As cenas mais pareciam de um campo de batalha. Entre aqueles que estavam ali para simplesmente protestar – com exceção dos protagonistas de atos de vandalismo –, eram feitos pedidos por melhorias nos serviços públicos, pelo fim da corrupção e por segurança.
Depois dos episódios de vandalismo na Asa Norte, a reportagem não presenciou outro tipo de dano ao patrimônio público ou privado. No entanto, mesmo nos momentos mais pacíficos, em que inclusive havia acordo com o comando que acompanhava as manifestações, policiais dos grupamentos do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Patamo decidiram atacar.
Depois dos episódios de vandalismo na Asa Norte, a reportagem não presenciou outro tipo de dano ao patrimônio público ou privado. No entanto, mesmo nos momentos mais pacíficos, em que inclusive havia acordo com o comando que acompanhava as manifestações, policiais dos grupamentos do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Patamo decidiram atacar.
O Eixo Monumental, então, se tornava um campo de guerra, onde, muitas vezes, apenas uma força atacava. A justificativa do comandante-geral da PM, Jooziel de Melo Freire, era o uso progressivo da força. Para tanto, estavam à disposição carros blindados, jatos de água e um grande número de PMs armados com bombas e armas de fogo. A ordem era não deixar ninguém avançar até o Congresso.
Questionado sobre o motivo do ataque, iniciado dezena de metros de distância entre a barreira e os manifestantes, o major Hércules, da PM, respondeu: “São determinações superiores. Eu não tenho que questionar”.
Liberdade
A advogada Camila Calegário, 25 anos, protestou: “Queremos manifestar e somos tratados como bandidos. Parece uma ditadura. Cadê o direito de livre manifestação?”. Manifestantes que estavam próximos ao bloqueio policial foram afastados com jatos de água.
Mesmo com a situação já controlada, policiais a distância continuavam a disparar contra as pessoas que estavam isoladas em frente ao Museu Nacional. Em um dos momentos mais críticos, o helicóptero da PM fez um rasante, que causou um novo corre-corre.
Correria na Rodoviária do Plano
Os manifestantes também se aglomeraram na Rodoviária do Plano Piloto, onde a correria foi constante. Pessoas que não estavam com o grupo se revoltaram com a força usada por policiais contra as pessoas que pediam por melhorias nos serviços e política.
O momento mais tenso foi quando o grupo que protestava ocupou a plataforma superior da Rodoviária. De lá, após um acordo coletivo, eles decidiram que iriam em direção ao shopping Conjunto Nacional. O grupamento de choque cercou a passagem e avançou contra as pessoas, disparando bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral.
A confusão durou até os manifestantes voltarem para a plataforma inferior e começarem a avançar até o Eixo Monumental.
Aos repórteres, o comandante da Polícia Militar, Jooziel Melo, afirmou que a operação foi um sucesso. “Todos puderam ir aos eventos programados. É uma pena que a imprensa só dará destaque aos ocorridos que consideram negativos”, concluiu.
Abordagem
Em uma de tantas abordagens a manifestantes presenciadas pela reportagem, policiais pediram para que um jovem, que estava ao telefone, voltasse ao isolamento. Ele foi parado por um sargento que o revistou e abriu sua mochila.
Dentro da bolsa, o sargento encontrou um frasco com vinagre. Ele derramou parte dentro da mochila, e o que restou no chão.
Também pegou camisetas do rapaz e as jogou em cima do líquido. Além de quebrar uma máscara do rapaz.
Questionado, o comandante da PM Jooziel disse: “Vocês sabem que esse não é o padrão da PM”.
Para secretário, não houve excessos
As manifestações na capital resultaram em 50 pessoas detidas – 35 adultos e 12 adolescentes. Dos maiores, cinco foram autuados por desacato, resistência e dano ao patrimônio público. Apenas dois dos menores foram autuados por ato análogo ao crime de tentativa de lesão corporal a policial e militar e dano ao patrimônio público.
Familiares que chegavam ao Departamento de Polícia Especializada (DPE), em busca de informações, tiveram de esperar por mais de três horas do lado de fora do complexo.
Entre os objetos apreendidos durante a operação de revista dos manifestantes estavam alicates, facas e canivetes. No entanto, dois dias antes do feriado, a PM encontrou com manifestantes na Esplanada 300 bolas de gude com estilingues, classificados como arma letal, além de 500 pneus e pedras.
Apesar dos flagrantes do uso de violência, para a Secretaria de Segurança, o balanço foi positivo. O chefe da pasta, Sandro Avelar, esclarece que as manifestações no DF prometiam ser mais intensas por conta da possível chegada de pessoas de outras cidades. “Foi um dia tranquilo e de paz, apesar dos manifestantes mais exaltados. Tudo foi possível graças ao equilíbrio que a Polícia Militar demonstrou mais uma vez”, avaliou.
