Um churrasco na chácara durante as eleições
e uma denúncia anônima de compra de votos com fotos da festa são os
ingredientes de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) que
envolve três pré-candidatos ao governo do Distrito Federal: Agnelo Queiroz (PT), que deve tentar a reeleição, o senador Rodrigo Rollemberg (PSB/DF) e o deputado federal Luiz Pitiman (PSDB/DF). A investigação da Polícia Federal ainda envolve o senador e ex-governador Cristovam Buarque (PDT/DF), os deputados federais Policarpo (PT/DF) e Érika Kokay (PT/DF) e o deputado distrital Cabo Patrício (PT). Todos os ouvidos pelo site negam a suspeita.
Tudo
aconteceu em 2010, durante o período eleitoral. Em setembro daquele
ano, chegou à Procuradoria Regional Eleitoral do Distrito Federal uma
denúncia anônima com 64 fotos do evento dentro de um CD. “A coligação
Novo Caminho e [os] candidatos Rodrigo Rollemberg, Agnelo Queiroz,
Policarpo, Érica Kokay, Cabo Patrício, Pitiman e Cristovam Buarque […]
ofereceram churrasco realizado em chácara do empresário Sérgio Melo,
proprietário da Formato Engenharia, visando aproveitar esse artifício
para angariar votos, prática ilícita prevista no art. 299 do Código
Eleitoral, conforme demonstram as fotografias no CD em anexo”, diz a
acusação apócrifa.
As
fotos mostram que muitos participantes estavam com camisetas e adesivos
de campanha dos sete políticos e também da então candidata à
presidência Dilma Rousseff, anotou a PRE, em ofício ao Tribunal Regional
Eleitoral (TRE) do Distrito Federal. Mas, ao contrário dos outros
políticos, Dilma não foi arrolada no inquérito da Polícia Federal.
Os
policiais e procuradores, porém, não avançaram nas investigações,
consideradas “em estágio inicial”, sem “imputação” de crime. Tentaram
ouvir o empresário Sérgio Henrique de Melo, suposto dono da chácara, mas
sem sucesso. Depois, pediram para tomar o depoimento de Rollemberg, que
estava no churrasco. “Eu fui lá, almocei. Fiquei alguns minutos”, disse
o senador à reportagem. Ele diz que alguns cabos eleitorais, presentes à
ocasião, podem ter pedido votos, mas de forma particular. Rollemberg,
porém, nega qualquer compra de votos. “Era um evento aberto ao público
daquela comunidade. Nem sei quem estava organizando.”
A
PF abriu o inquérito em março de 2011. O pedido para ouvir o senador
foi negado em outubro de 2012 pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Na
visão da corte eleitoral o caso deveria ser remetido ao Supremo
Tribunal Federal (STF) por envolver congressistas. Após muitos recursos
para manter a investigação na primeira instância, só agora a denúncia
vai ser apurada, quase quatro anos depois dos fatos e às vésperas das
próximas eleições.
O
inquérito chegou ao gabinete do ministro Ricardo Lewandowski há um mês,
em 23 de dezembro. Ele deve enviar o caso para o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, antes de decidir se autoriza o pedido de
depoimento de Rollemberg e demais diligências a serem pedidas pelo
Ministério Público para comprovar se houve ou não a alegada compra de
votos.
Gravação e indícios 'Pitiman'
“Eu
nem fui lá. Esse tipo de picuinha desestimula”, disse o deputado ao
Congresso em Foco. Na época, ele era filiado ao PMDB e tinha participado
do governo de José Roberto Arruda. Segundo o hoje tucano, faz parte do
inquérito uma gravação com discursos políticos, mas os papéis obtidos
pelo site não mencionam áudios ou vídeos. Apesar disso, nenhum político
era considerado indiciado até 2012. Pitiman afirma que cogita até
abandonar a política a e a candidatura ao governo do Distrito Federal
este ano. Rollemberg diz que não organizou o churrasco, mas apenas ficou
ali alguns minutos e almoçou com os presentes.
De
acordo com o deputado federal, seu nome só foi envolvido porque, no
estacionamento ao lado do churrasco, havia faixas no chão com seu nome.
Pitiman diz que uma gravação de discursos comprova que ninguém cita seu
nome. “A reunião é da coligação do PT. Não fui convidado e não fui.” Ele
disse que um outro político discursou, mas não quis revelar o nome e
nem fornecer cópias do inquérito. Os advogados dele e de Rollemberg
possuem a íntegra do processo. Ao contrário do que diz Pitiman, o
senador afirma que ninguém discursou.
O
senador do PSB disse que outros políticos estavam presentes, mas não se
recorda quem eram. “É uma denúncia despropositada e que o STF vai
arquivar”, afirmou. Pitiman se mostrou indignado. “Tem a foto de uma
faixa minha no chão do estacionamento e por isso meu nome vai sair no
site mais acessado do Congresso Nacional”, reclamou o deputado federal.
Apesar
da queixa do deputado, o Ministério Público acredita que existem
“indícios de participação” de Pitiman no evento. “Há indícios da
participação do embargante, pois, embora ele não apareça em nenhuma das
fotografias anexadas à notícia, havia, supostamente no local, peças
publicitárias de sua campanha”, escreveu em parecer o procurador
regional eleitoral Elton Ghersel, em janeiro do ano passado. Apesar
disso, o procurador frisou que há apenas “investigação, em estágio
inicial” sem “imputação” de crime e sem exigência da prova de que houve o
delito.
Sem retorno
O
site procurou os envolvidos no inquérito, mas não recebeu retorno de
todos até o fechamento desta reportagem. A assessoria do governador
Agnelo Queiroz não retornou os recados deixados na Secretaria de
Comunicação. O deputado Policarpo (PT/DF) disse que responderia, mas
provavelmente não nesta quinta-feira (23). Por meio de assessores,
Cristovam disse desconhecer o caso. Segundo o TRE, ele foi intimado em
novembro de 2012.
Fonte: Congresso Em Foco.
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