Um exército de militantes com cargos públicos se organiza para elevar o
tom da Propaganda eleitoral de Dilma e evitar um revés na urnas. Até o
ex-presidente Lula entra na briga com um discurso mais radicalizado.
A eventual reeleição de Dilma Rousseff para a Presidência marcaria um
recorde na história da República: nunca um partido político terá ficado
por tanto tempo no poder. Nem mesmo os 21 anos da ditadura militar, com
suas divisões internas e troca de grupos de comando, podem ser vistos
com um período de direção partidária única, como seriam os 16 anos da
era petista. O estilo da ação e a longevidade do PT no Palácio do
Planalto claramente já deixaram marcas na máquina administrativa e
política do governo. Ao longo de 12 anos, o número de cargos de
confiança, por exemplo, saltou de 17 mil para 22 mil. Este universo de
servidores, frequentemente nomeados por critérios políticos, criou uma
estrutura de petistas aguerridos e abnegados, cujos salários e encargos
fiscais consomem mais de R$ 200 bilhões por ano. Isso não é coisa para
se desleixar. O risco de não ganhar as eleições já deixa esses
servidores-militantes em desespero. A perda de poder em Brasília – ou,
vá lá, da chance de praticarem seus ideais – assusta tanto quanto a
perda dos cargos comissionados e a perspectiva de terem de a retornar a
seus estados de origem para buscarem novos empregos. Hoje, os DAS
(cargos de Direção e Assessoramento Superior) podem passar de R$ 20 mil
mensais.
CLIMA TENSO
Na sexta-feira 19, Dilma se exaspera após coletiva à imprensa no
Palácio da Alvorada, num clima em que o PT exagera na dose dos ataques
aos adversários na corrida eleitoral
Este clima de tensão entre os servidores-militantes contaminou a
campanha eleitoral e pode explicar boa parte do tom da propaganda
petista, que passou a adotar o jogo bruto, com ataques exagerados aos
adversários e alguma falta de discernimento entre o público e o privado.
No início do mês, uma reunião na sede do partido, em São Paulo, se
transformou em uma acalorada discussão sobre a participação mais efetiva
dos funcionários públicos na eleição. No encontro, líderes do PT
cobraram mais empenho de servidores comissionados e os exortaram a ir às
ruas em favor da reeleição de Dilma Rousseff. O recado estava
implícito. Quem não se mexer, tem o emprego ameaçado. Assim, o PT tem
organizado caminhadas pelo País, a exemplo da que ocorreu em Brasília no
último dia 13, em que grande parte dos cerca de quatro mil
participantes era de funcionários públicos. Atos em prol da candidata do
PT, como a reunião com artistas brasileiros, no último dia 15, viraram
palcos quase exclusivos de ataques a adversários. Dilma aproveitou a
oportunidade para, em tom agressivo, repetir diversas vezes que as
propostas de Marina Silva, candidata do PSB, apresentariam riscos ao
País. No mesmo dia, o exército de internautas petistas divulgava nas
redes sociais críticas da classe artística à segunda colocada nas
pesquisas.
Na semana passada, uma manifestação de homenagem a Petrobras
capitaneada pelo ex-presidente Lula ilustrou bem o atual momento da
campanha. Suado e descabelado, Lula esbravejou ao pedir apoio dos
militantes. Disse que é preciso proteger a estatal contra Marina Silva,
afirmando que ela não conhece e não dá importância às riquezas do
pré-sal. Antes do evento, em uma reunião rápida com o líder do Movimento
dos Sem Terra, José Pedro Stédile, Lula conclamou o antigo aliado a se
engajar na campanha. A resposta veio rápida. Em entrevista, na
segunda-feira 15, Stédile prometeu realizar invasões e fazer protestos
diários, caso Marina vença a eleição. No comitê da candidata do PSB, a
ameaça virou piada. “Entendo o temor deles, que vão ficar sem empregos”,
respondeu o coordenador do comitê financeiro do PSB, Márcio França.
Suado e descabelado, Lula esbravejou em evento da Petrobras contra
Aécio Neves e Marina Silva. Até o MST foi chamado para ameaçar invasões
em caso de derrota governista.
Mas o comportamento da campanha de Dilma está longe de ser uma
distração eleitoral. De olho num embate no segundo turno das eleições,
os petistas voltaram a jogar pesado no horário eleitoral gratuito. Na
TV, um locutor apareceu dizendo que, se eleita, Marina Silva vai tirar
R$ 1,3 trilhão da Educação e extinguir o pré-sal. A peça publicitária
foi exibida dias depois do polêmico vídeo que mostrava uma família com a
comida saindo no prato, como consequência da proposta de autonomia do
Banco Central apresentada por Marina. Diante dos ataques, a candidata do
PSB entrou com três representações no TSE contra a veiculação das
propagandas do PT. No documento, argumentou que sua imagem fora
duramente atingida pela candidata adversária, que teria apresentado um
dado fraudulento com o propósito de incutir o medo nos eleitores. O
mérito ainda não foi julgado, mas conta com o parecer favorável do
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que viu intenção
deliberada dos petistas de criarem “artificialmente, na opinião pública,
estados mentais, emocionais ou passionais”, o que é vedado por lei.
Para ironizar também o candidato do PSDB, Aécio Neves, que tem dito que o
sonho dos brasileiros é morar no País retratado pela propaganda
ilusória de Dilma, os petistas levaram ao ar um personagem denominado
Pessimildo, um boneco rabugento que faz troça dos críticos do governo e
foi inspirado em figuras conhecidas da televisão com o objetivo de
satirizar todas as críticas feitas à petista. A principal linha do
discurso do personagem é responder ponto a ponto os programas eleitorais
dos adversários.
Enquanto a campanha do PT foca-se no ataque pessoal aos adversários,
crises internas afetam a própria candidata do partido. No final da
última semana, a presidenta Dilma pediu a suspensão da divulgação de seu
programa de governo após impasse com alas do PT que defendem ideias
contrárias à posição do Planalto. A intenção inicial dos petistas era a
de incluir no texto propostas com grande apelo eleitoral e que pudessem
atrair categorias diversas de eleitores, como o fim do fator
previdenciário e a redução da jornada de trabalho. Dilma, entretanto,
resiste em defendê-las. Apesar de não declarar publicamente, o governo
evita há pelo menos quatro anos que a proposta do fim do fator
previdenciário seja votada no Congresso. O Planalto enfrenta pressão das
centrais sindicais, mas nunca se comprometeu com a ideia da redução da
jornada de trabalho. Ao saber por assessores das propostas para trabalho
e emprego, Dilma pediu o adiamento da divulgação do programa.
No
horário eleitoral, PT usa personagem denominado Pessimildo para
ironizar adversários, enquanto a propaganda do partido retrata um país
sem defeitos.
Enquanto a campanha montada pelos marqueteiros adere ao radicalismo e
reflete parte do desespero de gente agarrada ao poder, Dilma Rousseff
segue tentando transparecer tranquilidade e segurança. Na vantajosa
posição de atual presidenta, ela usa o Palácio da Alvorada como comitê
de campanha sem que a Justiça Eleitoral faça sequer uma advertência. Em
uma única semana, recebeu estudantes, reitores de universidades e
concedeu duas entrevistas como candidata sentada na cadeira
presidencial. O cenário é alentador para os milhares apadrinhados que
tratam a estrutura pública como se fosse privada do partido e consideram
positivo mostrar uma Dilma forte e em posição de superioridade em
relação aos demais concorrentes.
Fonte: Por Izabelle Torres - Revista ISTOÉ.
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