Os gastos com funcionários comissionados que trabalham diretamente com cada parlamentar subirão para R$ 173,6 mil a partir da próxima quarta-feira. Em 2009, esse valor somava R$ 97 mil. Lei aprovada na época abriu brecha para mais cargos
Plenário da Câmara Legislativa: além da lei que amplia o número de cargos comissionados, a verba de gabinete foi inflada por reajustes salariais |
Sem alarde e aos poucos, os deputados distritais praticamente dobraram,
nos últimos quatro anos, as despesas com servidores de seus gabinetes.
Em 2009, a Casa aprovou uma lei que abre brecha para o aumento de cargos
dos comissionados que trabalham diretamente com os parlamentares.
Diante disso e dos reajustes salariais concedidos aos funcionários da
Casa, a verba de gabinete passou de R$ 97 mil para quase R$ 158 mil por
deputado, este ano. A partir de quarta-feira, esse total passará para R$
173,6 mil, ou 80% a mais que antes da aprovação da norma.
Os números são ainda mais expressivos quando contabilizadas as despesas dos gabinetes de todos os 24 deputados. Por mês, os servidores comissionados recebem R$ 3,7 milhões. Em um ano, a bolada chega a R$ 50,5 milhões (leia quadro). Com esse dinheiro, seria possível, por exemplo, construir 25 escolas públicas.
O aumento ocorreu após a Câmara Legislativa aprovar, em junho de 2009,
projeto de lei que institui o plano de cargos, carreira e remuneração da
Casa. No texto, além da composição ideal de servidores por gabinete,
foram autorizadas nomeações extras (confira O que diz a Lei), que
aumentaram o número de cargos. Em vez de 12 por gabinete, o total passou
para 17.
A Lei nº 4.342/2009, em seu artigo 41, trata da quantidade de
servidores por gabinete, originalmente de 12 pessoas. No entanto, como
prevê a regra, os distritais podem desdobrar esse número, distribuindo a
verba disponível e chegar à quantidade de 23 cargos. Na prática, a
maioria dos distritais trabalha com essa ocupação integral, chegando a
reunir até 28 servidores. Além disso, a verba também foi acrescida do
reajuste salarial concedido aos servidores da Câmara, nos últimos três
anos — 5% em 2011 e 2012; 8% em 2013; e 10%, previstos para janeiro de
2014.
O texto foi validado por diversos deputados, muitos da legislatura
anterior, como Leonardo Prudente, na época presidente da Câmara. Alírio
Neto (PEN), hoje secretário de Justiça do DF, e os atuais deputados
distritais Patrício (PT) e Benedito Domingos (PP) também assinaram o
projeto. Eliana Pedrosa (PPS) teria ajudado na articulação, mas não
validou a proposta. Procurada, ela disse não se lembrar da discussão do
assunto na Casa.
Patrício, por sua vez, afirmou que é contra o aumento dos cargos e que,
neste projeto, só votou por ser a favor do plano de cargos e salários.
“A Procuradoria da Casa entendeu, à época, e apresentei, inclusive, uma
emenda supressiva para barrar a possibilidade de terceirização de
funções na nossa estrutura”, ressaltou. Rôney Nemer (PMDB) também foi um
dos parlamentares responsáveis pela autoria do projeto, mas afirma não
se lembrar da matéria. Segundo ele, seria “impossível” os deputados
terem aprovado tal proposta, já que mudanças na estrutura são definidas
pela Mesa. Benedito e Alírio não foram encontrados ontem.
Comparação
O valor desembolsado pelos distritais com a verba de gabinete é 125%
maior do que o da Câmara dos Deputados. A verba para os deputados
federais foi fixada pela Mesa Diretora em R$ 78 mil por mês. E, assim
como na Câmara Legislativa, serve para custear o vencimento dos
secretários parlamentares e dos funcionários do gabinete que não
precisam ser servidores públicos.
O presidente da Câmara Legislativa, deputado Wasny de Roure (PT),
explicou que parte do aumento pode ser justificada pela inclusão de
servidores da segurança nos gastos do gabinete. O deputado ressalta que
existia uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin) sobre a
distribuição dos vigilantes no quadro da Casa e, para resolver o
impasse, os cargos foram transferidos para os gabinetes. “Tivemos um
quadro de 27 servidores na segurança e tinha que ajustar. Dividimos e
ainda colocamos três à disposição da Mesa Diretora. Mas isso foi feito
sem que onerasse a Câmara. Nesta gestão não houve acréscimo em nenhum
centavo de despesa com pessoal”, garante.
Dinheiro nas meias
Leonardo Prudente foi flagrado em um vídeo recebendo dinheiro de Durval
Barbosa, delator do escândalo conhecido como Mensalão do DEM. Nas
imagens, ele aparece guardando dinheiro nas meias. Ele também
protagonizou, com o ex-distrital Júnior Brunelli e Durval, o vídeo
conhecido como “oração da propina”, em que agradecem pela bolada
recebida.
O que diz a lei
De acordo com a Lei nº 4.342/2009, a composição ideal do gabinete é de
dois Cargos de Natureza Especial (CNE), seis Cargos Especiais de
Gabinete (CL-14), dois Cargos Especiais de Gabinete (CL-09) e dois
Cargos Especiais de Gabinete (CL-06). A soma dos valores remuneratórios
de todos eles poderá ser distribuída conforme escolha do parlamentar,
até o limite de 23 servidores por gabinete. Porém, conforme o artigo 41
da referida norma, além dos cargos previstos na composição ideal, cada
deputado (são 24) poderá contratar mais dois cargos em comissão de nível
CNE cada um, dois Cargos de Segurança Parlamentar (CL-07) e mais um
Cargo Especial de Gabinete (CL-01).
Fonte: Camila Costa - Correio Braziliense.
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