O
vice-diretor do Centro de Progressão Penitenciária (CPP), Emerson
Antonio Bernardes, foi demitido do cargo depois de o presídio registrar
uma ocorrência envolvendo o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. O
registro diz respeito a um encontro entre Delúbio e o presidente do
Sindicato dos Agentes de Atividades Penitenciárias (Sindpen) no DF,
Leandro Allan Vieira, que teria ocorrido num fim de semana. O teor da
conversa passou a ser objeto de investigação interna. Vieira é
pré-candidato a deputado distrital.
O
registro da infração do petista teria sido feito pelo vice-diretor do
CPP. Outras duas medidas a cargo de Emerson Bernardes teriam desagradado
a Delúbio e a petistas próximos ao réu: a determinação para que ele
retirasse a barba, o que aconteceu no CPP, e uma proibição de o carro da
Central Única dos Trabalhadores (CUT), onde Delúbio trabalha durante o
dia, entrar no pátio do presídio.
Nos
dois casos, a permissão representaria uma regalia ao petista, uma vez
que os detentos do CPP em cumprimento do regime semiaberto precisam
fazer a barba e não podem pôr o carro no pátio interno, quando retornam
do trabalho. Dentro do CPP, antes das proibições, Delúbio chegou a ser
interpelado por alguns detentos:
— Agora pode? — perguntaram presos, sobre a barba usada pelo ex-tesoureiro do PT.
Delúbio
foi transferido do Complexo da Papuda para o CPP há pouco mais de um
mês, desde que obteve autorização da Justiça para trabalhar na CUT. O
presídio é destinado a detentos que já têm trabalho externo durante o
dia. À noite, os presos dormem no CPP. É permitido visitar a família em
fins de semana alternados.
Ocorrência encaminhada à VEP
Para
o ex-vice-diretor do CPP sobrou agora a tarefa chefiar um depósito de
veículos ainda em construção. A ocorrência aberta pela administração do
presídio foi encaminhada à Vara de Execuções Penais (VEP) em Brasília,
responsável pela execução das penas de prisão dos réus do mensalão que
estão na capital federal.
O
presidente do Sindpen, como representante da categoria, pode circular
pelas unidades prisionais no DF para se encontrar com os colegas da
categoria. Mas, conforme autoridades responsáveis pelo sistema, o
encontro com Delúbio, durante um fim de semana, dentro do CPP, foi
considerado irregular.
Desde
a prisão dos réus do mensalão, em novembro, regalias concedidas a eles
por parte da gestão petista do governo do DF vêm sendo criticadas e
combatidas pela Justiça, pelo Ministério Público e pela Defensoria
Pública. Fontes que atuam no sistema prisional afirmam que o diretor do
CPP, Afonso Dourado, também pediu demissão do cargo em razão de uma
suposta pressão para tratamento diferenciado a Delúbio. A Secretaria de
Segurança Pública do DF, responsável pela administração penitenciária,
não confirma nem nega a informação.
O GLOBO
tentou ao longo de todo o dia de ontem falar com o presidente do
Sindpen no DF. O escritório onde funciona o sindicato estava trancado à
tarde. Ninguém atendia ao telefone. O repórter ligou para três celulares
de Vieira. Ele não atendeu a nenhum.
O
ex-vice-diretor do CPP também não foi localizado nem deu retorno às
ligações. O novo cargo comissionado para o qual foi nomeado pelo
governador Agnelo Queiroz (PT) é de chefe do Depósito de Veículos
Apreendidos do Departamento de Administração Geral da Polícia Civil. No
departamento, a informação é a de que ele passa os dias no depósito,
numa região administrativa afastada do centro de Brasília. O galpão
ainda é um canteiro de obras.
No depósito, O GLOBO
encontrou apenas um operário, que disse não conhecer Bernardes. Por
meio da assessoria de imprensa, a Secretaria de Segurança Pública do DF
afirmou que a exoneração do vice-diretor ocorreu a pedido dele. E que,
na função de chefia para o qual foi nomeado na Polícia Civil, receberá
uma “gratificação ainda maior”.
Além
de Delúbio, estão no CPP Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL, e o
ex-deputado Bispo Rodrigues. Como Delúbio, eles também conquistaram o
direito de sair durante o dia para trabalhar.
Fonte: Informações, O Globo
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