O comitê da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff enfrenta sua primeira crise interna na largada oficial da disputa eleitoral e corre o risco de perder um de seus coordenadores.
Ex-ministro do governo Lula,
Franklin Martins, responsável pelo site da campanha o "Muda Mais",
entrou em atrito com interlocutores da presidente por causa de um post
sobre a CBF, publicado depois do que foi classificado como "terrível
eliminação da seleção".
Irritado,
ele chegou a ameaçar deixar a campanha depois que integrantes do comitê
ligados a Dilma pediram que fosse retirado o texto que apontava a CBF
como responsável pela desorganização do futebol. "Impera na CBF um
sistema que em nada lembra uma instituição democrática e transparente. É
preciso mudar", diz o texto do site.
O
pedido de retirada do post, no mesmo dia em que Dilma reclamou com o
ministro Aldo Rebelo (Esporte) sobre suas declarações defendendo uma
intervenção no futebol, não foi atendido por Franklin.
Lula
entrou no circuito e tentou acalmar seu ex-ministro, de quem é muito
próximo, buscando demovê-lo da ideia de deixar a equipe. O tema vai ser
discutido na reunião de coordenação da campanha nesta segunda (14).
Amigos
de Franklin confirmam o atrito por causa do post, considerado como
"coisa normal na temperatura elevada de eleição", mas negam que ele
tenha ameaçado deixar a equipe.
Logo
depois da derrota, Dilma buscou encampar a bandeira de reformulação do
futebol, defendendo mais profissionalismo. Mas ficou preocupada com o
risco de a oposição associá-la a uma estratégia populista, além de
reforçar a crítica a seu estilo intervencionista.
Assessores
da petista disseram à Folha que a nota da equipe de Franklin foi além
do ponto e, em vez de ser propositiva, criou "tensão desnecessária" e um
"sentimento de guerra equivocado".
Esse
não é o primeiro atrito entre Franklin e dilmistas na organização da
campanha de reeleição. Nome de Lula, ele tem sido "escanteado" no
processo de decisões.
Nas
discussões sobre estratégia de comunicação, João Santana acaba levando a
melhor. Desde que defendeu, numa reunião de coordenação no Palácio da
Alvorada, que Dilma fosse para o embate político, Franklin não se
encontrou a sós com ela.
Ele
não gostou, por exemplo, de não ter participado da elaboração do Plano
Nacional de Transformação, anunciado com pompa por Dilma na convenção do
PT, no último dia 21. Neste caso, não foi só Franklin quem ficou
chateado. Na época, apenas Dilma, o ministro Aloizio Mercadante (Casa
Civil) e João Santana sabiam da ideia.
Por
sinal, outra definição sobre a campanha criou desconforto entre
Franklin e outros membros da equipe. Ele tentou convencer a presidente
que o slogan "Muda Mais" era melhor que o "Mais Mudanças, Mais Futuro",
proposto pelo marqueteiro.
Na reunião, Santana explicou a escolha do mote, e o slogan lançado foi o "Mais Mudanças, Mais Futuro".
Novo estilo
Independentemente
da saída de Franklin, haverá mudanças. O novo estilo de coordenação da
campanha mostra que sai de campo o comando único que imperou em 2010,
quando a direção era do então presidente Lula. Entra em cena um duplo
comando, que obriga a cúpula de campanha a se equilibrar entre visões
nem sempre coincidentes de lulistas e dilmistas.
Na
última eleição, Lula era o todo-poderoso. Dava as cartas e tinha um
grupo de três assessores de peso Antonio Palocci, José Eduardo Cardozo e
José Eduardo Dutra.
Neófita
na política, Dilma só seguia ordens de como se comportar nos embates
políticos, sob o treinamento de João Santana. Agora que já não se sente
mais como debutante, Dilma promoveu uma renovação quase integral na sua
equipe e será mais ativa na definição das estratégias eleitorais,
tomando as principais decisões ao lado de Lula.
Em
2014, o comando da campanha está mais diluído entre os petistas, que
costumam se reunir às segundas-feiras no Palácio da Alvorada para
definir as estratégias.
Fonte: Folha de São Paulo - Andréia Sadi / Valdo Cruz de Brasília.
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