Operação Infiltrados prende dois policiais civis suspeitos de coagir
agentes para beneficiar doleiro suspeito de lavagem de dinheiro. Em
dezembro do ano passado, a dupla chegou a fazer ameaças na tentativa de
obter informações favoráveis a Fayed Antoine Trabousli.
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Homens da Delegacia de
Repressão ao Crime Organizado estiveram na residência de Fayed Antoine
Trabousli, na manhã de ontem: velho conhecido da Justiça do Distrito
Federal |
Dois integrantes da alta cúpula da Polícia Civil do Distrito Federal
foram presos ontem sob a acusação de interferir numa investigação em
curso para beneficiar o doleiro Fayed Antoine Trabousli, suspeito de
promover operações de lavagem de dinheiro por meio de uma conta bancária
do Ceilândia Esporte Clube. Secretário de Transportes no governo de
Rogério Rosso (PSD), o delegado Paulo César Barongeno, piloto da Divisão
de Operações Aéreas (DOA), e a delegada Sandra Maria da Silveira,
assessora jurídica da Secretaria de Segurança Pública, são acusados de
coação e violação do sigilo funcional, crimes que, caso sejam
confirmados pela Justiça, podem levá-los à perda do cargo e uma pena de
até 10 anos.
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Paulo César Barongeno teria pressionado policial que investigava doleiro |
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Assessora jurídica da Secretaria de Segurança, Sandra foi detida em casa |
A Operação Infiltrados contou com um depoimento considerado fundamental
do agente José Ronaldo da Mota, que estava lotado na Deco e fazia o
monitoramento do doleiro. Amigo de Barongeno havia mais de 14 anos, ele
procurou o delegado para pedir ajuda sobre onde encontrar Fayed. A
partir daí, segundo relato do agente aos promotores do Ncoc, Barongeno
passou a pressioná-lo para obter informações relacionadas a eventuais
pedidos de prisão contra o doleiro.
Aviso ao amigo
Tudo começou em 2008, com um inquérito conduzido por policiais da Deco relacionado a Fayed. No ano passado, a apuração foi aprofundada. Numa ocasião, descrita por Mota, Fayed percebeu que estava sendo seguido e teria avisado o amigo delegado. Barongeno, então, telefonou para o agente a fim de saber o que estava acontecendo. Outras situações semelhantes ocorreram ao longo do segundo semestre de 2012. Mota conta que passou a se sentir intimidado. As ameaças teriam se agravado quando ele prestou depoimento no MP. Há cerca de um mês, o delegado adjunto da Deco, Fernando Cocito, fez uma representação com pedido de prisão de Fayed.
Houve, então, o confronto mais grave. Barongeno e Sandra, que são namorados, estiveram na casa do agente em 10 de dezembro supostamente para pressioná-lo. Num dos diálogos, a delegada teria dito que mandaria um agente identificado como Luiz Cláudio à casa dele. Para Mota e para o MP, foi uma ameaça velada. Por isso, ela acabou acusada de desacato. A denúncia que tramita na 1ª Vara Criminal de Taguatinga já foi recebida pela Justiça. Nesse processo, os promotores pediram e obtiveram do juiz Alex Costa de Oliveira a prisão preventiva dos dois policiais e de Fayed. A medida pode se estender durante toda a instrução processual, até o desfecho da ação.
Mensalão
Fayed Trabousli, conhecido como Turco, é investigado pela Deco, assim como Serjão, por supostamente usar uma conta do Ceilândia Esporte Clube para lavagem de dinheiro. Parte dos recursos passou por duas empresas ligadas ao esquema do mensalão do PT. A atual diretoria do clube colaborou nas investigações relacionadas ao suposto esquema, entre os quais os cartolas José Beni Monteiro Oliveira e Ari de Almeida. Ex-tesoureira do time, Fátima de Deus Francisco disse em depoimento que assinou documentos enviados por Serjão sem saber do que se tratavam.
O doleiro Fayed é um velho conhecido de investigações policiais no DF. Em muitas delas, há vazamentos de informações, como ocorreu na Operação Tellus, que apurava um suposto esquema de cobrança de propina na Secretaria de Desenvolvimento Econômico do DF, em 2010.
Uma outra suspeita de que o doleiro obteve detalhes estratégicos aconteceu na Operação Tucunaré, em que um dos alvos era o policial civil aposentado Marcelo Toledo Watson. O caso envolvia suspeitas de desvio de dinheiro de fundos de pensão ligados ao governo. Fayed também é réu em ação por peculato com o ex-governador Joaquim Roriz e o delator da Operação Caixa de Pandora, Durval Barbosa, em desvios de recursos de contratos públicos da Codeplan e do Instituto Candango de Solidariedade (ICS) para a campanha de 2002.
Na opinião do diretor-geral da Polícia Civil, Jorge Luiz Xavier, as investigações da Deco apontam suspeitas graves contra Fayed. “Gostaríamos de vê-lo preso pelo crime mais grave. Não por coação, mas por lavagem de dinheiro”, afirmou. Sandra e Barongeno foram detidos no apartamento dela, no Sudoeste. Fayed também estava em casa, no Lago Sul. O secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, disse ontem que vai aguardar os desdobramentos do caso para avaliar se será necessário tomar alguma providência em relação ao cargo de confiança ocupado pela delegada.
Fonte: Correio Braziliense - Por Ana Maria Campos e Kelly Almeida
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