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terça-feira, 28 de outubro de 2014

Política: Vem aí um outro PT?

Diante da perspectiva de perder o poder, os petistas se uniram. Agora, precisam unir o Brasil 

Estes são os homens que darão o tom político do PT em Brasília: Mercadante, que deve assumir o Ministério do Planejamento, Rossetto, a Secretaria-Geral da Presidência, e Wagner, cotado para a Casa Civil.

Passada a guerra eleitoral, a mais dura e surpreendente batalha enfrentada pelo PT desde as eleições de 1989, o partido começa a contabilizar baixas, resgatar feridos e curar as cicatrizes deixadas durante o embate político. A agremiação de Lula e Dilma emite sinais para que seus comandados superem as desavenças internas, resgatem o diálogo com a base governista e busquem com urgência um acordo de paz com antigos aliados, com foco no PSB. Já de olho em 2018, a ordem no PT é estancar sangrias, afinal, após a violenta luta eleitoral, o Brasil que sai das urnas é um país dividido ao meio. “O desafio é não deixar criar um clima de terceiro turno”, avalia o deputado federal paulista Paulo Teixeira, vice-líder da bancada da Câmara. “O novo cenário vai requerer mais diálogo ainda.”

Como esse nunca foi o ponto forte de Dilma, o PT precisará contar com bons quadros, hábeis politicamente para trafegar em um Parlamento pulverizado em 28 partidos e onde enfrentará a oposição mais forte em 12 anos de poder – com o agravante de as bancadas petistas terem sido reduzidas de 88 para 70 deputados e de 15 para 12 senadores. “A tarefa mais difícil e mais importante neste momento será recompor a base no Congresso”, avalia o deputado federal paulista Carlos Zaratini. O PMDB, por exemplo, que tem a Vice-Presidência e é o principal aliado do PT, saiu dividido das eleições. O momento é de reflexão e autocrítica: “É hora de conversar com todas as forças que nos apoiaram, principalmente os movimentos populares e sindicais, de quem o governo andou afastado nos últimos quatro anos”, analisa um ministro.

Nesse cenário, despontam três nomes com perfil para conduzir o partido politicamente em Brasília: o governador da Bahia, Jaques Wagner, que sai fortalecido das urnas depois de fazer seu sucessor, além dos ministros Aloizio Mercadante (PT/SP), da Casa Civil, e Miguel Rossetto (PT/RS), do Desenvolvimento Agrário. Chamados de três mosqueteiros, eles deverão ter lugar de destaque no primeiro escalão de Dilma. Wagner está cotado para a Casa Civil, apesar de preferir a pasta do Desenvolvimento Econômico; Mercadante é um nome lembrado para a Fazenda, mas deve assumir o Planejamento; e Rossetto deve ser acomodado na Secretaria-Geral da Presidência, posto prioritário para o PT. Nessa função, Rossetto irá cuidar do diálogo com os movimentos sociais, sindicais e religiosos. Ex-chefe da presidenta quando ela trabalhava no governo do Rio Grande do Sul, Rossetto é acostumado com o temperamento difícil de Dilma, de quem conquistou o respeito – o que não é pouca coisa. Entre os governadores eleitos, destaca-se Fernando Pimentel, que tem o feito de ter tirado dos tucanos a administração de Minas Gerais, terra natal do rival Aécio Neves, e é amigo pessoal da presidenta.


No front interno, há feridas a serem curadas. Primeiramente, a relação entre Dilma e Lula, que andou meio estremecida antes da eleição e até hoje não foi totalmente apaziguada. Nos bastidores, petistas têm dito que o ex-presidente se queixa de que deveria ser mais ouvido nas decisões palacianas. Além disso, o Instituto Lula, em São Paulo, virou ponto de romaria de empresários, sindicalistas e políticos descontentes com o jeito Dilma de governar. A segunda questão diz respeito ao temperamento da presidenta, que notoriamente trata mal sua equipe. São constantes as reclamações das grosserias recebidas por assessores e dirigentes partidários que trabalham em Brasília. Internamente, diz-se que metade da equipe da Esplanada não gosta da presidenta e a outra metade morre de medo das broncas dela. Para contornar os problemas de relacionamento, viabilizar o segundo mandato e pavimentar o caminho para o “volta, Lula em 2018”, o PT espera que Dilma adote um novo modelo de administração. A ideia é que ela delegue mais poder aos outros e dê mais ênfase à comunicação, considerada um ponto fraco pelos petistas do núcleo paulista. “Nisso o governo foi um desastre”, tem dito Lula a interlocutores. “Ela precisa ouvir e dialogar mais com os políticos, os empresários e os militantes”, avalia um dirigente partidário.

A cúpula do PT está convencida, assim como a própria presidenta, de que eles derrotaram a oposição não por força dos programas de governo ou por vitórias individuais de um Estado ou outro, mas por causa da militância petista aguerrida que estava afastada da legenda e voltou às ruas na hora em que o partido mais precisou. Curiosamente, o PT nunca disputou uma eleição tão pacífica entre as tendências internas como a deste ano. Como Dilma não é um quadro de raiz, como Lula, as correntes partidárias não têm mais suas capitanias hereditárias dentro do governo. Diante da perspectiva de perder o poder, os petistas se uniram. Agora, precisam unir o Brasil.

Fonte: Revista ISTOÉ por Alan Rodrigues.

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