Ex-superconsultor põe à venda imóvel onde atendia empresas no Ibirapuera e reorganiza equipe para nova rotina em Brasília
Já
condenado a 7 anos e 11 meses de prisão por corrupção ativa e
aguardando o julgamento de embargo infringente sobre formação de
quadrilha em 2014 - que pode levar a pena a mais de 10 anos - o
ex-ministro José Dirceu pretende manter uma estrutura modesta de apoio
político e profissional no período de cumprimento da pena. Sua principal
base operacional, uma casa de cerca de 500 m² em São Paulo, na Avenida
República do Líbano, a 300 metros do Parque do Ibirapuera, foi colocada à
venda, com opção de ser locada.
É no local - comprado em 2009, quando o ex-poderoso chefe da Casa Civil
de Lula vivia o auge de sua carreira de consultor, com uma carteira de
15 clientes - que ainda funciona a J.D Assessoria e Consultoria.
Segundo corretores consultados pelo Estado, o imóvel vale pelo menos R$
5 milhões. Dirceu teria pago, segundo se divulgou em 2012, R$ 1,6
milhão. Pessoas próximas ao petista contam que o irmão e sócio dele,
Luís Eduardo de Oliveira e Silva, conclui o atendimento dos últimos
contratos que ainda estão em vigor.
Também é Luís Eduardo quem está pagando as contas e cuidando da
manutenção da casa do ex-ministro em Vinhedo, no interior paulista.
Novos negócios não estão sendo prospectados. Dirceu esperava que sua
prisão, ocorrida há uma semana, só fosse decretada no ano que vem, por
isso não tinha terminado de formatar sua nova estrutura.
Mesmo assim, a equipe de apoio da J.D - um jornalista que respondia
pela agenda, uma secretária e um segurança - já havia sido dispensada.
"O Zé articulou trabalho para todos eles em outros lugares", diz,
reservadamente, um amigo do ex-ministro.
Hoje, só uma recepcionista atende no escritório, que nos bons tempos já
teve 15 funcionários. Enquanto cumprir sua pena em regime semiaberto,
no qual é permitido sair de dia para trabalhar, Dirceu deverá contar com
apenas quatro funcionários remunerados em sua assessoria.
O jornalista Ednilson Machado continua responsável pela assessoria de
imprensa, tendo apoio de outras duas jornalistas para editar o blog. São
elas, aliás, que estão atualizando a página de Dirceu enquanto ele está
detido. Assessora política do ex-ministro, a historiadora Maria Alice
Vieira pretende continuar viajando pelo Brasil e articulando o apoio de
entidades e personalidades à campanha de "denúncia" contra o julgamento.
Ao Estado ela revelou que ainda está vinculada profissionalmente a
Dirceu, mas se tornará voluntária se for necessário. "A rede de apoio
voluntário ao Zé quintuplicou. As pessoas estão se organizando
espontaneamente", afirma.
Voluntários. A linha de frente dos "apoiadores" de Dirceu conta com
dois voluntários que cuidam, entre outras coisas, dos contatos políticos
e do meio campo com o PT: o jornalista Breno Altman e o advogado Marco
Aurélio Carvalho, coordenador do setor jurídico do PT. "O José Dirceu
continuará sendo uma das pessoas mais influentes da política brasileira.
Esse episódio não é o último nem o mais importante capítulo da vida
dele", diz Carvalho.
Para poder usufruir do regime semiaberto, Dirceu precisa comprovar à
Justiça que tem um emprego fixo. Como sua opção foi por permanecer em
Brasília para ficar perto da filha Maria Antonia e do filho Zeca, que é
deputado, sua estrutura será transferida para a capital federal.
Dirceu chegou a articular com o advogado Hélio Madalena, um antigo
amigo, para ser contratado. A conversa, no entanto, não avançou.
A tendência é que o ex-ministro leve para Brasília o escritório da J.D,
no qual poderia ter encontros políticos e algum conforto antes de
retornar para dormir na prisão.
Ex-ministro quer usar blog como 'QG' de sua defesa
Quando deixar o Complexo Penitenciário da Papuda para cumprir o regime
semiaberto, o ex-ministro José Dirceu pretende transformar seu blog na
peça de resistência de sua defesa. Segundo seu advogado criminalista,
José Luís de Oliveira Lima, não há restrição legal para isso.
O que ainda não está definido, e depende da petição ao juiz, é qual o
nível de liberdade que Dirceu terá para organizar eventos políticos.
"Não há vedação de que ele tenha atividade política. Fora do presídio
não há cerceamento ao direito de expressão", afirma o advogado Pierpaolo
Botini, advogado do ex-deputado petista Luiz Carlos da Silva - o
Professor Luizinho, na fase inicial do julgamento do mensalão.
Enquanto cumprir a pena, porém, José Dirceu não poderá se afastar mais
de 100 metros do local onde estiver trabalhando, fora do presídio de
Brasília.
O ex-ministro revelou para amigos que também pretende fazer um curso de
inglês e um mestrado em Direito, iniciativa que poderia levar a uma
redução da pena. Nos primeiros meses do ano que vem, ele retomará as
gravações de um documentário sobre sua vida. / P.V.
Fonte: Pedro Venceslau - O Estado de S.Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário