As últimas pesquisas divulgadas pelo Instituto Datafolha, que o governo
Dilma insiste em não valorizar, revelaram o quanto as manifestações
públicas, servidas dos recursos das redes, impuseram um novo traço no
processo de organização política do povo brasileiro e realçaram sua
capacidade de se manifestar e reclamar. Excluída a violência, que nós
civilizados repudiamos, o saldo que deixaram até agora as manifestações é
muito positivo.
Primeiro, foi o retrocesso de governadores e prefeitos das cidades que
haviam permitido o reajuste das passagens e tiveram que desfazer tais
concessões, mote dos protestos iniciados em São Paulo, Rio de Janeiro e
Belo Horizonte, para depois ganharem as ruas do país.
O que em outros tempos seria ponto final sofreu recuo e as lideranças
populares ainda querem discutir mais avanços desse item da pauta, o que
obrigará à abertura dos números do negócio transporte público. Bate-se
pelo passe livre pelo menos dos estudantes. Depois foi o confronto
avivado nas manifestações, dos investimentos feitos pelos Estados e pelo
governo federal na reforma e adequação dos estádios de futebol às
exigências da Fifa com outras prioridades, num país onde pessoas ainda
morrem de inanição, da falta de médicos, hospitais e saneamento básico e
estão condenadas à dependência pelo subdesenvolvimento, que se funda na
baixa qualidade da educação, principalmente.
No plano da representação popular, ganhou dimensão a discussão sobre a
falta de representatividade dos partidos políticos, tão evidentemente
baixa que essas agremiações foram barradas no baile, abertamente
excluídas e repudiadas da intimidade das manifestações. Senadores,
deputados e vereadores se apressaram em inserir na ordem do dia
discussões que estavam destinadas a acontecer num futuro longínquo;
outras postulações nem ganharam vez, como foi o caso da PEC 37, que no
Congresso era dada como certa de ser aprovada, retirando do Ministério
Público a prerrogativa de investigar os fatos antes desses tornarem-se
denúncias. O povo gritou pelo que quer ver se tornar realidade; não se
admitem mais promessas e enrolação, que a propaganda oficial ajuda a
confundir maquiando a realidade.
Estrategicamente recolhida, por absoluta incapacidade do seu governo de
lidar com as massas, em mau momento surgiu a presidente Dilma, já com
sua liderança ruída pelos fatos das ruas, oferecendo investimentos até
então prometidos em campanha, mas nunca efetivados, de apoio à
mobilidade urbana, à construção de hospitais, Upas, com a possibilidade
de importação de médicos de outros países para reforçar os cuidados de
saúde. Teremos uma Cacex-saúde, como se nossos problemas se resumissem à
falta de médicos, abundantes em Cuba.
Para fechar o festival de equívocos, nasceu a proposta de realização de
um plebiscito, já rotulado como um golpe. A ideia é tão disparatada e
diversionista e foi tão bombardeada que seu rechaço veio nas pesquisas
divulgadas pelo Datafolha nesse fim de semana: Dilma caminha a passos
largos para perder a eleição, depois de ter sido considerada imbatível e
com mão na taça. Outros também que se cuidem e se ajustem. As redes não
dormem.
Fonte: Luiz Tito / Tribuna da Imprensa.
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