TSE registrou em 2013 somente 136 mil novas inscrições, o menor contingente dos últimos 5 anos
A
filiação de brasileiros a partidos políticos despencou no Brasil em
2013. Dados divulgados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TSE) mostram
que, desde 2009, nunca foi tão baixo o número de pessoas que se
engajaram na atividade partidária no país. No ano em que uma onda de
protestos populares tomou as ruas em diversos estados, foram
contabilizadas somente 136 mil novas filiações. Isso representa quase
metade do novo contingente registrado em 2012 (222 mil) e menos de 10%
das adesões de cinco anos atrás, quando 2,5 milhões entraram para algum
partido.
Em
percentuais, significa dizer que o ritmo de crescimento das filiações
caiu de um patamar de 22% em 2009 para 0,9% em 2013. O TSE vem
registrando há alguns anos quedas constantes. A mais recente estatística
do TSE, divulgada em janeiro, apontou que, atualmente, 15,3 milhões de
brasileiros estão filiados aos 32 partidos do país. Essa contabilidade é
feita anualmente, depois que as legendas encaminham ao tribunal, em
outubro, a relação de seus militantes.
A
desaceleração de filiações não é um fenômeno novo nem restrito ao
Brasil, segundo especialistas em partidos políticos. Mas, para o
professor Lúcio Rennó, do Instituto de Ciência Política da Universidade
de Brasília (UnB), chama a atenção a velocidade com que essas taxas
caíram no país nos últimos anos.
—
Uma hipótese é de que isso seja resultado da acentuação do processo de
perda de credibilidade das formas tradicionais de engajamento político.
Embora seja uma tendência mundial, ela se mostraria mais aguda no Brasil
pelos episódios de corrupção e pela insatisfação com o desempenho dos
partidos — afirmou Rennó.
Não
há como saber, por enquanto, se essa queda expressiva em 2013 tem
relação com as manifestações que pararam as ruas do país, num claro
recado de descontentamento com o sistema político e seus representantes.
— Somente uma análise mais detalhada poderá responder a essa questão — disse Rennó.
Segundo
o cientista político Marcus Figueiredo, pesquisador do Instituto de
Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, o incremento do número de militantes costuma ser sazonal. Ele
explicou que é após um ano eleitoral que os partidos registram os
crescimentos mais expressivos de filiados — resultado da exposição e da
mobilização das siglas durante a campanha.
—
Não estamos falando aqui de filiação de quem quer ser candidato, mas de
pessoas que querem se engajar. As eleições estimulam esse tipo de
participação — disse Figueiredo.
Em pesquisa, 64% dos policiais assumem não ter treinamento adequado para lidar com protestos.
Manifestações: analistas cobram protocolo de ação para policiais.
Mas
as estatísticas oficiais mostram que isso não ocorreu no último pleito,
em 2012. No ano da eleição, o aumento do número de filiados foi de
1,49% e, no ano seguinte, de 0,9%.
—
A hipótese mais plausível é que tenha crescido o desinteresse por
atividades partidárias, e as demonstrações nas ruas são um sintoma dessa
perda de interesse — avaliou Figueiredo.
PMDB e PSDB perderam filiados
Entre
os cinco maiores partidos, PMDB e PSDB foram os que tiveram o pior
desempenho no ano passado. Ambos não registraram novos militantes. Pelo
contrário, perderam filiados. O exército tucano registrou cerca de 4 mil
baixas, e o do PMDB, 1,3 mil. Se isso foi proveniente de desligamentos
ou de atualização cadastral — em casos de falecimento, por exemplo —, as
estatísticas do TSE não esclarecem.
O
PT foi o único nesse grupo a ter incremento de filiados acima da média
nacional nos últimos anos, com 37 mil novos militantes. Para o professor
Rennó, isso tem uma explicação:
— Os partidos que estão no governo sempre acabam atraindo mais filiados e simpatizantes do que as legendas de oposição.
Rennó
diz que o fato de o país estar registrando a cada ano um número menor
de filiações partidárias não significa, necessariamente, um aumento da
despolitização da sociedade. Para ele, os brasileiros estão procurando
outros canais de representação, como movimentos sociais e organizações
não governamentais.
—
Em outros países, estamos assistindo a esse mesmo fenômeno. Os partidos
hoje têm mais competidores. Não vejo isso como uma ameaça à democracia e
sim um aprofundamento de outros mecanismos de pressão política.
Marcus
Figueiredo apontou um outro dado que confirma a avaliação do colega da
UnB. Segundo ele, o percentual de brasileiros filiados a partido
político tem se mantido estável em torno de 1% do eleitorado nacional.
— Não vejo isso como ameaça porque continuamos tendo novas filiações, embora em ritmo menor.
Para
os dois, com a queda do número de novos adeptos cada vez menos as
legendas exercerão a função de interlocutoras com a sociedade.
Fonte: O Globo.
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