Formação
de palanques nos Estados é desafio para ex-ministra do Meio Ambiente,
que mantém discurso avesso a acordos com políticos tradicionais
Marina Silva foi o nome de destaque nas últimas pesquisas eleitorais.
Beneficiada pela perda de popularidade de Dilma Rousseff, a ex-ministra
do Meio Ambiente disputaria o 2.º turno com a presidente e teria chances
de vitória. Apesar dos índices favoráveis, Marina, se conseguir de fato
criar a Rede Sustentabilidade, não conseguirá montar palanques pelo
País. O projeto político esbarra na dificuldade de encontrar aliados
para o seu programa "sonhático".
Uma candidatura independente e sem palanque é uma aposta colocada em
xeque por cientistas políticos. De concreto até agora, apenas três
deputados anunciaram filiação à legenda: Walter Feldman (SP), Domingos
Dutra (MA) e Alfredo Sirkis (RJ). A expectativa é de que esse número
aumente após a Rede conseguir o registro na Justiça Eleitoral. O futuro
partido já trabalha com a possibilidade de formação de palanques em
pouquíssimos Estados.
"No momento em que você tem um partido que vai disputar um espaço no
âmbito institucional, é evidente a necessidade de lançar candidaturas.
Mas nós sabemos que é muito provável que haja Estados onde não se tenha
um palanque regional específico para a candidatura nacional", avalia
Feldman.
Em 2010, quando era filiada ao PV, Marina Silva não fez coligações, mas
conseguiu formar palanques em 11 Estados. Contava, também, com as
chamadas Casas de Marina, comitês locais montados por voluntários. Ela
terminou a disputa em 3.º lugar, com quase 20 milhões de votos.
Segundo os apoiadores de Marina, os esforços da Rede estavam até agora
concentrados em garantir a validação das 500 mil assinaturas até 4 de
outubro, prazo que assegura a participação da sigla nas eleições de
2014. Embora a ex-senadora evite vincular a sigla à disputa eleitoral, a
próxima etapa será começar os debates em torno da articulação política.
"Essa é uma preocupação. A Rede vai se legalizar na marca do pênalti.
Não deu para fazer grandes discussões sobre políticas de aliança e temos
um País gigante", diz Dutra.
O fato de Marina estar em evidência pode atrair mais interessados, mas
Dutra reconhece que não será fácil conciliar interesses eleitorais aos
da Rede. "As tentações serão grandes (para fazer alianças). Mas a gente
tem muito nó para desatar. Tem que haver debate firme para ver que nível
de relacionamento pode ser feito sem dar choque (com o programa da
legenda)."
Pelo estatuto, o partido tentará colocar em prática ideias diferentes
das adotadas pelas legendas tradicionais, como limite à reeleição para
parlamentares e um teto para doações de pessoas jurídicas para
campanhas.
Bazileu Margarido, que integra a executiva provisória da Rede, reafirma
que a política de alianças se dará em torno das questões programáticas.
Mas ele avisa que ainda não há uma lista de partidos com os quais a
Rede poderá ou não se aliar.
Construção nacional. O cientista político Vitor Marchetti, professor da
UFABC, não acredita que as manifestações recentes tenham efeito no jogo
eleitoral, ainda pautado pelo modelo tradicional de alianças. "É
impossível. Como se constrói uma imagem nacional? Com espaços nos
Estados", afirma.
Por outro lado, os protestos demonstraram que outras formas de
mobilização, coordenadas por redes sociais, ganham força. Nesse
contexto, o cientista político Carlos Melo, do Insper, não considera
absurdo apostar na relevância do apoio de militantes. "Depois de junho,
pode ser possível. Mas ainda não sabemos a efetividade disso numa
campanha."
Fonte: Jornal Estado de São Paulo - Por Lilian Venturini, Isadora Peron
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