Decano
da Corte, ministro Celso de Mello será porta-voz dos colegas e fará
pronunciamento nesta semana questionando os efeitos da aprovação, na
Comissão de Constituição e Justiça, da PEC que submete atos do tribunal
ao Congresso
Estátua da Justiça, em frente ao Supremo: embates geraram reflexões sobre harmonia entre Poderes |
Ministros do Supremo Tribunal Federal articulam uma resposta categórica
e institucional contra a aprovação pela Câmara da proposta de emenda
constitucional que diminui o poder da Corte. O porta-voz da reação do
Supremo será o decano do tribunal, ministro Celso de Mello, que fará um
pronunciamento durante a semana questionando os efeitos da chamada PEC
33.
Até o momento, os ministros deram respostas separadas e desarticuladas
contra a aprovação da proposta pela Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) da Câmara que dá aos parlamentares a prerrogativa de rever
decisões do Supremo nos casos de ações de inconstitucionalidade e
súmulas vinculantes. Com a reação enfática que pretendem dar, os
ministros esperam que a proposta seja definitivamente engavetada e que a
ofensiva blinde a Corte de novas investidas.
Relator do mandado de segurança contra a tramitação da PEC, o ministro
Dias Toffoli ouviu de colegas a ponderação para que leve o processo o
mais rápido possível a julgamento para que essa resposta pública seja
dada. Na sexta-feira, o ministro estabeleceu prazo de três dias para que
a Câmara dê explicações sobre a proposta.
Os ministros já deram o tom de como será a reação em declarações logo
após a aprovação do projeto. Durante a semana, o ministro Gilmar Mendes
afirmou que seria melhor fechar o Supremo se a proposta fosse aprovada
pelo Congresso. Marco Aurélio Mello afirmou que a votação soava como
retaliação. O presidente do tribunal, Joaquim Barbosa, afirmou um dia
depois da aprovação que a PEC fragilizaria a democracia.
Retaliações. Para além das declarações, a decisão do ministro Gilmar
Mendes de congelar a tramitação, no Senado, do projeto que inibe a
criação de partidos políticos também soou como retaliação ao Congresso
entre parlamentares e ministros do STF. A liminar foi concedida no mesmo
dia em que a CCJ da Câmara aprovou a PEC.
Gilmar Mendes avisou aos presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que concedera a
liminar contra a tramitação do projeto logo depois de assiná-la. Mesmo
que a liminar seja derrubada, a decisão serviu de recado.
Mendes chegou a conversar pessoalmente com o presidente da Câmara sobre
o assunto e discutiu a relação entre os dois Poderes. Nesta segunda,
Alves deve voltar ao Supremo para uma nova conversa.
As reações dos ministros do tribunal já haviam provocado um primeiro
efeito. Alves anunciou que não instalaria imediatamente a comissão
especial destinada a dar seguimento à tramitação da PEC. Na opinião de
ministros do STF, o Congresso já passou recibo com o recuo do presidente
da Câmara.
Na quinta-feira, um dia após a decisão de Gilmar Mendes, Renan
Calheiros convocou para um almoço senadores e consultores de confiança
para avaliar a decisão a se tomar. Na conversa, os presentes aventaram
uma série de respostas a dar ao Supremo. A mais drástica, descartada
pelo presidente do Senado, era simplesmente ignorar a decisão de Gilmar
Mendes. Outra era apresentar recurso ao presidente do Supremo, Joaquim
Barbosa. Venceu a posição do agravo regimental, recurso preparado pelo
advogado-geral do Senado, Alberto Cascais.
Aliados dizem que Renan Calheiros tem buscado adotar um tom conciliador
com a cúpula do Judiciário por motivos pessoais. Pouco antes de retomar
o comando do Senado, em fevereiro, ele foi denunciado pelo
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, por uso de documento
falso, falsidade ideológica e peculato pelas acusações que o levaram a
renunciar à Presidência da Casa em 2007. Segundo o Ministério Público,
ele forjou documentos para justificar que tinha patrimônio e não
precisaria recorrer a um lobista de empreiteira para arcar com as
despesas pessoais.
Na opinião de um senador da confiança de Renan, o presidente do Senado
deu declarações na quinta-feira no limite do que podia - quando
classificou a decisão de Gilmar Mendes como uma "invasão" no
Legislativo. A pressão por responder ao Supremo, dizem parlamentares,
tem sido maior entre os deputados.
As críticas de parlamentares à atuação do Judiciário e do Ministério
Público são recorrentes. Recentemente, dois integrantes da base do
governo estiveram no Supremo e levaram as reclamações a ministros da
Corte.
O inconformismo se volta especialmente contra julgamentos da Justiça
Eleitoral, contra ações que consideram políticas do Ministério Público e
contra decisões do Supremo em temas controversos, como casamento
homossexual e aborto de fetos anencefálicos. Em alguns julgamentos
recentes, os ministros do Supremo fizeram um mea culpa. Foi o caso, por
exemplo, da decisão do ministro Luiz Fux de impedir a votação, no
Congresso, dos vetos à nova distribuição de royalties do petróleo.
Ministros admitiram ser um erro o tribunal, por meio de liminares,
interferir na pauta do Congresso.
Mas esses ministros lembraram aos parlamentares que cabe a eles mudar a
legislação para coibir eventuais abusos. Para isso, não precisam atacar
poderes do Supremo ou esvaziar os poderes de investigação do Ministério
Público.
Fonte: Jornal Estado de São Paulo - Por Felipe Recondo e Ricardo Brito
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