Inimigo número 1 do governo, parlamentar do PMDB enfrenta o Planalto amparado por uma "bancada" que ele ajuda a eleger
EU TENHO A FORÇA Sem o menor constrangimento, Cunha joga contra o governo e a orientação de seu próprio partido |
Se os problemas que a presidenta Dilma Rousseff enfrenta no Congresso
Nacional pudessem ser personificados, o deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ)
encarnaria o retrato da crise com a base aliada. Desde que se tornou
líder do PMDB na Câmara, Cunha passou a representar a soma de todos os
medos do Palácio do Planalto. Com o aval para negociar em nome do
partido, o parlamentar enquadra vozes dissidentes, empareda o governo e
até organiza tucanos e democratas para criticarem o governo. “É claro
que estamos preocupados. Quem tem um líder do maior partido aliado como
esse não precisa de oposição nem de adversários”, diz um ministro com
assento no Planalto. Uma preocupação que faz sentido. Na última reunião
do colégio de líderes da Câmara e do Senado antes do recesso, Cunha fez
questão de jogar contra o governo e contra a orientação de seu próprio
partido sem o menor constrangimento. Assumiu sem reservas o papel de
inimigo número 1. Discutia-se a proposta para votação do orçamento e, ao
ser dada a palavra à oposição, quem se levantou foi Cunha. “Na Câmara, a
obstrução continuará!”, disparou. Em seguida, a reunião foi encerrada
sob um silêncio obsequioso.
DEPENDÊNCIA Nem o vice-presidente Michel Temer consegue se impor diante de Eduardo Cunha |
Diante de posturas como essa, entender como Cunha se mantém no posto e
não encontra dentro de sua legenda alguém capaz de fazê-lo cumprir as
determinações do partido é ainda um desafio para muitos de seus colegas e
especialmente para o governo. Uma das principais reclamações dos
auxiliares mais diretos da presidenta Dilma Rousseff é o fato de nem o
vice-presidente Michel Temer, principal nome do PMDB, conseguir se impor
diante do deputado do Rio de Janeiro. A explicação dada por
parlamentares é que, na campanha presidencial, Cunha ganhou uma mesa e
um telefone na residência oficial do presidente da Câmara, então ocupada
por Temer. Sentava-se, segundo deputados e senadores, no canto esquerdo
da sala principal, disparava telefonemas durante todo o dia e passava
as noites em jantares com potenciais financiadores da campanha. Teria
sido ele, de acordo com os parlamentares, um dos principais agenciadores
de recursos financeiros para o PMDB em todos os Estados. “Cunha tem um
mapeamento de todos os que ajudou a eleger e isso lhe propicia manter
uma espécie de bancada pessoal”, disse um dirigente do PMDB paulista na
manhã da sexta-feira 2. “Não chegam efetivamente a seguir suas
orientações, mas não oferecem resistência às suas rebeldias.” Com esse
tipo de ascendência sobre os colegas e uma enorme capacidade de
trabalho, Cunha acaba sendo protagonista de grandes questões, como a MP
dos Portos. “Ele só entra em briga grande”, diz um ex-assessor da
liderança do PMDB na Câmara.
Na MP dos Portos, Cunha se posicionou claramente contra o governo e atropelou qualquer postura partidária. Foi o responsável pela emenda que garantia a renovação automática das concessões dos atuais terminais portuários – a mesma que a ministra Ideli Salvatti, falando em nome do governo e da base aliada, chamou de “imoral”. Ao sancionar a lei, Dilma vetou o dispositivo. Nas próximas semanas, Cunha tentará derrubar o veto. No PMDB, a leitura é a de que a proposta beneficia gigantes do setor, como o bilionário Eike Batista e o banqueiro Daniel Dantas, que vem diversificando investimentos. São atribuídas a Dantas as operações da empresa AMC Holding, do Grupo Libra, que atualmente opera no Porto de Santos. Em 2010, a AMC doou R$ 240 mil para o PMDB do Rio de Janeiro a pedido de Cunha e, segundo parlamentares, é constantemente procurada para contribuir com as finanças da legenda. Assessores da Câmara e lobistas com acesso aos gabinetes peemedebistas dizem que Cunha carrega uma agenda com a lista de empresas beneficiadas por sua atuação parlamentar, muitas delas ligadas aos setores de energia, telefonia e construção civil.
Na MP dos Portos, Cunha se posicionou claramente contra o governo e atropelou qualquer postura partidária. Foi o responsável pela emenda que garantia a renovação automática das concessões dos atuais terminais portuários – a mesma que a ministra Ideli Salvatti, falando em nome do governo e da base aliada, chamou de “imoral”. Ao sancionar a lei, Dilma vetou o dispositivo. Nas próximas semanas, Cunha tentará derrubar o veto. No PMDB, a leitura é a de que a proposta beneficia gigantes do setor, como o bilionário Eike Batista e o banqueiro Daniel Dantas, que vem diversificando investimentos. São atribuídas a Dantas as operações da empresa AMC Holding, do Grupo Libra, que atualmente opera no Porto de Santos. Em 2010, a AMC doou R$ 240 mil para o PMDB do Rio de Janeiro a pedido de Cunha e, segundo parlamentares, é constantemente procurada para contribuir com as finanças da legenda. Assessores da Câmara e lobistas com acesso aos gabinetes peemedebistas dizem que Cunha carrega uma agenda com a lista de empresas beneficiadas por sua atuação parlamentar, muitas delas ligadas aos setores de energia, telefonia e construção civil.
Na votação da Lei Geral da Copa, coube a ele aprovar a polêmica emenda
do Regime Diferenciado de Contratações (RDC), que contornou a Lei 8.666,
de licitações, para dar agilidade à construção de estádios. Em apenas
20 dias a proposta foi aprovada na Câmara e no Senado, um feito sem
precedentes. “Todas as empreiteiras que foram beneficiadas com o RDC
estão na lista de Cunha e certamente serão procuradas nas próximas
disputas eleitorais”, diz o dirigente do PMDB em São Paulo. “O segredo é
que os recursos obtidos por ele sempre são canalizados ao diretório
nacional, que os redistribui aos Estados.” Na última semana, Cunha foi
procurado por ISTOÉ, mas não retornou as ligações.
A condição de “dono de uma bancada pessoal”, segundo alguns parlamentares, faz com que Cunha muitas vezes atue sem se expor. Citam como exemplo a tentativa de validar o uso de créditos podres do antigo Banco Nacional, por meio de uma MP. A proposta foi articulada por Cunha, mas chegou ao Congresso com a ajuda do senador Romero Jucá (PMDB/RR). Também no jogo político, há momentos em que o deputado atua apenas nos bastidores, mas com os objetivos bem delimitados.
Fotos: Lula Marques/Folhapress
A condição de “dono de uma bancada pessoal”, segundo alguns parlamentares, faz com que Cunha muitas vezes atue sem se expor. Citam como exemplo a tentativa de validar o uso de créditos podres do antigo Banco Nacional, por meio de uma MP. A proposta foi articulada por Cunha, mas chegou ao Congresso com a ajuda do senador Romero Jucá (PMDB/RR). Também no jogo político, há momentos em que o deputado atua apenas nos bastidores, mas com os objetivos bem delimitados.
Fotos: Lula Marques/Folhapress
Fonte: Revista ISTOÉ - N° Edição: 2281 - Por Claudio Dantas Sequeira e Izabelle Torres
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