Joe
Valle apresenta hoje, na Comissão de Ética da Câmara, a conclusão do
caso do colega. A tendência é de que o relator se posicione pela quebra
de decoro de Massouh, que é acusado de desviar parte do dinheiro de uma
emenda liberada para show
Raad (D) acompanhou o depoimento de Flamarion Vidal (ao centro) na comissão. Ele teria pedido a saída do delegado do comando das investigações |
O relatório do processo ético-disciplinar contra o distrital Raad
Massouh (PPL) será lido hoje à tarde na Comissão de Defesa dos Direitos
Humanos, Cidadania, Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Legislativa e
deve pedir a cassação do deputado por quebra de decoro. Os dois pontos
que teriam sido fundamentais na conclusão do caso são os indícios da
participação do parlamentar na associação criminosa para o desvio de
parte da emenda de R$ 100 mil, liberada por ele mesmo no fim de 2010
para a realização de um evento em Sobradinho, e a suposta interferência
de Raad no afastamento do delegado Flamarion Vidal das investigações que
apuravam a denúncia. Ainda que a defesa do acusado venha tentando
justificar que ele não responde pela execução da emenda e não participou
de nenhum desvio, a posição do relator, Joe Valle (PSB), deve ser a de
que a postura de Raad feriu o decoro.
O caso do deputado foi investigado tanto na esfera policial quanto pelo
Ministério Público do DF e Territórios (leia Entenda o caso). Os autos
das duas apurações serviram de base para a elaboração do parecer de Joe
Valle, conforme ele mesmo havia antecipado na semana passada ao Correio.
O relator e sua assessoria leram mais de 2 mil páginas do processo e
ouviram centenas de horas de gravações de escutas telefônicas
autorizadas pela Justiça. No fim, foi elaborado um parecer de pelo menos
180 páginas que será lido hoje e deve ser votado amanhã pelos
componentes da Comissão de Ética.
Se for considerada a posição da Comissão de Ética, de acatar o
relatório do corregedor da Casa, Patrício (PT), em abril deste ano, a
tendência é que a maioria dos votos seja pelo encaminhamento do destino
de Raad ao plenário. A Corregedoria também baseou sua posição nas
investigações policiais e do MP para pedir a abertura de processo
ético-disciplinar contra Raad. Na época, quatro distritais votaram a
favor — Dr Michel, do PEN, Patrício, do PT, Joe Valle e Agaciel Maia, do
PTC. Apenas um se posicionou contra. Olair Francisco, do PTdoB, foi o
principal defensor do colega acusado durante o andamento do processo no
colegiado.
Oitivas
Os fundamentos legais do relatório devem estar orientados
principalmente por afrontas a vários pontos do Código de Ética da Câmara
Legislativa e também à Lei Orgânica do DF. O relator, Joe Valle, não
quis dar detalhes do teor de seu parecer e disse apenas que seguiu o que
determina a legislação. Ele tem dito que tentou fazer um relatório
isento e sem qualquer caráter de perseguição pessoal, um dos pontos que a
defesa de Raad tem reforçado.
Diante do que já havia sido dito por integrantes do colegiado na semana
passada, a oitiva de testemunhas (de defesa e acusação) ao longo das
últimas duas semanas foi considerada apenas complementar às provas que
já disponibilizadas pelos investigadores. O caso está no Judiciário,
onde tramita um processo sob sigilo por envolver um deputado distrital.
Os depoimentos de alguns colaboradores foram considerados
contraditórios em comparação ao que já tinha sido dito à Polícia Civil e
ao Ministério Público. Um dos exemplos é o ex-administrador de
Sobradinho Carlos Augusto de Barros, cuja oitiva na Câmara Legislativa
não coincidiu com a apresentada à polícia. Por serem apenas
colaboradores voluntários, eles não estavam sob juramento diante da
Comissão de Ética (à exceção dos servidores públicos ouvidos, como o
delegado Flamarion Vidal).
Polêmica
O evento que está no centro da polêmica foi realizado em 1º de outubro
de 2010, às vésperas das eleições. O objetivo inicial era incentivar o
turismo rural e ecológico na Região Administrativa de Sobradinho. A
emenda de R$ 100 mil foi destinada por Raad. Segundo investigações da
Delegacia de Apuração de Crimes contra a Administração Pública (Decap), o
distrital teria se associado a outras pessoas para desviar parte dos
recursos. A festa, cujo projeto básico era para acontecer em dois dias,
com cinco atrações e para um público de cerca de 10 mil pessoas, ocorreu
em apenas um dia e para cerca de 100 pessoas, com a apresentação de
duas bandas.
