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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Um playboy sob intervenção 'Valmir Amaral'

Apaixonado pelo luxo, Valmir Amaral ganhou fortuna com a construção da capital. Dos carregamentos de areia, montou frotas de ônibus e empresa de táxi aéreo e chegou ao Senado Federal. Hoje, tem vários bens penhorados 

Valmir Amaral ostenta a paixão por carros de luxo: bens executados pela Justiça

Rico vidrado em baladas, empresário com amigos influentes, um político feijão com arroz. Foi transitando entre esses papéis que Valmir Amaral fermentou os negócios do pai, Dalmo Josué do Amaral, construiu um patrimônio milionário, chegou ao Senado Federal, tornou-se pivô de uma rede de intrigas familiar e de escândalos de corrupção que respondem pela recente dilapidação de seu império, no auge durante a parceria com o ex-governador Joaquim Roriz, mas agora em evidente decadência. Em maio de 2012, teve a coleção de carros de luxo, lanchas e apartamento penhorados pela Justiça. O mais recente golpe, ontem, foi a intervenção do governo em empresas de seu conglomerado.

Valmir Amaral experimentou uma rápida ascensão. Único filho homem de Dalmo e de Ana Amância do Amaral, foi ele quem tomou a dianteira da primeira empresa, a Santo Antônio, criada pelo pai em sociedade com três tios. Dalmo é de uma geração que cavou fortuna na nova capital. Em 1968, ele vendia caminhões de areia. Como Roriz e Nenê Constantino, que se tornou outro magnata do transporte, a família Amaral começou fazendo frete da matéria-prima do concreto. Numa época em que o Distrito Federal ainda era um rincão, o mineral valia ouro.

Brasília ficou pronta. Roriz largou as carretas de areia e entrou para a política. Dalmo Amaral seguiu no transporte, mas trocou os caminhões por uma modesta frota de ônibus que atendeu às primeiras rotas da Santo Antônio no Entorno. Já nesta época, a família Amaral cruzou, pela primeira vez, o caminho com Luiz Estevão de Oliveira Neto, outro personagem que mais tarde seria determinante na trajetória de Valmir. Com a ajuda do tio Lino, Luiz Estevão começou em Brasília vendendo pneus. Dalmo, hoje com 82 anos, era um de seus clientes mais assíduos.

A cidade projetada para abrigar o poder seguiu crescendo, com Roriz mais poderoso a cada mandato e Dalmo, mais rico. Com o tempo, as empresas de transporte terrestre se multiplicaram, com as permissionárias Rápido Veneza, Rápido Brasília, Viva Brasília, além das demais operadoras de linha intermunicipais Esa e Transprogresso. Mas o chão ficou limitado para os Amaral. Começaram, então, a explorar os ares. Tornaram-se donos de helicópteros e de aviões. Abriram uma empresa de táxi aéreo, a Esat, com sete aeronaves.

Como riqueza e campanha política sempre andam próximas, a relação da família Amaral com Roriz só cresceu. Dalmo e o filho, Valmir, tornaram-se conhecidos financiadores de campanhas na cidade. Não apenas pelas posses, como os aparatos aéreos que colocavam à disposição de seus escolhidos, mas pelo estilo folclórico com que atuavam no processo eleitoral. “O volume de notas era enorme, bolão mesmo, mas tudo trocado de catraca de ônibus”, debocha um aliado de Roriz, ao descrever o perfil de generoso, mas nem tanto.

Foi assim que, em 1998, a amizade entre Dalmo e Roriz uniu Valmir e Luiz Estevão. Roriz disputaria o governo contra Cristovam Buarque. Valmir foi o indicado de Roriz para a suplência de Luiz Estevão na vaga de senador da República. Venceram todos. Mas quem mais usufruiu da vitória foi Valmir, que sem nunca ter levado um voto ocupou o mandato por seis anos e seis meses. Três vezes mais do que o titular, envolvido no escândalo de superfaturamento das obras do TRT de São Paulo e cassado em 2000. Sete anos depois, envolvido em outra crise, a da Bezerra de Ouro, era a vez de Roriz deixar prematuramente o tapete azul com menos de um ano de mandato.

Apesar de abatido por denúncias de que suas empresas teriam se valido de empréstimos ilegais do Banco de Brasília (BRB), Valmir Amaral se segurou no mandato, feijão com arroz, segundo um empresário que o acompanhou de perto: “Ele não levava jeito para a política”. Foi até o fim do mandato e, embora filiado primeiro no PMDB e depois no PTB de Gim Argello, nunca mais disputou um cargo eletivo. A falta de traquejo para a política, no entanto, não o impediu de fazer bons amigos no Senado. Um deles, o agora presidente Renan Calheiros (PMDB-AL). A relação ficou tão próxima que Valmir comprou propriedades em Alagoas e chegou a desfilar com Renan pelos ares alagoanos em época de campanha. 

