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ex-governador ingressa no PRTB, legenda comandada pelo ex-senador em
Brasília, e avisa que pretende concorrer ao governo. A deputada
distrital Liliane Roriz vai acompanhar o pai e se torna uma opção para
cargo majoritário
Luiz Estevão e Roriz apareceram juntos em vários momentos da campanha de 1998 |
Joaquim Roriz flertou como PSD, foi rejeitado pelo DEM e ontem se
filiou ao PRTB com o discurso de candidato ao Governo do Distrito
Federal. O partido é comandado regionalmente pelo empresário Luiz
Estevão, aliado histórico do ex-governador. A deputada distrital Liliane
Roriz, atualmente no PSD, também vai migrar com o pai para o PRTB. A 10
dias do fim do prazo para a filiação de candidatos, a definição do
futuro político de Roriz deve influenciar no cenário local. A
expectativa é de que outros nomes busquem espaço no partido de Estevão.
Na noite da última quarta-feira, depois de ter sua filiação negada pela
executiva nacional do DEM, Roriz conversou, por telefone, com Estevão e
marcou um encontro para as primeiras horas de ontem. Também entrou em
contato com a direção nacional do PMN, partido da deputada federal
Jaqueline Roriz.
O ex-governador recebeu carta branca de Estevão para entrar na legenda e
se candidatar ao Governo do DF. Roriz renunciou ao mandato de senador
em 2007 para escapar da cassação, o que se enquadra nos critérios de
inegibilidade da Lei da Ficha Limpa. Mas, aconselhado por advogados
especialistas em direito eleitoral, ele espera conseguir reverter a
situação. “Em 2010, ele era elegível e foi prejudicado por um julgamento
casuísta. Hoje, ele continua elegível e vamos buscar nos foros
competentes fazer valer esse entendimento”, diz o advogado de Roriz,
Eládio Carneiro. Ele argumenta que o Supremo Tribunal Federal (STF) e o
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda não se debruçaram sobre o
argumento de que a Ficha Limpa não deve retroagir para tornar
inelegíveis políticos que renunciaram ao mandato antes da vigência da
lei.
Antes de chegar ao PRTB, Joaquim Roriz negociou com o PSD, do
ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab. Mas, como a legenda deve
apoiar a presidente Dilma Rousseff nacionalmente, o ex-governador
considerou que poderia ficar emparedado no partido. No dia seguinte, ele
recebeu um convite do presidente regional do DEM, Alberto Fraga, para
entrar na sigla. Aceitou a proposta, mas teve o nome recusado pelo
Conselho Consultivo do partido, presidido pelo senador Agripino Maia. A
rejeição causou um baque em Roriz, familiares e aliados, e foi
rapidamente contornada para evitar desgastes políticos.
“Estou ingressando com muito orgulho no PRTB para ser candidato ao
Governo do Distrito Federal, como opositor à atual gestão, que está
maltratando a cidade”, disse ontem o ex-governador. “Não tenho
condenação, não tenho rabo preso, nem tenho rabo de palha”, acrescentou
Roriz, fazendo uma crítica direta ao senador Agripino — o parlamentar já
se envolveu em acusações de compra de votos no Rio Grande do Norte,
episódio que ficou conhecido como o “escândalo do rabo de palha”. No
DEM, Roriz teve oito votos favoráveis à filiação e três contrários, mas
Agripino exigiu unanimidade para lançamento de chapa majoritária.
Estevão comanda o PRTB, mas está inelegível por conta da cassação de
seu mandato de senador em 2000 e por condenações judiciais. Recorre de
pena de 31 anos de prisão por suposta participação nos desvios do fórum
trabalhista de São Paulo.
Tempo de televisão
O tempo de televisão de cada candidato ao governo é influenciado pelo
tamanho da bancada do partido na Câmara dos Deputados. O PRTB tem hoje
apenas um deputado, que pode sair do partido com a criação de novas
siglas. Dessa forma, se o PRTB não se coligar com nenhuma outra sigla,
ficará com tempo de televisão insuficiente para uma campanha
competitiva.
Memória
Relação estreita
Joaquim Roriz e Luiz Estevão se conheceram em 1968. O ex-governador
tinha à época 32 anos e o empresário, 18. O senador cassado trabalhava
na empresa do pai, a Pneus OK. Roriz tinha um grande empreendimento de
areia e cascalho, além de ser proprietário de uma frota de caminhões. Os
dois faziam negócios constantemente e a relação se estreitou com o
passar dos anos.
O ex-governador e o ex-senador nunca foram rivais, mas Luiz Estevão só
apoiou oficialmente as eleições de Joaquim Roriz em 1990 e 1998. De 1994
a 1998, durante o governo do então petista Cristovam Buarque, Luiz
Estevão foi o mais ferrenho opositor do Palácio do Buriti. Ao atormentar
a gestão de Cristovam, ele ganhou ainda mais a simpatia de Joaquim
Roriz.
Os dois dividiram as fileiras do PMDB durante muitos anos — o
empresário foi eleito senador pelo partido. Em abril deste ano, os
políticos foram vistos publicamente juntos depois de muitos anos: Luiz
Estevão e a mulher, Cleucy, participaram da missa em homenagem ao
aniversário de Liliane e se sentaram próximos ao patriarca da família
Roriz.
Alianças indefinidas
As conversas sobre coligações e alianças ainda não avançaram.
Inicialmente, o plano de Luiz Estevão à frente do PRTB era de não se
envolver com as disputas majoritárias para investir unicamente na
formação de uma bancada nas Câmaras Legislativa e dos Deputados. “Liguei
para o Levy (Fidelix, presidente nacional do PRTB), que conversou com
ele por telefone e demonstrou satisfação em receber Roriz no partido.
Ele entra no PRTB como o político detentor do maior acervo de votos do
DF”, comenta o ex-senador. “Qualquer pesquisa feita hoje mostra que
Roriz lidera na disputa a qualquer cargo”, acrescenta.
Estevão não quis comentar o fato de o ex-governador estar supostamente
inelegível. “Não conheço em profundidade a situação jurídica. Isso vai
ser analisado a partir de agora, assim como as possibilidades de
alianças e articulações”. Caso não consiga reverter os empecilhos
colocados pela Justiça Eleitoral, Roriz deve apoiar a filha Liliane em
uma chapa majoritária. No plano nacional, não descarta fazer campanha
para nomes como o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), ou
Marina Silva, que tenta criar a Rede Sustentabilidade. A relação do
ex-governador com o PSDB ficou desgastada na campanha de 2010, quando o
então candidato tucano à Presidência, José Serra, não quis vir ao DF
pedir votos ao lado dele.
Depois do episódio que constrangeu a cúpula do DEM, o ex-deputado
Alberto Fraga não descarta sair do partido. Ontem, foi à casa de Roriz
pedir desculpas e dar explicações. “Lamento profundamente a decisão do
DEM, que deixou de ter em seu quadro um grande político, um homem que
governou o DF por quatro vezes e que habilitaria o partido a participar
da sucessão do governo”, comentou. “Quem perdeu foi o DEM, que acabou
cometendo suicídio político no Distrito Federal”. (HM)
Fonte: Correio Braziliense - Por Helena Mader
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