Titular
da 3ª Vara de Fazenda Pública do DF considera improcedente ação do
Ministério Público que aponta favorecimento de ex-governador pelo
desconto no BRB de um cheque do Banco do Brasil, no valor de R$ 2,2
milhões, emitido pelo empresário Nenê Constantino.
O ex-governador Joaquim Roriz (PRTB) foi absolvido da acusação de favorecimento no episódio que ficou conhecido como “Bezerra de Ouro”.
O juiz Jansen Fialho, da 3ª Vara de Fazenda Pública do DF, considerou
improcedente a ação do Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios (MPDFT) que aponta a ilegalidade na operação de desconto no
Banco de Brasília (BRB) de um cheque do Banco do Brasil (BB) no valor de
R$ 2,2 milhões, emitido pelo empresário Nenê Constantino. O escândalo
ocorreu em 2007, durante as investigações da Operação Aquarela, e levou à
renúncia de Roriz do mandato de senador pelo PMDB cinco meses depois de
tomar posse.
Diálogos
interceptados pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do DF
revelaram um acerto entre Roriz e o Constantino a respeito da partilha
do dinheiro. A movimentação foi considerada suspeita por envolver o
saque de quantia tão elevada. Roriz ficou sem apoio no Senado para
permanecer no cargo e renunciou para escapar de um processo de cassação.
Ele sempre alegou que a transação envolveu um empréstimo no valor de R$
300 mil que contraiu com Constantino para a compra do embrião de uma
bezerra na Universidade de Marília. Os recursos foram sacados no BRB por
determinação do então presidente Tarcísio Franklim de Moura.
Responsáveis
pela Operação Aquarela, os promotores do Grupo de Atuação Especial de
Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) sempre acreditaram que a história
era mal contada e abriram duas frentes de investigação. Na esfera
criminal, o negócio segue sob apuração. Na área cível, os promotores
ajuizaram a ação de improbidade administrativa, sob o fundamento de que
Roriz usou a influência de ex-governador do DF para pedir o desconto do
cheque na instituição financeira oficial do DF. A operação foi realizada
na tesouraria do BRB e o dinheiro, transportado em carro-forte.
Ao
analisar a ação, Jansen Fialho considerou como válida toda a
argumentação de Roriz. Na sentença, o juiz partiu da premissa de que a
negociação envolveu um empréstimo e apontou que não houve nenhum
favorecimento. “Ao que tudo indica, a única conduta do então Senador da
República foi solicitar o desconto do famigerado cheque, valendo-se do
fato de ter algum relacionamento com Tarcísio. No entanto, embora seja
um pedido estranho, não se evidenciou que a operação havida se deu como
forma de dissimular algum delito ou mesmo pautada para favorecer
indevidamente particulares em detrimento do interesse público, haja
vista a ausência de elementos nos autos capazes de se levar a esse
entendimento”, assinala Jansen.
Além
de Roriz, são alvos da ação de improbidade administrativa Tarcísio
Franklim de Moura, o ex-diretor do BRB Ari Alves Moreira, o ex-chefe da
Casa Civil Benjamin Roriz e o gerente Carlos Antônio de Brito, além do
empresário Nenê Constantino. Todos foram absolvidos. Para o advogado do
ex-governador José Milton Ferreira, a sentença é um reconhecimento de
que não houve nenhuma ilegalidade. “Roriz é muito forte como candidato e
sempre houve um jogo político para prejudicá-lo”, sustenta. O MPDFT vai
recorrer da decisão.
Entenda o caso
Repercussão levou à renúncia
Em
julho de 2007, Joaquim Roriz renunciou ao mandato de senador do
Distrito Federal devido à repercussão da divulgação de diálogos
interceptados na Operação Aquarela, mantidos por ele com o então
presidente do Banco de Brasília (BRB) Tarcísio Franklim de Moura. Três
anos depois da renúncia, o ex-governador tentou retornar ao Palácio do
Buriti, mas teve a candidatura impugnada pelo Ministério Público
Eleitoral com base na Lei da Ficha Limpa.
A
regra estabelece uma pena de inelegibilidade para quem renuncia ao
cargo quando já tramita uma representação que pode levar à cassação do
mandato parlamentar. O caso levou a um impasse no Supremo Tribunal
Federal (STF) sobre a possibilidade de Roriz concorrer nas eleições de
2010. Um empate no plenário deixou a demanda sem solução, uma vez que a
Corte estava incompleta, com apenas 10 ministros, sem condições de levar
à maioria numa das posições.
Com
a composição completa, no ano seguinte, o STF decidiu que a Lei da
Ficha Limpa valeria a partir das eleições municipais de 2012. Roriz,
então, passou a ser atingido para a disputa deste ano. Ele chegou a
anunciar que seria candidato ao governo, mas se retirou do páreo ao
fechar acordo para apoiar o ex-governador José Roberto Arruda (PR) na
pretensão de retornar ao Executivo. A filha caçula de Roriz, a distrital
Liliane Roriz (PRTB), foi
indicada para integrar a chapa como vice. No Judiciário, além da ação de
improbidade administrativa, tramita uma denúncia na 10ª Vara Criminal
da Justiça Federal contra Roriz pelo mesmo objeto.
Fonte: Ana Maria Campos - Correio Braziliense.
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