Arquibancadas vazias
Dentro da estrutura montada para o desfile de 7 de Setembro, não houve tensão, diferentemente do que se viu do lado de fora do grande isolamento para o evento. Autoridades e cidadãos assistiram às apresentações das 20 entidades militares sem qualquer tumulto. Em vez das 30 mil pessoas esperadas, compareceram dez mil.
Foi preparada uma estrutura de muita segurança na Esplanada dos Ministérios. Além do isolamento com grades e placas de metal, quatro mil policiais militares patrulharam a área. O Batalhão da Guarda Presidencial cercou a área onde ficou a presidente Dilma Rousseff e o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa.
As festividades começaram antes das 9h, com a pirâmide humana da PM, formada por 30 homens. Depois disso, a presidente chegou à tribuna a bordo do Rolls-Royce presidencial e recebeu aplausos discretos do público. Foram executados os hinos Nacional e da Independência pela Fanfarra do 1º Regimento da Cavalaria de Guardas dos Dragões da Independência e pelo coral do Colégio Militar.
Militares
Para iniciar oficialmente o desfile, o comandante militar do Planalto pediu autorização à chefe de Estado. A partir daí, passaram os veículos leves do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Em seguida, desfilaram representantes das Forças Armadas e também da PM e Bombeiros, representando diferentes grupamentos. Depois foi a vez dos tanques de guerra e veículos pesados do Exército e a cavalaria.
Quatro caças da Força Aérea fizeram um grande barulho e provocaram aplausos nas arquibancadas. Neste ano, a Esquadrilha da Fumaça não se apresentou no desfile, por conta da substituição dos aviões T 27 Tucano pelo A 29 Super Tucano. Os pilotos ainda estão em treinamento com as novas aeronaves. Alunos de nove escolas da rede pública se apresentaram.
O único representante do Governo Federal que falou à imprensa foi o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Ele esclareceu a duração reduzida do desfile em 15 minutos e comentou sobre a quantidade de público.
“Pode ter havido um excesso de receio, se falou muito dos riscos das manifestações. Isso pode ter afastado a população”, disse. “O importante, da nossa parte, é que o desfile cumpriu exatamente aquilo que nós tínhamos desenhado. Um pouco mais curto em função de a presidente ter chegado de uma longa viagem da Rússia”, completou.
Medo de tumulto nos protestos
Ao que tudo indica, o medo dos atos de violência fez com que a estimativa inicial de público do desfile não fosse alcançada.
O casal Alessandra Araújo e Cléber Willians queria ter levado a família toda, mas eles ficaram com medo do tumulto. “Achamos mais seguro não trazer as crianças. Eram prometidos muitos protestos, e como muitos resultam em violência, optamos por vir só nós dois”, explica Cléber. Contudo, ele frisa que é a favor das manifestações pacíficas. “Apoio os protestos sem vandalismo”, conclui.
Para Alessandra, o amor ao Brasil falou mais alto no momento de decidir entre ir ao evento ou não. “Vou admitir que fiquei com medo, mas sou muito patriota. Amo o nosso país e estou muito feliz por estar aqui”, conta.
O meteorologista Kleber Ataíde, 34 anos, diz que a maioria de seus amigos deixou de ir ao evento por medo de possíveis atos de vandalismo. “Eu trouxe meu filho de dois anos, mas pensei muito antes de vir”, justifica.
Segurança
Além dos quatro mil policiais militares, estiveram de plantão 320 bombeiros, 150 policiais civis e 110 agentes do Detran-DF.
Pessoas com mochilas e bolsas foram revistadas. O processo de revista transcorreu sem grandes problemas. Apenas dois estudantes, Sérgio Alencar e Rodrigo Henrique, que estavam vestidos de preto e com máscaras, tiveram dificuldades para passar pela barreira. Para entrar, eles foram obrigados a retirar as máscaras, e concordaram em abandonar o mastro de uma bandeira que carregavam.
Para Sérgio Alencar, a atitude dos policiais foi arbitrária. “Eu acho que é totalmente fora dos padrões. Eu pretendia não tirar o mastro e dar um jeito de entrar. Não vim assistir ao desfile, meu único objetivo é protestar”, declarou.
Números
829 mil reais foi o custo do desfile ao Governo Federal, R$ 29 mil a mais do que no ano passado
1h20 foi a duração das apresentações, mais curtas neste ano
Saiba mais
O desfile percorreu a distância de dois quilômetros, do Ministério da Justiça até o estacionamento do Teatro Nacional, mesmo trajeto desde 2003.
Pelo menos 22 ministros participaram. Não havia representantes do Congresso.
Fonte: Clica Brasília - Por Suzano Almeira, Isa Stacciarini, Daniel Cardozo e Patrícia Fernandes
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