O
novo governador foi eleito com a ajuda de um sobrenome tradicional, que
chegou a Brasília na inauguração e formou um clã com 110 membros. Mesmo
sem cargos no governo, eles prometem apoiar, fiscalizar e cobrar
resultados do futuro chefe do Executivo
As reuniões da família Rollemberg geralmente são feitas na casa do Park Way, sede também de muitas festas famosas em Brasília.
Em 26 de outubro, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) conquistou, pela primeira vez, o governo da capital federal.
A vitória, no entanto, não foi só de um projeto político. Com 15
filhos, 42 netos e 18 bisnetos — mais os agregados —, a família
Rollemberg tem muitos laços com a história de Brasília e se tornou um
dos clãs mais tradicionais da cidade, hoje com 110 membros. Durante a
campanha, o oitavo filho de Armando e Teresa, Rodrigo, futuro
governador, afirmava insistentemente que havia chegado a hora de a
“geração Brasília” assumir o poder, em referência exatamente à
trajetória da família no DF. Os parentes garantem que a população não
precisa se preocupar: se ele não cumprir as promessas, as primeiras
cobranças virão de dentro de casa.
Dos herdeiros de Armando Leite Rollemberg, ex-deputado federal,
ex-ministro do antigo Superior Tribunal Federal, falecido em 1994, não
só o vencedor do último pleito tem papel destacado no meio em que
trabalha. Eles são advogados, empresários, servidores públicos,
jornalistas, entre outras profissões, a maioria influente nas áreas de
atuação, mas ninguém terá cargo comissionado no Executivo.
O jornalista Armando Rollemberg é um dos mais conhecidos na cidade. Um
dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), o segundo mais velho,
62 anos, foi diretor do Sindicato dos Jornalistas do DF, presidente da
Federação Nacional dos Jornalistas por duas vezes e chefe da Organização
Internacional dos Jornalistas.
Armando lembra que a família, além de ser grande no DF, é uma das mais
tradicionais de Sergipe. O jornalista recorda que era impossível os
Rollembergs não terem se enraizado na capital. “Meu pai era ministro e
são muitos filhos e netos, todos trabalhadores e competentes. Chegamos
no começo e fomos conhecendo muita gente”, comenta. Ele completou o
ensino médio no Colégio Científico da UnB — que não existe mais. Lá, foi
contemporâneo do ex-presidente Fernando Collor de Mello, dos
empresários Luiz Estevão e Paulo Octávio, e do coordenador da equipe de
transição do irmão, Hélio Doyle.
Apesar de nenhum dos familiares ter seguido o caminho de Rodrigo, o
gosto pela política é geral. As discussões mais acaloradas ocorrem
quando o assunto é a ideologia de cada um. A matriarca, Teresa, não
gosta das brigas, mas fala que elas não chegam a ser motivo de
discórdia. “No almoço, o clima é de guerra, mas até a hora da sobremesa
eles já fizeram as pazes”, conta. Armando diz que, entre os familiares,
tem de tudo: de extrema direita a esquerda radical. O futuro governador,
ele classifica como um homem de “centro-esquerda”.
Guto, o terceiro mais novo dos 15, enxergava a habilidade política do
irmão desde pequeno. “Em meio a tantos pensamentos diferentes, ele é um
dos únicos que consegue a unanimidade”, ressalta. Se ele fugir do que
sempre defendeu e não cumprir as promessas, garante Guto, a família será
a primeira a cobrar. Advogado e dono de um escritório situado no Lago
Sul — que leva o sobrenome da família —, nem ele nem qualquer parente
teve função na campanha ou cargo nos mandatos de Rodrigo. “Ele nos
escuta, discute conosco, mas tem aliados e técnicos para ajudar
diretamente”, diz.
A nova capital
Dona Teresa se lembra do primeiro dia em Brasília. Inicialmente, vieram
ela e o marido para verificar se era possível trazer os filhos. Eles
moravam no Rio de Janeiro, onde Armando exercia mandato de deputado
federal, mas deixaram as crianças em Aracaju, na casa de familiares.
