A candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, foi irônica ao responder ontem, na série Entrevistas Estadão, à propaganda da presidente Dilma Rousseff que comparou a adversária a Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello
por se apresentar como “salvadora da Pátria”. Tanto Jânio quanto Collor
não concluíram seus mandatos: o primeiro renunciou e o segundo foi alvo
de impeachment no Congresso. Marina disse que, por não ter sido eleita
nem vereadora antes de chegar ao Planalto, Dilma é que poderia ser
comparada a Collor.
“A
sociedade brasileira me conhece. Conhece os valores que eu defendo, a
luta que eu tenho há mais de 30 anos. Eu comecei como vereadora, fui
eleita deputada, senadora por 16 anos, ministra do Meio Ambiente.
Imagina se eu dissesse que uma pessoa que nunca foi eleita nem vereadora
fosse eleita presidente do Brasil? Aí sim poderia parecer Collor”,
afirmou Marina.
Depois
que as pesquisas de intenções de votos apontaram o empate entre Marina e
Dilma, o PT e a própria presidente passaram a tentar desqualificar o
discurso político de Marina. Uma das principais críticas é que a candidata não teria apoio para governar.
Questionada
sobre o tamanho de sua base, já que é a candidata da menor coligação
entre as três principais chapas presidenciais, Marina afirmou que sabe
negociar. Ao ser confrontada com as dificuldades para conseguir a
maioria na Câmara e no Senado apenas apresentando bons projetos, Marina
brincou com o jornalista do Estado: “Você tem uma visão bem pessimista
do Congresso”.
A
candidata citou exemplos de quando foi ministra do Meio Ambiente do
governo Luiz Inácio Lula da Silva e disse que, mesmo sem o apoio do PT,
conseguiu aprovar leis negociando diretamente com lideranças
partidárias.
Perguntada
se a intenção de governar sem o apoio de partidos, apenas com o suporte
das “pessoas de bem” de cada legenda, não era antidemocrático, Marina
respondeu que esses políticos representam as siglas pelas quais foram
eleitos. “Antidemocrático é governar apenas para os partidos, como está
sendo feito hoje. Temos uma governabilidade canhestra. Governar com
Pedro Simon (PMDB-RS), que foi da resistência democrática deste País, um
senador do quilate de Cristovam Buarque (PDT-DF), não prescindir de
apoio de pessoas como Eduardo Suplicy, que é do PT, e até mesmo, tendo
posição diferente do ponto de vista político, se ele for eleito, o José
Serra. Não acho que ele vá se furtar a dar o apoio ao governo”, afirmou.
Menos pastas
Marina
reafirmou a intenção exposta pelo seu companheiro de chapa, Eduardo
Campos, morto em um acidente aéreo no dia 13, de cortar o número de
ministérios. Não disse, porém, quais pastas seriam fechadas. “Há, no meu
programa, o compromisso de reduzir ministérios. Quantos vão ser
cortados depende da discussão dos critérios estabelecidos.”
De
acordo com ela, os 39 ministérios do governo Dilma representam
concessões para partidos da base governista. “Hoje temos 39 ministérios
que servem para alocar aliados. Cada um quer ter um ministério para
chamar de seu”.
Durante
a entrevista, Marina também fez críticas ao tucano Aécio Neves,
terceiro colocado nas pesquisas. Em uma provocação velada, disse que é
temeroso divulgar nomes da equipe de governo antes das eleições - o
candidato do PSDB anunciou o ex-presidente do Banco Central Armínio
Fraga como ministro da Fazenda. “Acho temerário andar de salto alto
nomeando ministros antes de ser eleito. Primeiro tem que ser nomeado
pelo povo”, disse. “Se existe insegurança do que está fazendo, é preciso
utilizar esse tipo de recurso”, provocou a candidata.
Em
uma crítica a tucanos e petistas, Marina disse que os dois partidos
“fulanizam” as conquistas obtidas pela sociedade. Ela prometeu que nunca
dirá - como o fez o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que tal
coisa foi criada por seu governo. Marina repetiu seu discurso contra a
polarização tradicional da política brasileira nos últimos 20 anos. “PT e
PSDB foram para um distanciamento tão predatório, que a polarização
prejudica o futuro do País”, afirmou.
A
ex-ministra elogiou conquistas do PSDB, em especial a estabilidade
econômica, e do PT, destacando os programas de distribuição de renda que
ajudaram na inclusão social de milhões de pessoas.
