito Federal:

“Lamentamos que uma frase descontextualizada, tirada de uma das inúmeras notas emitidas pela Secretaria de Estado de Comunicação Social do Governo do Distrito Federal em resposta à imprensa e que, mais uma vez, não teve seu inteiro teor levado ao conhecimento público, tenha resultado na publicação, na edição desta quarta-feira (15/11) do jornal FOLHA DE SÃO PAULO, da matéria Palavra de um governador já é prova, diz Agnelo.

O governador Agnelo Queiroz reafirma a boa fé no empenho de sua palavra. E relembramos que cabe a quem acusa apresentar provas. No geral, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, tem apresentado um conjunto de provas que é ignorado quando ele se manifesta nas respostas aos veículos de comunicação.

Uma sequência de entrevistas, trocas de emails e remessas de documentos que provam a ausência de processos criminais e administrativos que tragam o nome de Agnelo Queiroz como réu ou responsável por quaisquer irregularidades têm sido ignoradas nos últimos dias por parte da imprensa. Mais uma vez encaminhamos o conjunto de documentos disponíveis. Esperamos que venha ao conhecimento público a totalidade das informações prestadas”.

Se a nota é anêmica, padece de raquitismo agudo o “conjunto de documentos disponíveis” ? uma certidão negativa de débitos relativos aos tributos federais e à dívida ativa da União, uma certidão atestando que o nome do governador não figura em ação movida pelo Ministério Público Federal contra sete acusados, uma certidão negativa criminal, uma certidão negativa de contas julgadas irregulares e um comunicado oficial. Resumo da ópera bufa: para fugir, Agnelo valeu-se de um papelório tão consistente quanto um depoimento de Carlos Lupi.

Recapturado ainda no corredor e transferido para a ala de segurança máxima, o governador só vai sair dali quando parar de esconder-se sob o terninho de Dilma Rousseff e tentar desmentir o que escreveu Celso Arnaldo Araújo no post “Agnelo: um corrupto com nome de cordeiro”, publicado em 8 de novembro. Alguns trechos:

A Folha revelou, com documentos oficiais, uma transferência de 5.000 reais da conta de um lobista de indústria farmacêutica para a conta de Agnelo Queiroz, em 2008, quando o atual governador de Brasilia (ex-PCdoB e hoje PT) era diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

A descarga de cinco mil reais se deu, por curiosíssima coincidência, horas antes de a indústria representada pelo lobista, a União Química, receber uma certidão de “nihil obstat” da Anvisa. Sem ela, estaria impedida de participar de licitações para fornecimento de medicamentos à rede pública e até de registrar novos medicamentos.

A liberação foi automática, como as transferências eletrônicas: caiu o dinheiro, saiu o certificado. A liberação dependia exclusivamente de Agnelo. E aqui nem cabe discutir se a decisão foi baseada em critérios técnicos.

Como confirmou a VEJA Daniel Almeida Tavares, o lobista, os cinco mil eram apenas uma parcela do acerto de cinquentinha feito com Agnelo. Isto é: o subornador não nega o suborno. E o subornado? Coloque-se no lugar de Agnelo Queiroz. Você está sendo ameaçado de impeachment como governador e, de repente, surge não apenas uma prova, mas um atestado de corrupção de seu caráter chancelado pelo Banco Central. Os cinco mil não foram para a conta de laranjas – mas do espremedor em pessoa, com seu nome de batismo e de inscrição no TER, sem nenhuma reserva, nenhum receio.

Não sei quanto tempo teve Agnelo entre a revelação cabal do malfeito e a providência de uma explicação. Se foram minutos ou horas, se foi improvisada ou estudada, foi a pior possível: uma emenda mais canalha que o soneto da corrupção. Um ladrão comum não ousaria uma desculpa desse teor.

Diz a Folha:

O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), admitiu ontem que recebeu em sua conta pessoal R$ 5.000 de um lobista quando trabalhava como diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, em 2008 (…) Em nota divulgada ontem, Agnelo voltou a rejeitar a versão do lobista de que recebeu dinheiro de propina e disse que os R$ 5.000 representavam o pagamento de um empréstimo que ele havia feito para Tavares. O governador admitiu à Folha que o empréstimo foi feito informalmente, sem documento ou contrato que comprove a transação. E disse que emprestou o dinheiro ao lobista em espécie, portanto não teria como comprovar sua versão”.

A desculpa de Agnelo não vale um fio de sua barba. Além da ladroagem desenfreada, essa gente não tem limites em seu cinismo sórdido. Ele acha que alguém, fora os asseclas da base aliada, comprará a história de que um dia levou cinco mil reais, em dinheiro vivo, para socorrer um lobista em apuros que mal conhecia – e justamente quem representava uma causa milionária que dependia de decisão de governo, no caso dele, para uma solução que seria efetivamente dada. Por essa versão, os cinco mil que apareceram em sua conta apenas retornaram ao local onde já pertenciam antes do empréstimo.

Concluo: internar uma figura dessas na ala de segurança máxima do Sanatório é o que pode fazer a coluna. O Ministério Público e o Judiciário podem muito mais. O que esperam promotores e juízes para estender aos bandidos com padrinhos poderosos os castigos aplicados à gente comum? Se a lei vale para todos, está mais que na hora de mandar para a cadeia os agnelos que infestam o Brasil.

Fonte: Augusto Nunes - Revista Veja
Blog Rádio Corredor por Odir Ribeiro

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