Pivô
de um esquema de lavagem de dinheiro que pode ter movimentado até 10
bilhões de reais, o doleiro Alberto Youssef é um antigo conhecido de
André Vargas
Em mensagens interceptadas pela Polícia Federal, vice-presidente da Câmara trata Alberto Youssef como “irmão”; “Se eu soubesse que ele estava sendo investigado de novo, não teria falado com ele”, diz Vargas
Jatinho do doleiro Alberto Youssef
Quando fretou um avião particular para as férias do vice-presidente da
Câmara dos Deputados, André Vargas (PT/PR), o doleiro Alberto Youssef
não estava fazendo apenas um favor para um político influente no governo
da presidente Dilma Rousseff. Vargas era mais do que isso para o
doleiro. Ambos tratavam-se como irmãos. Nas conversas interceptadas pela
Polícia Federal no âmbito da Operação Lava Jato, o deputado petista não
esconde a euforia ao agradecer Youssef pelo aluguel do jato: “Valeu
irmão.” Um verdadeiro presente de irmão mesmo. Documentos obtidos por
VEJA revelam que o aluguel do Learjet 45, fretado para transportar a
família do petista de Londrina (PR) a João Pessoa, na Paraíba, custou
100.000 reais.
O deputado petista André Vargas, em férias, na Paraíba
Pivô de um esquema de lavagem de dinheiro que pode ter movimentado até
10 bilhões de reais, o doleiro Alberto Youssef é um antigo conhecido de
André Vargas. Como VEJA revela na edição desta semana, Vargas e Youssef
moram na mesma cidade, Londrina, se conhecem há vinte anos e, nos
últimos anos, com a chegada de André Vargas a cargos importantes no
Congresso, conversavam rotineiramente sobre negócios variados. “Ele me
procurava para avaliar investimentos, colher informações, trocar
ideias”, disse Vargas na semana passada. Nessa “troca de informações”
entrariam dados valiosos sobre o programa Minha Casa Minha Vida – cujo
relator foi justamente André Vargas, na Câmara – e negócios do doleiro
no Ministério da Saúde.
Foi interceptando o telefone BlackBerry, o mesmo modelo utilizado por André Vargas, que a Polícia Federal estabeleceu o vínculo do doleiro com o deputado petista. No dia 2 de janeiro, véspera da viagem de férias da família, Vargas e Youssef trocaram vinte mensagens sobre o avião. “Tudo certo para amanhã. Daqui a pouco te passo o tel do comandante... Duração do voo: 3h45 minutos, João Pessoa, Paraíba”, avisa Youssef a Vargas. “Tem o telefone da América?”, pergunta o deputado, referindo-se ao hangar aonde o avião chegaria. “Da América, não. Mas é só buzinar no portão que eles abrem”, orientou o doleiro. “Valeu irmão”, devolveu Vargas. “Boa viagem e boas férias abs (sic)”, responde Youssef.
A proprietária do jato disponibilizado por Youssef ao vice-presidente da Câmara é a Elite Aviation, uma empresa de taxi aéreo de Salvador, na Bahia. O dono da empresa, Bernardo Tosto, conta que o voo de André Vargas foi acertado diretamente com uma agência de São Paulo, que intermediou o contrato com o cliente no Paraná. “Eu não sei nem quem é esse doleiro e esse deputado. Não gosto da política brasileira e não trabalho com isso. Eu fretei o avião para uma empresa de agenciamento de voos. Não preciso saber quem entra no avião. Só tenho que saber que o dinheiro é lícito”, diz Bernardo, que confirmou os valores pagos pelo fretamento da aeronave, mas não quis revelar o nome da agência que intermediou o contrato. Jatos luxuosos como o disponibilizado ao petista costumam vir acompanhados com mimos a bordo, como bebidas caras, chocolates e até pratos sofisticados. A empresa nega, no entanto, que o voo de André Vargas e sua família, com duração de 3 horas e 45 minutos, tenha contato com tais mordomias.
Jatinho fretado pelo doleiro Alberto Youssef (preso) para o vice-presidente da Câmara dos Deputados André Vargas (PT/PR)
Na sexta-feira, quando foi ouvido por VEJA, André Vargas negava ter obtido qualquer vantagem a partir da amizade com o doleiro. Na verdade, nem a relação de proximidade o deputado confirmava: “Amizade é uma palavra sagrada. Não dá para dizer que ele é meu amigo. É no máximo um conhecido corriqueiro. Eu tinha ele como um cidadão comum, que tinha passado por problemas como outros passaram. Posso ter incorrido em alguma coisa imprópria, mas eram apenas conversas, nada ilegal. Se eu soubesse que ele estava sendo investigado de novo eu não teria falado com ele”, disse Vargas. Questionado se o doleiro havia providenciado um avião para sua viagem, André Vargas despistou: “Esse negócio de avião quem está espalhando é o deputado Fernando Francischini, mas não existe isso.” Hoje, porém, ao jornal Folha de S.Paulo, que revelou a viagem de Vargas, o deputado mudou o discurso. Disse que pediu o avião porque os voos comerciais estavam muito caros no período. "Não sei se o avião é dele, ele foi dono de hangar e eu perguntei se ele conhecia alguém com avião", disse o petista.
Fonte: Robson Bonin - Revista VEJA.
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