Ainda que o dinheiro tivesse de ser utilizado apenas para o pagamento
das bandas, R$ 47 mil foram parar na conta do Sindicato de Turismo Rural
e Ecológico do DF, cuja presidente era Maria Inês Viana, ligada a Raad e
que posteriormente foi contratada pelo gabinete do distrital. Desde que
o processo foi aberto pela Câmara, o distrital tem garantido que não
cometeu nenhuma irregularidade e que tudo não passa de uma “grande
armação” contra ele. O parlamentar ressalta ainda que não tem
responsabilidade pela execução da emenda e que isso ficaria a cargo do
representante do Executivo, no caso, o então administrador regional.
Composição
Confira quem integra a Comissão de Ética da Câmara Legislativa:
Dr Michel (PEN) — presidente
Olair Francisco (PTdoB) — vice
Patrício (PT) — membro titular
Agaciel Maia (PTC) — titular
Joe Valle (PSB) — titular (ele também é o relator deste caso)
Entenda o caso
Dr Michel (PEN) — presidente
Olair Francisco (PTdoB) — vice
Patrício (PT) — membro titular
Agaciel Maia (PTC) — titular
Joe Valle (PSB) — titular (ele também é o relator deste caso)
Entenda o caso
Denúncia em 2010
Em outubro de 2010, às vésperas da eleição, a Polícia Civil recebeu
denúncia sobre irregularidades em uma festa rural de Sobradinho, onde
estava prevista a realização de shows musicais. O dinheiro para o
evento, no total de R$ 100 mil, acabou liberado por meio de emenda
parlamentar de Raad Massouh. A verba foi repassada à administração
regional da cidade, que tinha à frente Carlos Augusto Barros, amigo
pessoal e indicado para o cargo pelo distrital.
De acordo com os investigadores, parte dos recursos teria sido desviada
para beneficiar aliados do parlamentar. O inquérito foi instaurado e
seguiu adiante, levando à deflagração da Operação Bragi II, em julho de
2011. Após a ação, a Polícia Civil pediu o indiciamento do deputado e de
mais 36 pessoas por crimes como desrespeito à Lei de Licitações,
peculato (delito cometido por servidor público) e lavagem de dinheiro.
Mais tarde, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios
(MPDFT) também passou a apurar a denúncia, que levou à Operação Mangona,
em novembro de 2012. Nessa fase, foi incluída autorização judicial para
quebra de sigilos fiscal, bancário e telefônico dos supostos
envolvidos. A Procuradoria-Geral de Justiça do DF decidiu denunciar Raad
e outras nove pessoas pelos mesmos crimes do indiciamento policial. Por
ter foro privilegiado, Raad terá o caso analisado pelo Conselho
Especial do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT). A
relatora, Sandra de Santis, ainda não se posicionou sobre o assunto.
Paralelo a isso, a Câmara Legislativa começou a analisar uma
representação pedindo a cassação de Raad, no fim do ano passado. Na
mesma época, o documento foi acatado pela Mesa Diretora. Em abril deste
ano, a Corregedoria da Casa votou pela abertura de procedimento por
parte da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Ética e
Decoro Parlamentar. O colegiado aprovou o relatório do corregedor,
deputado Patrício (PT), em maio, e Joe Valle (PSB) foi sorteado como
relator. Caso seu parecer seja aprovado, será encaminhado a plenário
para votação aberta.
Para saber mais
Trâmite do processo
» Assim que a representação é apresentada na Câmara, a
Procuradoria-Geral da Casa avalia se o documento é legal e encaminha
para análise da Mesa Diretora.
» Formado por cinco deputados, o colegiado avalia o pedido. São
necessários três votos pelo andamento ou pelo arquivamento da
representação. Se a posição for pela continuidade, o caso é encaminhado à
Corregedoria.
» Cabe à Comissão de Ética analisar o relatório do corregedor pela
abertura de procedimento ético-disciplinar por quebra de decoro.
» São necessários pelo menos três votos dos cinco membros para abrir a
investigação. Caso isso ocorra, é feito o sorteio do relator e começam
valer prazos para que ele forme convicção, seja pelo arquivamento, seja
pelo encaminhamento a plenário. Nesta fase, o deputado investigado e as
testemunhas são ouvidos.
» Se o processo passar pela Comissão de Ética com recomendação de
cassação por quebra de decoro parlamentar, ainda vai a plenário para
apreciação dos 24 deputados.
O voto é aberto.
Fonte: Correio Braziliense - Por Almiro Marcos
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