Na
edição desta semana a revista Época fez um balanço sobre o Nordeste, o
PT e as eleições de 2014. Caraterizando e ressaltando a região que hoje
sofre com a seca, a publicação revela um local devastado. Entre as
agruras da seca e a recente bonança econômica. Entre a morte do gado e o
Bolsa Família. Entre Dilma e Eduardo. No sertão de Pernambuco, a cidade
de Calumbi, a 415 quilômetros do Recife, deu em 2010 96,5% de seus
votos a Dilma Rousseff (PT). No mesmo ano, 98,5% de seus eleitores
votaram em Eduardo Campos (PSB) para governador. Em 2014, é provável que
tenham de escolher entre um e outro.
Calumbi é um exemplo vivo da lua de mel entre nordestinos e o Partido
dos Trabalhadores e seus aliados na última década – que garantiu ao PT
as vitórias nas duas últimas eleições presidenciais. Em 2006, Luiz
Inácio Lula da Silva obtivera 95,1% dos votos em Calumbi, praticamente o
mesmo índice que ajudou a levar Dilma à Presidência. O desempenho de
Campos em 2010, quando era aliado fiel de Lula, impressiona ainda mais
em números absolutos: 3.577 votos na cidade, contra 55 de todos os
adversários.
Os vultosos investimentos públicos e privados da última década
habituaram o Nordeste a crescer mais que o país. A combinação entre
pujança econômica e implantação dos programas sociais gerou uma
verdadeira aversão a candidatos de fora do campo político que governa a
região. De 1989 a 2002, a distribuição de votos para presidente repetia
no Nordeste a divisão nacional, com variações sempre abaixo de 6 pontos
percentuais. Em 2006, isso mudou. O Nordeste passou a pesar mais em
favor dos candidatos do PT e tornou-se mais decisivo no pleito. Em 2006,
a diferença entre Lula e Geraldo Alckmin (PSDB) no segundo turno foi de
20 milhões de votos. Sem o Nordeste, ela cairia para pouco mais de 6
milhões. Dos 12 milhões de votos que Dilma teve a mais que José Serra
(PSDB) em 2010, 10,7 milhões vieram do Nordeste, onde ela venceu por 70%
a 29%.
Pouco mais de 40% das famílias nordestinas recebem hoje recursos do
Bolsa Família – 7 milhões de um total de 16,5 milhões. É uma injeção
mensal de mais de R$ 3 bilhões na economia da região. O aumento real do
salário mínimo também fez diferença. São 8,2 milhões de pensionistas e
aposentados – quase 90% recebendo um salário mínimo. Só a Previdência
Social põe outros R$ 6,4 bilhões todo mês na região. As transferências
federais para os Estados e municípios do Nordeste também aumentaram. O
Fundo de Participação dos Municípios e o Fundo de Participação dos
Estados mais que dobraram durante o governo Lula na região. O número de
transferências voluntárias de recursos também cresceu, com aliados
políticos do governo federal no comando dos principais Estados (Bahia,
Pernambuco e Ceará). A região passou ainda a atrair investimentos em
infraestrutura com obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Entre 2005 e 2010, o crescimento anual médio do PIB do Nordeste foi de
5,3%, contra 4,7% no país.
Nenhum Estado se beneficiou tanto quanto Pernambuco, governado por
Eduardo Campos. Em 2003, o PIB estadual era de R$ 39 bilhões. Em 2006,
quando Campos assumiu, já atingia R$ 55 bilhões. Em 2010, ano em que a
economia pernambucana cresceu 9%, atingiu R$ 95 bilhões. O nível de
repasses de Brasília para Pernambuco cresceu 160%, entre 2004 e 2012.
“Houve investimentos em todas as áreas, como siderúrgica, automóveis,
estaleiros, muito mais expressivos do que ocorreu em Salvador nos tempos
de ACM (Antônio Carlos Magalhães, ex-governador baiano)”, afirma
Péricles.
Governador mais bem avaliado do país, com aprovação de quase 90%,
Campos ainda pode se gabar da redução dos índices de criminalidade (30%)
e dos investimentos no Complexo Industrial Portuário de Suape (25 mil
empregos diretos). O Portal da Transparência do Estado, que expõe contas
do Estado, é considerado pela ONG Transparência Brasil o segundo melhor
dos Estados do país. Preocupada com os efeitos da seca e a cada vez
mais provável candidatura de Campos ao Planalto, a presidente Dilma
aumentou suas viagens ao Nordeste no primeiro trimestre de 2013. Nove
das 16 incursões que fez pelo Brasil foram para a região, dona de 27% do
eleitorado nacional (38 milhões).
O PSB de Eduardo Campos cresceu no Nordeste, onde já ocupa mais espaço
que o próprio PT. Governa quatro Estados: Pernambuco, Ceará, Piauí e
Paraíba. No ano passado, o PSB derrotou o PT em duas das três maiores
cidades nordestinas – Recife e Fortaleza. Os candidatos a prefeito
petistas perderam em sete das nove capitais.
O Nordeste segue com grandes desafios. Mais de 15% da população acima
de 10 anos não sabe ler nem escrever – entre os maiores de 25 anos, o
índice chega a 21,3% –, e a mortalidade infantil é a maior do país.
Fonte: ÉPOCA.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário