Os
organizadores das principais manifestações de Brasília se encontram
hoje para discutir o futuro dos protestos na capital federal
Os integrantes do Acorda, Brasília! protagonizaram um dos principais atos ao subirem no teto do Congresso |
Em meio a especulações da perda de força das manifestações em Brasília,
alguns grupos se articulam para continuar nas ruas e não deixar o
movimento acabar. Mesmo com respostas do governo a algumas
reivindicações, os organizadores das marchas planejam uma agenda de
mobilizações para manter as pressões populares sob o Legislativo e o
Executivo (veja ilustração). Hoje, haverá um encontro com as lideranças
de todos os movimentos a fim de discutir o rumo dos protestos na capital
federal. As crianças também se reunirão no Parque da Cidade. Amanhã, a
indignação com os gastos para a Copa do Mundo de 2014 levará os
brasilienses para a frente do Estádio Nacional de Brasília Mané
Garrincha.
A mobilização do fim de semana tem início hoje à tarde no Museu da
República, com a Grande Assembleia dos Povos do DF. Os participantes vão
elaborar uma carta comum de reivindicações e uma nova programação de
protestos. “Desde os primeiros atos, sentimos falta de bandeiras mais
específicas. Pedir mais saúde e educação é muito bom, mas é genérico e
afasta as possibilidades concretas de mudança. O objetivo da assembleia é
construir coletivamente pautas mais claras”, explicou Thiago Ávila, um
dos organizadores do evento.
Farão parte do debate de hoje os jovens que mobilizaram milhares de
pessoas pelas redes sociais para participarem das marchas e ocuparem o
gramado da Esplanada dos Ministérios nas últimas duas semanas. Além
deles, haverá representantes de organizações sociais e coletivas, como o
Passe Livre e o Comitê Popular da Copa (Concopa). Mas a discussão é
aberta a todos. Até a noite de ontem, mais de 2 mil confirmaram presença
por meio de uma página na internet. “Queremos manter acesa a chama da
luta social. A ideia é pensar a mobilização com a participação de todos,
é um espaço aberto”, completou Thiago.
Amanhã, será a vez de as crianças reivindicarem melhorias para o país.
Elas se reunirão a partir das 9h, no Castelinho do Parque da Cidade. A
ideia surgiu da inquietação de Ana Laura Cartaxo, 28 anos, enquanto
assistia pela tevê uma das manifestações em frente ao Congresso
Nacional. “Pensava em como eu queria estar lá, mas precisava cuidar do
meu filho. Então, expliquei o que estava acontecendo e ele se interessou
pelo assunto e começamos a conversar até me dizer que, quando os filhos
dele crescerem, vão querer ônibus de qualidade e baratos para levá-los à
escola”, contou. Ana Laura aproveitou esse contexto para ensinar ao
garoto o que é ser cidadão.
Até a noite de ontem, mais de 4,5 mil pessoas confirmaram presença para
a marcha dos pequenos. O grupo deixará a concentração por volta das
9h45 e dará uma volta no Parque da Cidade. Antes disso, as crianças
farão cartazes, enquanto uma das mães se voluntariou para contar uma
história, na linguagem deles, sobre o que está ocorrendo no país. “É o
futuro deles que está em jogo, e devem aprender desde já. O governo se
pronunciou e agora é hora de cobrarmos, dizermos que estamos de olho”,
avaliou Ana Laura. “E não são só pelos R$ 0,20 ou pelo transporte
público, temos muito o que consertar e gritar nas ruas”, concluiu.
Manifestantes estendem a Bandeira Nacional no gramado da Esplanada dos Ministérios durante o ato da última quarta-feira: mobilização |
Futebol
Mais tarde, enquanto Brasil e Espanha disputam a final da Copa das
Confederações, manifestantes contrários aos gastos com o Mundial de 2014
sairão às ruas. A mobilização Copa pra quem?, organizada pelo Comitê
Popular da Copa, cobra a devolução dos R$ 2,8 milhões gastos com
ingressos para o jogo de abertura do evento esportivo, entre a Seleção
Brasileira e o Japão. “É um dia importante para mostrarmos que não é só
festa. Foram milhões de reais gastos em estádios e em segurança pública
para agradar aos turistas e às pessoas mais ricas. Enquanto quase nada
foi destinado ao combate da exploração sexual e de outras violações que o
evento trouxe e ainda vai trazer para a população”, ponderou Francisco
Carneiro, 35 anos, integrante do comitê.
O protesto de amanhã é o último da agenda de manifestações do grupo,
criado há três anos. No entanto, os organizadores não descartam novas
mobilizações. “Elaboramos uma jornada de luta nas ruas em todo o país
durante os jogos. Domingo será a última, mas vamos continuar lutando”,
finalizou Francisco.
Na manhã de hoje, manifestantes de Santa Maria participarão da primeira
Marcha do Tomate e Movimento Contra a Corrupção. “Há todo tipo de
reivindicação nas ruas, mas ninguém fala do aumento dos preços dos
alimentos. Por isso, escolhemos esse nome. Mas também vamos lutar contra
a corrupção, a falta de projetos da Administração Regional para a
cidade e os problemas no transporte”, explicou Vanessa Moreira, 26 anos,
uma das organizadoras. O ato começa no Hospital Regional de Santa Maria
e passará pela sede da administração local e seguirá até a BR-040.
Fonte: Correio Braziliense - Por Thaís Paranhos e Gabriella Furquim
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