Polícia
Federal buscou - sem sucesso - provas de que partidos estariam por trás
dos rumores sobre o encerramento do programa, como sugeriram petistas
Movimentação de beneficiários do Bolsa Família em agência da Caixa Econômica Federal, em Maceió (AL), após terem recebido informação de que 18 de maio seria o último dia para o resgate do beneficio
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A investigação da Polícia Federal sobre a origem dos boatos do fim do
Bolsa Família não apontou responsáveis pela disseminação das notícias
falsas que causaram pânico em doze estados do país, no mês de maio. Mas,
antes de chegar à conclusão de que não houve crime, os agentes da PF
utilizaram como linha de investigação a tese de que partidos políticos
estariam por trás dos boatos, como integrantes do PT tentaram alardear.
O site de VEJA teve acesso à integra do inquérito, concluído no último
dia 12 de julho, após quase dois meses de apuração. Os documentos
mostram que uma das oito perguntas contidas no questionário apresentado
pela PF a 200 sacadores do Bolsa Família buscava identificar laços
políticos no episódio: “Sabe se o autor do boato é filiado ou militante
de algum partido político?”, diz o sétimo item do questionário. Em
nenhuma das 200 entrevistas, no entanto, o beneficiário apontou vínculos
partidários.
Após o alvoroço - foram registrados cerca de 900.000 saques,
totalizando 152 milhões de reais -, a ministra Maria do Rosário
(Secretaria de Direitos Humanos) apressou-se em atribuir as origens do
boato à “central de notícias da oposição”. A presidente Dilma Rousseff
afirmou que o autor - que nunca existiu, segundo a própria PF - era
"desumano". E o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, tirou da
manga outra tese que jamais se confirmou, de que os rumores teriam
partido de uma central de telemarketing, o que ajudou a alimentar a
teoria conspiratória. Após o arquivamento do processo, Cardozo afirmou
que as investigações da PF foram “isentas e criteriosas”.
No dia 22 de maio, a Caixa informou a PF que beneficiários do programa
no Rio de Janeiro teriam recebido mensagens de telemarketing divulgando o
cancelamento no Bolsa Família. A informação original partiu de uma
ambulante identificada como Erilene da Silva Fernandes, que confirmou
aos policiais que a filha dela, Bianca da Silva Pereira Viana, teria
recebido a ligação por volta das 18 horas no dia 18 de maio.
Em depoimento, Bianca, de 20 anos, confirmou a versão e alegou que
recebeu uma “gravação de áudio” com a informação sobre o fim do
programa. A operadora Oi, que detém a linha telefônica de Bianca, negou
que a chamada tenha partido daquele número. Como não encontrou nenhum
outro beneficiário que relatou ter recebido o telefonema, a PF descartou
essa possibilidade.
“Tendo em vista ser materialmente impossível descobrir qual a linha
telefônica utilizada para receber a suposta ligação, se tornou também
impossível confirmar a existência da ligação, identificar o telefone de
origem e o responsável pela linha telefônica”, concluiu a PF.
A PF ouviu as mais diversas respostas sobre a origem do boato. A
maioria dos entrevistados relatou ter tomado conhecimento de que os
saques já estariam disponíveis por meio de familiares ou de colegas da
vizinhança. Outros foram além: disseram ter ouvido a informação no rádio
e na televisão ou de funcionários da Caixa Econômica Federal. Na
Paraíba, até o governador Ricardo Coutinho não escapou das acusações.
Uma moradora de Cajazeiras (PB) apontou Coutinho como o possível autor
dos boatos, afirmando que ele teria dito para “bloquear tudo”
relacionado ao Bolsa Família, “até que ocorresse uma fiscalização sobre
quem precisa ou não” dos benefícios.
Para os policiais, nenhuma dessas versões foi comprovada, mas os boatos
se espalharam rapidamente por todo o país. “As circunstâncias sugerem
que o evento investigado foi motivado por um conjunto de fatores
desassociados, produzindo o resultado sabido, não sendo factível
atribuir responsabilidade a qualquer pessoa física ou jurídica”,
concluiu a PF.
Caixa poupada - Em todo o inquérito, não houve investigação aprofundada
sobre o envolvimento da cúpula da Caixa Econômica no episódio.
Funcionários foram ouvidos pelos próprios dirigentes da instituição
financeira, e o resultado foi simplesmente repassado aos policiais. Não
há referências às informações truncadas repassadas à população pela
direção do banco e tampouco registro da tentativa de acobertar os erros
do comando da instituição. Ao contrário. O inquérito relata
notícia-crime da Caixa em busca de uma “severa investigação para a
elucidação da autoria [dos boatos]” e se resume a reproduzir negativas
do banco sobre suas evidentes responsabilidades no episódio.
Em resposta à PF, o diretor-executivo de Suprimento, Segurança e
Contratação da Caixa, Cleverson Tadeu Santos, diz, por exemplo, que
“quanto à indagação relativa à possibilidade de essas ações de
aprimoramento do sistema terem contribuído para a geração de dúvidas ou
equívocos por parte dos beneficiários do Bolsa Família, reitera a Caixa
inexistir qualquer relação de causa e efeito”. “Não foi a flexibilização
dos pagamentos que causou corrida às agências e canais de atendimento
da Caixa”, completou o banco.
As oito perguntas da PF
Agentes entrevistaram cerca de 200 pessoas para apurar origem dos boatos
1. Confirma ser beneficiário do programa Bolsa Família?;
2. Confirma ter sacado valores do benefícios do programa Bolsa Família em 18/05/2013?;
3. Em caso negativo, confirma ter autorizado a pessoa a sacar o
benefício utilizando o cartão do beneficiário entrevistado? Identifique
essa pessoa;
4. Em caso positivo, por que realizou o citado saque no dia 18/05/2013?;
5. Realizou o citado saque em razão do boato noticiando que o dia
18/05/2013 seria a última data do pagamento do benefício do programa
Bolsa Família (colher informações detalhadas)?;
6. Em caso positivo, explicar como ficou sabendo do citado boato,
identificando a pessoa que o repassou, bem como o respectivo local e
horário dessa notícia (colher informações detalhadas);
7. Em caso positivo, sabe se o autor do boato é filiado ou militante de algum partido político? Qual?;
8. Outras informações julgadas úteis.
Fonte: Veja.com - Por Marcela Mattos, Laryssa Borges e Gabriel Castro
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