Diante da perspectiva de perder o poder, os petistas se uniram. Agora, precisam unir o Brasil
Estes são os homens que darão o tom político do PT em Brasília:
Mercadante, que deve assumir o Ministério do Planejamento, Rossetto, a
Secretaria-Geral da Presidência, e Wagner, cotado para a Casa Civil.
Passada a guerra eleitoral, a mais dura e surpreendente batalha
enfrentada pelo PT desde as eleições de 1989, o partido começa a
contabilizar baixas, resgatar feridos e curar as cicatrizes deixadas
durante o embate político. A agremiação de Lula e Dilma emite sinais
para que seus comandados superem as desavenças internas, resgatem o
diálogo com a base governista e busquem com urgência um acordo de paz
com antigos aliados, com foco no PSB. Já de olho em 2018, a ordem no PT é
estancar sangrias, afinal, após a violenta luta eleitoral, o Brasil que
sai das urnas é um país dividido ao meio. “O desafio é não deixar criar
um clima de terceiro turno”, avalia o deputado federal paulista Paulo
Teixeira, vice-líder da bancada da Câmara. “O novo cenário vai requerer
mais diálogo ainda.”
Como esse nunca foi o ponto forte de Dilma, o PT precisará contar com
bons quadros, hábeis politicamente para trafegar em um Parlamento
pulverizado em 28 partidos e onde enfrentará a oposição mais forte em 12
anos de poder – com o agravante de as bancadas petistas terem sido
reduzidas de 88 para 70 deputados e de 15 para 12 senadores. “A tarefa
mais difícil e mais importante neste momento será recompor a base no
Congresso”, avalia o deputado federal paulista Carlos Zaratini. O PMDB,
por exemplo, que tem a Vice-Presidência e é o principal aliado do PT,
saiu dividido das eleições. O momento é de reflexão e autocrítica: “É
hora de conversar com todas as forças que nos apoiaram, principalmente
os movimentos populares e sindicais, de quem o governo andou afastado
nos últimos quatro anos”, analisa um ministro.
Nesse cenário, despontam três nomes com perfil para conduzir o partido
politicamente em Brasília: o governador da Bahia, Jaques Wagner, que sai
fortalecido das urnas depois de fazer seu sucessor, além dos ministros
Aloizio Mercadante (PT/SP), da Casa Civil, e Miguel Rossetto (PT/RS), do
Desenvolvimento Agrário. Chamados de três mosqueteiros, eles deverão
ter lugar de destaque no primeiro escalão de Dilma. Wagner está cotado
para a Casa Civil, apesar de preferir a pasta do Desenvolvimento
Econômico; Mercadante é um nome lembrado para a Fazenda, mas deve
assumir o Planejamento; e Rossetto deve ser acomodado na
Secretaria-Geral da Presidência, posto prioritário para o PT. Nessa
função, Rossetto irá cuidar do diálogo com os movimentos sociais,
sindicais e religiosos. Ex-chefe da presidenta quando ela trabalhava no
governo do Rio Grande do Sul, Rossetto é acostumado com o temperamento
difícil de Dilma, de quem conquistou o respeito – o que não é pouca
coisa. Entre os governadores eleitos, destaca-se Fernando Pimentel, que
tem o feito de ter tirado dos tucanos a administração de Minas Gerais,
terra natal do rival Aécio Neves, e é amigo pessoal da presidenta.
No front interno, há feridas a serem curadas. Primeiramente, a relação
entre Dilma e Lula, que andou meio estremecida antes da eleição e até
hoje não foi totalmente apaziguada. Nos bastidores, petistas têm dito
que o ex-presidente se queixa de que deveria ser mais ouvido nas
decisões palacianas. Além disso, o Instituto Lula, em São Paulo, virou
ponto de romaria de empresários, sindicalistas e políticos descontentes
com o jeito Dilma de governar. A segunda questão diz respeito ao
temperamento da presidenta, que notoriamente trata mal sua equipe. São
constantes as reclamações das grosserias recebidas por assessores e
dirigentes partidários que trabalham em Brasília. Internamente, diz-se
que metade da equipe da Esplanada não gosta da presidenta e a outra
metade morre de medo das broncas dela. Para contornar os problemas de
relacionamento, viabilizar o segundo mandato e pavimentar o caminho para
o “volta, Lula em 2018”, o PT espera que Dilma adote um novo modelo de
administração. A ideia é que ela delegue mais poder aos outros e dê mais
ênfase à comunicação, considerada um ponto fraco pelos petistas do
núcleo paulista. “Nisso o governo foi um desastre”, tem dito Lula a
interlocutores. “Ela precisa ouvir e dialogar mais com os políticos, os
empresários e os militantes”, avalia um dirigente partidário.
A cúpula do PT está convencida, assim como a própria presidenta, de que
eles derrotaram a oposição não por força dos programas de governo ou
por vitórias individuais de um Estado ou outro, mas por causa da
militância petista aguerrida que estava afastada da legenda e voltou às
ruas na hora em que o partido mais precisou. Curiosamente, o PT nunca
disputou uma eleição tão pacífica entre as tendências internas como a
deste ano. Como Dilma não é um quadro de raiz, como Lula, as correntes
partidárias não têm mais suas capitanias hereditárias dentro do governo.
Diante da perspectiva de perder o poder, os petistas se uniram. Agora,
precisam unir o Brasil.
Fonte: Revista ISTOÉ por Alan Rodrigues.
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