Dois cheques recebidos pelo ex-segurança de Lula, no valor de R$ 39,3 mil, não foram informados ao TSE
Freud Godoy. “A Copes está desativada desde 1996”
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O cheque de R$ 98,5 mil não foi o único repasse feito com a ajuda de
Marcos Valério a Freud Godoy, ex-segurança do ex-presidente Lula, em
2003. Pelo menos outros R$ 39,3 mil, que tiveram como origem o
empréstimo do banco BMG ao PT, foram depositados na conta da Copes
Serviços de Vigilância, empresa de Freud Godoy, numa agência do banco
Santander em São Bernardo do Campo (SP). O repasse consta de laudo da
Polícia Federal e foi omitido pelo PT na prestação de contas de 2003
apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Na prestação de contas entregue à Justiça, constam 19 pagamentos que
somam R$ 238.709,50 a outras duas empresas de Freud, a Caso Comércio
Ltda e a Caso Sistemas de Segurança Ltda. No entanto, os repasses feitos
à Copes, terceira empresa do ex-segurança de Lula, não foram declarados
pelo partido. Em depoimento à Procuradoria Geral da República, em
setembro do ano passado, Marcos Valério, operador do esquema do
mensalão, atribuiu a Freud o papel de intermediar o recebimento de
valores que tinham como objetivo pagar contas pessoais de Lula. O
ex-presidente e o ex-segurança negam esta versão.
O repasse de R$ 98,5 mil, mencionado por Valério em depoimento, foi
feito em cheque nominal à Caso Comércio, em janeiro de 2003. No entanto,
o cheque foi endossado pela mulher e sócia de Freud, Simone Godoy, e
depositado em conta na antiga agência do Banespa, atualmente Santander,
em São Bernardo do Campo, que O GLOBO apurou pertencer à Copes. O
pagamento é investigado em inquérito da Polícia Federal que tramita em
Brasília.
Em 6 de março de 2003, a mesma conta recebeu um repasse de R$ 29.388.
Vinte dias depois, um segundo pagamento foi realizado, no valor de R$ 10
mil. Segundo o Laudo 1450/2007 da Polícia Federal, que consta dos autos
da Ação Penal 470, do mensalão, os dois pagamentos foram feitos em
cheque e tiveram como origem o empréstimo de R$ 2,4 milhões do BMG ao
PT, que teve Marcos Valério como avalista.
Como a análise da PF ficou restrita ao destino dos recursos emprestados
pelo BMG, não foi verificado se outras contas do partido abasteceram a
empresa Copes.
Freud Godoy registrou a Copes em novembro de 1993 no 3º Cartório de
Registro Civil de Pessoas Jurídicas de São Paulo, com o objetivo de
prestar “serviços de vigilância não armada em prédios de apartamentos,
residências, escritórios, empresas em geral e sindicatos”.
Três anos depois, a mulher de Freud, Simone, passou a figurar como
sócia. Atualmente, a empresa está cadastrada na Receita Federal como
especializada em “atividades de investigação particular”. Na última
alteração contratual em cartório, ocorrida em 2010, no entanto, consta o
registro da empresa como prestadora de “serviços em geral de vigia de
portaria”.
Desde a sua criação, a Copes mantém o mesmo endereço de funcionamento,
uma casa na Avenida Edgar Ruzzant 155, no Bairro Jardim Brasil, em São
Paulo. No endereço mora a irmã de Freud, Andréa Godoy Herrera, de 47
anos, e o marido dela. Um homem, que não quis se identificar, atendeu O
GLOBO na última quinta-feira. Ao ser perguntado se, naquele endereço,
funcionava uma empresa de segurança, não quis responder e fechou a
porta.
A Copes é citada por Freud em depoimento prestado em junho de 2010 à
CPI da Bancoop, na Assembleia de São Paulo (Alesp). Na ocasião, o
petista afirmou que a empresa servia ao Sindicato dos Bancários e a
campanhas do PT desde o início dos anos 1990, mesmo sem estar
regulamentada para prestar serviços de segurança privada. “Está inativa
há mais de dez anos”, disse Freud à CPI, ignorando os pagamentos
recebidos em 2003, sete anos antes da sessão na Alesp.
Na última sexta-feira, O GLOBO perguntou a Freud que serviços a Copes
prestara ao partido. Por escrito, ele respondeu: “A Copes nunca prestou
serviços ao PT, está desativada desde 1996”. Indagado por que a empresa
recebera sem ter prestado os serviços, disse: “Eu não lembro, para mim
tinha sido depositado na conta de minha mulher”. Freud acrescentou que
apenas usara a conta da Copes para receber recursos destinados a suas
outras empresas, e que não prestou serviços por meio dela. Ele negou que
dinheiro depositado na conta tenha sido usado para pagar despesas de
Lula.
Fonte: O Globo - Por Thiago Herdy
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