Provável
candidato à Presidência da República em 2014, Aécio vocaliza uma
considerável parcela do eleitorado brasileiro que tem urticária ao ouvir
palavras como Lula, Dilma e PT
Você quer conversar com Aécio Neves? Ele quer. Ao menos é o que diz no
novo reclame comercial do PSDB, o primeiro movimento um pouco mais
formal do partido com o objetivo de apresentar ao eleitorado nacional
seu provável candidato à Presidência da República. O filmete segue a
escola tucana de comunicação. Aécio – com seu indefectível rosto
bronzeado e claros sinais de um photoshop cirúrgico – fala sem dizer,
exibe-se sem se mostrar, convida sem receber. Não obstante as críticas
cada vez mais recorrentes e desabridas à presidente Dilma Rousseff, a um
ano do escrutínio Aécio segue dando a impressão de que especula com sua
candidatura. Talvez ele seja realmente daqueles que esperam o resultado
do jogo para, só então, entrar em campo; talvez tudo não passe de um
truque de ilusionismo, um número muito bem ensaiado de prestidigitação
política. Não importa: a ordem dos fatores não altera o produto. O
estilo de Aécio Neves não lhe tira um centímetro de poder.
Pergunta provocativa lançada pela plateia: Aécio Neves quer mesmo ser
presidente do Brasil? Sim, agora parece claro, ou que outra explicação
haveria para a estratégia a que ele se entregou nos últimos dois anos
com o objetivo de minar a candidatura de José Serra? Pois bem, com a
palavra Fernando Henrique Cardoso: “Aécio é mais conservador, acomoda
mais. (...) Agora, Aécio gosta demais da vida privada dele. Pode parecer
banal, mas é assim que as coisas funcionam. Com a Presidência, muda
tudo. Como ele não poderia ter mais a liberdade que goza hoje, prefere
pensar que tem tempo pela frente”. Tal observação foi feita por FHC em
entrevista publicada pela revista “Piauí” em 2007.
Aos 53 anos de idade, o Aécio Neves de 2013 rumo a 2014 parece finalmente
estar pronto para transformar as palavras do Príncipe tucano em peças
para arqueólogos ou escafandristas. É hora de levar o mais carioca dos
mineiros a sério. Neste momento, portanto, talvez o seu grande desafio
seja convencer o mundo de que é candidato. Que tal começar pelo próprio
eleitor? “Eu sou Aécio Neves. Vamos conversar?”, propõe ele no fim de
cada uma das suas inserções na TV. Nos comerciais de 30 segundos, o
senador tucano aparece muito bem maquiado e penteado, e com novo visual.
As câmeras agradecem. O tucano ficou tinindo para os debates
televisivos, ainda que cirurgia alguma no mundo seja capaz de lhe dar os
olhos azuis de Eduardo Campos.
Aécio chega à TV soletrando seus primeiros slogans de campanha: “Quem
muda o Brasil não é o político, mas o cidadão”; “É possível melhorar o
transporte coletivo”; “A inflação não está controlada”. Os dois
primeiros emergem claramente da receita de protestos iniciados em junho
nas ruas do país. Já a terceira frase revela que, por ora, os
marqueteiros tucanos tentam provocar chamas esfregando um graveto contra
uma espuma. Será que um ponto percentual a mais ou menos para longe do
centro da meta de inflação comove o eleitor? Bem, um ano é tempo
suficiente para os cientistas do PSDB descobrirem a resposta.
Candidatura já pisa nas ruas
Recentemente, Aécio Neves fez um périplo por três estados do Nordeste. Esteve
em Mauriti (CE) para gravar imagens nos canteiros de obras da
transposição do Rio São Francisco. O projeto é uma das prioridades do
governo Dilma e deveria ter sido concluído no fim do ano passado. Em
outra cidade cearense, Juazeiro do Norte, ao lado do ex-senador Tasso
Jereissati, fez críticas à presidente pelo atraso nas obras. “É muita
propaganda e pouca ação. Vamos levar essa e outras denúncias ao
Congresso Nacional”, afirmou.
Mas, como bem pontuou FHC, o desmedido gosto pelos prazeres da vida
tatuou no senador uma imagem próxima à de um garoto. Até a oficialização
do seu segundo casamento (com a modelo Letícia Weber), realizado numa
cerimônia discreta no Rio, sempre houve o consenso entre os seus amigos
da alta sociedade e do meio empresarial que o senador não namora mulher
feia. A relação com Letícia, no entanto, já dura cinco anos: ela tem 34
anos e as iniciais de A e N tatuadas atrás da orelha direita – dizem que
José Serra grafou o mesmo monograma, mas o vodoo estaria guardado em
local desconhecido. Letícia nasceu em Panambi, no Rio Grande do Sul,
estudou em colégios evangélicos e se mudou com a família para
Florianópolis ainda moça. Apresenta-se como modelo da agência Ford de
Santa Catarina. Pouco mais se sabe sobre ela, que, orientada ou não, não
gosta de falar com a imprensa. Mas, ao frequentar as casas noturnas
mais caras de São Paulo, Rio e Floripa, sai sempre em jornais e
revistas. Ao lado do namorado.