Sertanejos 

Se Valmir ostentou poucos atributos políticos, descontou na vida social. Aprecia cavalos, joga tênis e adora lanchas. Morador da QL 08 do Lago Sul, uma ponta de picolé que invade área de proteção ambiental, o empresário ficou conhecido pelas festas embaladas por cantores da moda. Já soltaram a voz na residência do ex-senador gente como Ivete Sangalo, Leonardo, Chitãozinho e Xororó, dupla que animou as bodas de ouro dos pais, em 2010.

Na festa milionária onde circularam mil convidados, uma socialite descreve a simplicidade de Valmir. “No dia a dia, ele recebe a gente é com carne de porco, comidinha caseira”. Cardápio caseiro no forno, mas carro de luxo na garagem. Entre os bens pendurados pela Justiça em meio a uma briga pela dissolução da sociedade familiar, há uma Lamborghini Gallardo, uma Ferrari, um Porsche. Desde 2012, os possantes estão em poder da Justiça. Desde ontem, o governo se apoderou das sucatas que o Grupo Amaral dispunha para atender às concessões do transporte público no DF. 

Os rolos do ex-senador 

Valmir Amaral entrou para a política em 2000 na vaga aberta pelo senador cassado Luiz Estevão. Ganhou sete anos de mandato sem ter de passar pelo teste das urnas. Como o antecessor, Amaral também é alvo de uma série de acusações de negócios considerados irregulares e fraudulentos. 

Empréstimos irregulares 

Pouco após estrear como senador, surgiram denúncias de empréstimos irregulares envolvendo as empresas dele e o Banco de Brasília (BRB). O Grupo Amaral tinha uma dívida de R$ 6 milhões com o banco estatal, que já era cobrada na Justiça, e mesmo assim arrancou um novo empréstimo, de R$ 4,6 milhões. 

Sem concorrência 

Já na vaga de suplente de senador, Amaral ganhou 88% de 218 novas linhas de ônibus abertas em Brasília, sem licitação. Entre elas, as mais rentáveis da TCB, como a GranCircular, o que levou a estatal a quase extinção. Tudo graças a decreto assinado pelo aliado político Joaquim Roriz, então governador, em 2001. Amaral financiou as campanhas de Roriz e Estevão. 

Escândalo sexual 

Em 2005, um barco de Amaral naufragou no Rio São Francisco, no norte de Minas Gerais, e matou três dos seus empregados. Além dos mortos, na embarcação, estavam duas meninas, e mais seis funcionários do político. Todos participavam de uma festa, que teria sido organizada por ele, às margens do rio, onde ficou ancorado um luxuoso barco do então senador. Havia suspeita de exploração sexual de menores, mas o Senado e a Polícia Civil mineira não levaram as investigações adiante.
 


Invasão no Lago Sul 

Em 2006, Valmir Amaral trocou a casa de classe média em Sobradinho por uma mansão no Lago Sul. Em nome do pai dele, Dalmo Amaral, a propriedade virou caso de polícia. A Justiça do DF aceitou uma denúncia do MP contra ele, em janeiro de 2007, por acusação de ocupar irregularmente área verde. O empresário ergueu — na área pública entre a margem do lago e o que deveria ser o limite da propriedade — garagens, heliporto, campo de futebol com arquibancadas e quadra de tênis. Além disso, construiu três píeres, avançando sobre as águas. 

Briga em família 

Tia de Valmir Amaral, Dalva Rosa do Amaral o acusa de ter invadido as linhas de ônibus de sua pequena empresa de transporte coletivo em Planaltina de Goiás. Mas nem mesmo com a decisão judicial que obteve em seu favor, ela conseguiu retirar os ônibus de Valmir de sua área de atuação. 

Bens penhorados 

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) mandou penhorar os bens de empresas do ex-senador Valmir Amaral, no valor de R$ 38,5 milhões, em maio do ano passado. A quantia se refere à participação de Dorival Josué do Amaral e Luzia Domingos Caixeta do Amaral, tios do ex-parlamentar, na dissolução societária de 11 empresas do Grupo Amaral.

Fonte: Correio Braziliense - Por Lilian Tahan, colaborou Renato Alves

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