Paulo Pereira da Silva |
Em
votação apertada, por quatro votos a três, o plenário do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) concedeu nesta terça-feira registro ao partido
Solidariedade.
Ainda que diversas denúncias de irregularidade na coleta de apoios
tenham permeado os debates sobre a criação da agremiação política, o TSE
entendeu que decidia o caso apenas administrativamente, o que não
exclui, no futuro, que inquéritos policiais possam ser abertos para
apurar eventuais crimes eleitorais praticados durante a formação da
sigla.
Para a criação de um partido político, são necessários requisitos como
requerimento de registro com pelo menos 101 fundadores espalhados por
nove estados do país e a apresentação, também em nove estados, de cerca
de 492.000 assinaturas de eleitores – quantidade que equivale a 0,5% dos
votos válidos na última eleição para a Câmara dos Deputados. Para o
Ministério Público Eleitoral, haveria indícios de que parte dessas
assinaturas foi fraudada com apoios falsos e com o uso irregular do
sindicato ligado aos servidores do Poder Legislativo, o Sindilegis.
Embora os ministros não tenham negado, de pronto, a existência de
eventuais irregularidades, o entendimento do TSE foi o de que a
apresentação de certidões pelos cartórios eleitorais, com a quantidade
mínima de assinaturas, permite que a corte garanta o registro ao partido
político. “O relator afirma que todos os requisitos foram devidamente
cumpridos”, disse a presidente do tribunal, ministra Cármen Lúcia, a
quem coube desempatar a questão.
O relator do caso, ministro Henrique Neves, informou em seu voto que,
das 7869 certidões emitidas pelos cartórios eleitorais com as
assinaturas de apoio ao Solidariedade, apenas 291 certidões, ou 3,7%,
estariam devidamente identificadas. A falta de identificação do eleitor
que apoiou a criação do partido – com nome e título eleitoral
encaminhados à justiça – impediriam, segundo Neves, a certeza de que o
mínimo de assinaturas tenha sido realmente atingido pelos organizadores
da legenda.
O ministro não votou expressamente pela rejeição do registro à sigla,
mas propôs a realização de diligências para que os dirigentes da
agremiação apresentassem, em 60 dias, as listas completas com os
eleitores que assinaram apoiando a criação do Solidariedade. Como o
partido, para disputar as eleições de 2014, tem de estar em
funcionamento pleno até o início do outubro, o voto de Henrique Neves
acabava por sepultar o ingresso da sigla no pleito do ano que vem. Com
leves nuances, os ministros Marco Aurélio Mello e Luciana Lóssio também
votaram para exigir documentação adicional dos fundadores do partido.
A tese vencedora no TSE, porém, foi a de que as certidões eleitorais
têm “fé pública” e de que caberia ao tribunal apenas atestar se foi ou
não cumprida a lista de exigências previstas para a criação do partido.
Mais cedo, por cinco votos a dois, o plenário do TSE confirmou registro
ao 31º partido político. O PROS (Partido Republicano da Ordem Social)
conseguiu anuência da corte eleitoral mesmo diante de suspeitas de
fraude na coleta de assinaturas.
Coube à ministra Luciana Lóssio elencar, em plenário, casos de fraude
nas assinaturas de apoio ao PROS. Ela citou que na 35ª Zona Eleitoral de
Belo Horizonte, por exemplo, houve a contagem por sete vezes de um
mesmo apoio. Para ela, cerca de 20.000 assinaturas seriam “inservíveis”
por haver suspeitas potenciais contra elas.
O ministro José Antonio Dias Toffoli ressaltou que a aprovação do
registro de um partido político, ainda que diante de suspeitas, não
significa que o caso não possa ser analisado penalmente no futuro. “Não
estamos a julgar processo litigioso, estamos na função de gestor. Essa
decisão não impede ao Ministério Público ou a qualquer interessado de
jurisdicionalizar a questão ou de impugnar a decisão administrativa a
ser tomada hoje”, declarou. “Não estamos no campo jurisdicional. Eu
confio nas certidões emitidas pela justiça eleitoral. Não tenho
elementos para contestar as certidões juntadas aos autos”, disse ele.
O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT/SP), que organizou nos
bastidores a formação do Solidariedade, acompanhou todo o julgamento da
primeira fila da plateia do TSE.
Fonte: Laryssa Borges - Revista Veja.
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