Um teto mineiro a poucas quadras da praia
Mineiro de Belo Horizonte, Aécio Neves sempre teve alma carioca. O
endereço carioca de Aécio fica na Avenida Vieira Souto, 250 metros
quadrados dos mais valorizados do mundo. O imóvel passou recentemente
por uma reforma, ganhando nova decoração, com destaque para uma obra de
Vik Muniz retratando a Praia de Ipanema em cor chocolate. Bobice: a real
fica bem em frente, com atrações que Vik Muniz nenhum no mundo é capaz
de reproduzir. Alguns réveillons na casa de Luciano Huck em Angra dos
Reis selaram amizades: os empresários do ramo de entretenimento Alvaro
Garnero, Luiz Calainho, Alexandre Accioly, o ex-jogador Ronaldo Fenômeno
estão entre as mais próximas.
Também no Rio mora a ex-mulher de Aécio, Andréa Falcão, com a única
filha do casal, Gabriela. Eles foram casados por oito anos, estão
separados há 14, e aparentemente têm um bom relacionamento.
A “dolce vita” quase sempre cobra seu preço, alto e quando menos se
espera: em abril de 2011, Aécio se recusou a fazer o teste do bafômetro e
apresentou uma carteira de habilitação vencida em uma blitz da Lei
Seca, no Rio. Um episódio menor na vida de um cidadão comum, mas que
causou polêmica por se tratar de um político com pretensão de se tornar
presidente do Brasil.
Convém, no entanto, deixar muito claro: enxergar Aécio Neves apenas
pelas lentes dos paparazzi e curiosos no calçadão é grave equívoco. Ele
construiu uma sólida trajetória política. Aprendeu como poucos os
meandros da articulação de bastidor, da aglutinação entre os diferentes,
da composição inimaginável aos olhos comuns mas certeiros entre os
sábios da política mineira. Que outro destino poderia estar reservado ao
neto de Tristão de Cunha e de Tancredo Neves, de quem foi secretário
particular no governo de Minas Gerais e na campanha à Presidência?
Choque de gestão
Economista formado pela PUC-MG, Aécio começou na política no PMDB,
partido de Tancredo, e depois se transferiu para o PSDB. Foi deputado
federal por quatro mandatos, de 1987 a 2002. Em 2002, foi eleito, em
primeiro turno, para o governo de Minas Gerais, com 58% dos votos
válidos – a maior votação da história do Estado até então. Em 2006,
reelegeu-se, goleando os adversários: 77,03% dos votos válidos.
No Palácio Tiradentes, implantou o programa Choque de Gestão, com o
objetivo de “reduzir o tamanho do Estado para investir mais no cidadão”.
Em 2004, ao anunciar o programa, determinou a extinção de cargos,
enxugou o tamanho do Estado e cortou o próprio salário. Até anunciar o
“déficit zero nas contas públicas” de Minas. Com essa plataforma, sua
popularidade virou arrasa-quarteirão entre os mineiros – que pouco se
importaram de ver o governador estar com tanta frequência em solo
carioca.
Ao assumir, em 2010, uma cadeira no Senado Federal, com 7.565.377
votos, o tucano era o maior nome da oposição ao PT. Em seu discurso de
posse, comprometeu-se a atuar como agente fiscalizador do governo
federal, “em defesa do pacto federativo e no exercício da oposição
pautada pela coragem, responsabilidade e ética”. No popular, é mais
direto, ao lamentar uma falta de projeto para o país: “É um governo que
responde estritamente às emergências, institucionalizando o regime do
improviso”. No dia 18 de maio de 2013, Aécio Neves foi eleito presidente
nacional do PSDB, em substituição ao deputado federal Sérgio Guerra, o
que fortaleceu ainda mais seu nome para a candidatura à Presidência pelo
partido.
Quando sacramentar sua indicação como candidato do PSDB à Presidência
da República em 2014, o senador levará sobre os ombros toda a ansiedade
de uma gente que não deseja ficar 16 anos confinada na arquibancada – e
torcendo para o juiz não levantar a placa com mais quatro de acréscimo.
Aécio vocaliza uma considerável parcela do eleitorado brasileiro que tem
urticária ao ouvir palavras como Lula, Dilma, PT, petista e petismo.
Também costuma animar plateias cansadas de três mandatos sucessivos do
grupo acima. Inspira ainda aqueles saudosos dos dois mandatos mais
liberais de Fernando Henrique Cardoso e suas reformas pró-mercado.
Convence, por fim, aqueles que consideram os anos petistas como exemplo
de desorganização das contas públicas, ampliação excessiva do tamanho do
Estado, penetração indevida do governo na vida do cidadão e das
empresas e carência de reformas estruturantes capazes de fazer o País
atingir altitudes mais elevadas.
Trata-se de uma agenda liberal que, se Aécio e o PSDB souberem
defender, pode abocanhar uma fatia relevante da população que vai às
urnas – resta saber se, com a dupla Eduardo Campos-Marina Silva também
enfrentando a presidente Dilma Rousseff, será um discurso forte o
suficiente para levá-lo ao segundo turno.
Antes disso, porém, todos a Ipanema.
Fonte: iG
Nenhum comentário:
Postar um comentário