Sobre
a possibilidade de governar com apoio tanto de Lula quanto do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, voltou a dizer que poderia ter
um diálogo de governabilidade com ambos. Marina afirmou que o PSDB ficou
dependente do antigo PFL e o PT, do PMDB. “Tenho certeza de que seria
muito melhor conversar com FHC e Lula do que ter que conversar com como
Antônio Carlos Magalhães, José Sarney, Collor, (Paulo) Maluf ou Renan
Calheiros.”
Nessa
hora, Marina foi lembrada que Renan já está fazendo campanha para ser
reeleito presidente do Senado e questionada que, nessa situação, terá de
conversar com o senador do PMDB de Alagoas. “Conversaremos, mas não com
a ideia de que ele será subordinado ao Executivo”, disse a
presidenciável, ao dizer que respeita a autonomia do Congresso.
Subir gasolina é com Dilma
A
candidata do PSB voltou a jogar para Dilma a responsabilidade pelo
reajuste dos preços administrados no País, a exemplo dos combustíveis.
Segundo Marina, a política do governo de segurar os preços da gasolina e
outros derivados do petróleo para controlar a inflação tem um custo
alto para a sociedade, e cabe à presidente assumir esse problema.
“Eu
espero que a presidente Dilma, que tem a responsabilidade de fazer isso
(o reajuste de preços), o faça. Quem está no governo deve assumir suas
responsabilidades”, afirmou. A candidata condenou o que chama de uso
político da Petrobrás, assim como, segundo Marina, acontece com as
instituições financeiras estatais.
Como
exemplo, a candidata citou o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), que teria emprestado mais de R$ 500 bilhões
para empresas sem critérios claros e transparência. “Esse dinheiro não
passou pelo Parlamento ou por discussão que os brasileiros tenham tido
acesso”, afirmou.
A
presidenciável voltou a desferir críticas ao atual governo pelo baixo
crescimento econômico e a alta da inflação. “Ela (Dilma) está entregando
o governo pior do que encontrou”, disse, repetindo um bordão criado por
Campos. “Ela (Dilma) prometeu que ia abaixar juros, fazer o País
crescer e reduzir inflação, mas nada disso aconteceu.”
Marina
também reiterou o seu compromisso com o tripé econômico - meta de
inflação, superávit primário e câmbio flutuante. Defendeu novamente a
independência do Banco Central. O modelo dessa independência, explicou,
ainda está sendo estudado com base em casos ao redor do mundo. Para
Marina, o BC brasileiro perdeu a autonomia por causa das intervenções do
governo na entidade.
Código Florestal
Em
resposta a uma pergunta das redes sociais, Marina disse que seu governo
vai colocar em prática as diretrizes do Código Florestal, caso seja
eleita. Segundo a candidata, a legislação não foi aprovada como ela
gostaria - na época da votação, a ex-ministra foi contra o projeto - mas
que, uma vez aprovado pelo Congresso, o código deve ser respeitado.
“Não foi a lei que eu queria, mas foi a lei aprovada e ela deve ser
implementada.”
A
candidata também falou sobre regularização de terras indígenas e de
conservação ambiental e a relação com produtores rurais. De acordo com
Marina o que as pessoas envolvidas em conflitos por terras desejam é
segurança jurídica. Marina afirmou que, no caso de áreas reclamadas por
populações indígenas, tanto eles quanto agricultores presentes nesses
locais estão dispostos ao diálogo para resolver a questão. “Acho injusto
dizer que agronegócio é oposição às populações indígenas e ao meio
ambiente”, afirmou Marina.
Ela
disse ainda que, em um eventual governo, o procedimento para a obtenção
de licenciamento ambiental terá “qualidade, sem perder agilidade”.
Pré-sal
Sobre
a matriz energética do Brasil, Marina disse não ter qualquer
preconceito com a fonte hidrelétrica nem com o pré-sal. “O pré-sal é
fundamental e fundamental é também investir em outras matrizes de
energia.” Questionada se pretenderia reduzir os investimentos no
pré-sal, como acusam adversários políticos, respondeu: “Não, muito pelo
contrário”.
Ela
argumentou que as receitas do pré-sal serão fundamentais para o País
investir em educação e em tecnologia que irão subsidiar o
desenvolvimento de novas fontes de energia.
Rede
Marina
disse que o projeto de criar a Rede Sustentabilidade, partido que ela
tentou tirar do papel no ano passado e não conseguiu por falta de
assinaturas, é maior que ela e que, por isso, será oficializado
independentemente da sua vontade. “A Rede já é uma realidade, não é o
partido da Marina.”
Sobre
sua posição pessoal no PSB, após a morte de Campos, Marina repetiu que
foi “acolhida” pelo partido e que é solidária à legenda. “Tenho uma
solidariedade profunda com o PSB”, afirmou a candidata.
Fonte: Estadão.
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