“Nós chegamos aqui em março, participamos da inauguração da cidade com
Juscelino Kubitschek. Ficamos um tempo para ver como seria a vida na
nova capital”, recorda. As primeiras impressões foram as melhores.
“Diferentemente do Rio, que era grande e conturbado, encontramos o
ambiente ideal para criar os filhos, com muita segurança e colégios
próximos à nossa residência”, lembra.
Naquela época, eram oito filhos. Depois, vieram outros sete. Um faleceu
ainda bebê, com 10 meses, em 1961, devido a uma infecção não
identificada. Outro morreu há dois anos, de leucemia, e hoje são 13 nas
reuniões da família. Antes de se casar com Armando, a única exigência de
Teresa era a quantidade de filhos. “Ele pensava em ter quatro. Eu
avisei que queria muito mais e só casaria com essa condição. Em 20 anos,
engravidei 15 vezes”.
Ativa, ela mora no mesmo apartamento desde 1960, na 206 Sul, e ajuda a
criar os bisnetos. Teoricamente, mora sozinha. Mas são raros os dias em
que acorda e há menos de 10 pessoas na sala de casa. “Tem um esconderijo
que todos conhecem para deixar a chave. Quem mora mais longe fica com
preguiça de voltar para casa e dorme aqui mesmo”, diz. Foi na casa de
dona Teresa que Rodrigo acompanhou a apuração das eleições no último
domingo.
O outro bunker da família fica no Park Way, na mansão Rollemberg,
comprada ainda na década de 1960. Lá, o terreno é dividido em lotes e os
irmãos são vizinhos. É o mesmo endereço em que eles promoviam festas
nos anos 1980. As baladas ficaram conhecidas pela animação e eram das
que mais enchiam da região.
Teresa lembra que ela e o marido apostaram no sucesso do DF desde o
começo. “Muita gente falava mal. Achava que não iria para frente, que
não tinha infraestrutura. Mas investimos e nos demos bem”, acredita. O
terreno e o apartamento na Asa Sul eram muito baratos naqueles tempos.
“Acertamos ao comprar esses imóveis. Imagina hoje, com 110 pessoas? Se
não tivesse lugar para todo mundo, não seria a mesma coisa”, acredita.
Reunir todos é um desafio. Agora, com a agenda mais cheia do que nunca,
ficará mais difícil, mas a matriarca confia que os encontros ainda serão
frequentes. “Rodrigo sempre tem tempo para a família. Assim como os
outros, que também trabalham muito”.
O bisneto mais velho tem 14 anos. Dos netos, a maioria já é adulto e
leva o sobrenome para todos os cantos e todas as profissões. Guto,
inclusive, lembra de uma história que uma tia sempre contava. “Quando
era apresentada para alguém, ela perguntava: qual dos Rollemberg você
conhece?”. Para o início da carreira política de Rodrigo, o sobrenome
conhecido ajudou. “No começo, todos fazíamos campanha e, com certeza,
garantíamos muitos votos”, diz. A proximidade com a família permanecerá
até por questão geográfica. O novo governador mora em uma casa de
madeira, num lote do Park Way, dividido em frações com irmãos. De lá,
não pretende se mudar. A rotina, no entanto, vai se transformar, com o
entra e sai de seguranças e assessores do chefe do Executivo.
Para saber mais: Da Bahia para Sergipe
De origem holandesa, os Rollembergs desembarcaram na Bahia em meados de
1650. No século seguinte, os portugueses se incomodaram com o aumento
de holandeses na região e os expulsaram de lá. Eles foram, então, para
Sergipe. Por lá, se juntaram com outro sobrenome conhecido, os Leites,
e, juntos, se tornaram uma as famílias mais tradicionais da região, com
vários políticos influentes. Um dos hospitais da cidade chama-se Doutor
Augusto Leite, que foi senador. A rodoviária leva o nome de outro
senador da família, José Rollemberg Leite. Além do pai, vários
antepassados de Rodrigo Rollemberg atuaram na política.
Fonte: Correio Braziliense por Matheus Teixeira.
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