Apaixonado
pelo luxo, Valmir Amaral ganhou fortuna com a construção da capital.
Dos carregamentos de areia, montou frotas de ônibus e empresa de táxi
aéreo e chegou ao Senado Federal. Hoje, tem vários bens penhorados
Valmir Amaral ostenta a paixão por carros de luxo: bens executados pela Justiça |
Rico vidrado em baladas, empresário com amigos influentes, um político feijão com arroz. Foi transitando entre esses papéis que Valmir Amaral fermentou os negócios do pai, Dalmo Josué do Amaral, construiu um patrimônio milionário, chegou ao Senado Federal, tornou-se pivô de uma rede de intrigas familiar e de escândalos de corrupção que respondem pela recente dilapidação de seu império, no auge durante a parceria com o ex-governador Joaquim Roriz, mas agora em evidente decadência. Em maio de 2012, teve a coleção de carros de luxo, lanchas e apartamento penhorados pela Justiça. O mais recente golpe, ontem, foi a intervenção do governo em empresas de seu conglomerado.
Valmir Amaral experimentou uma rápida ascensão. Único filho homem de
Dalmo e de Ana Amância do Amaral, foi ele quem tomou a dianteira da
primeira empresa, a Santo Antônio, criada pelo pai em sociedade com três
tios. Dalmo é de uma geração que cavou fortuna na nova capital. Em
1968, ele vendia caminhões de areia. Como Roriz e Nenê Constantino, que
se tornou outro magnata do transporte, a família Amaral começou fazendo
frete da matéria-prima do concreto. Numa época em que o Distrito Federal
ainda era um rincão, o mineral valia ouro.
Brasília ficou pronta. Roriz largou as carretas de areia e entrou para a
política. Dalmo Amaral seguiu no transporte, mas trocou os caminhões
por uma modesta frota de ônibus que atendeu às primeiras rotas da Santo
Antônio no Entorno. Já nesta época, a família Amaral cruzou, pela
primeira vez, o caminho com Luiz Estevão de Oliveira Neto, outro
personagem que mais tarde seria determinante na trajetória de Valmir.
Com a ajuda do tio Lino, Luiz Estevão começou em Brasília vendendo
pneus. Dalmo, hoje com 82 anos, era um de seus clientes mais assíduos.
A cidade projetada para abrigar o poder seguiu crescendo, com Roriz
mais poderoso a cada mandato e Dalmo, mais rico. Com o tempo, as
empresas de transporte terrestre se multiplicaram, com as
permissionárias Rápido Veneza, Rápido Brasília, Viva Brasília, além das
demais operadoras de linha intermunicipais Esa e Transprogresso. Mas o
chão ficou limitado para os Amaral. Começaram, então, a explorar os
ares. Tornaram-se donos de helicópteros e de aviões. Abriram uma empresa
de táxi aéreo, a Esat, com sete aeronaves.
Como riqueza e campanha política sempre andam próximas, a relação da
família Amaral com Roriz só cresceu. Dalmo e o filho, Valmir,
tornaram-se conhecidos financiadores de campanhas na cidade. Não apenas
pelas posses, como os aparatos aéreos que colocavam à disposição de seus
escolhidos, mas pelo estilo folclórico com que atuavam no processo
eleitoral. “O volume de notas era enorme, bolão mesmo, mas tudo trocado
de catraca de ônibus”, debocha um aliado de Roriz, ao descrever o perfil
de generoso, mas nem tanto.
Foi assim que, em 1998, a amizade entre Dalmo e Roriz uniu Valmir e
Luiz Estevão. Roriz disputaria o governo contra Cristovam Buarque.
Valmir foi o indicado de Roriz para a suplência de Luiz Estevão na vaga
de senador da República. Venceram todos. Mas quem mais usufruiu da
vitória foi Valmir, que sem nunca ter levado um voto ocupou o mandato
por seis anos e seis meses. Três vezes mais do que o titular, envolvido
no escândalo de superfaturamento das obras do TRT de São Paulo e cassado
em 2000. Sete anos depois, envolvido em outra crise, a da Bezerra de
Ouro, era a vez de Roriz deixar prematuramente o tapete azul com menos
de um ano de mandato.
Apesar de abatido por denúncias de que suas empresas teriam se valido
de empréstimos ilegais do Banco de Brasília (BRB), Valmir Amaral se
segurou no mandato, feijão com arroz, segundo um empresário que o
acompanhou de perto: “Ele não levava jeito para a política”. Foi até o
fim do mandato e, embora filiado primeiro no PMDB e depois no PTB de Gim
Argello, nunca mais disputou um cargo eletivo. A falta de traquejo para
a política, no entanto, não o impediu de fazer bons amigos no Senado.
Um deles, o agora presidente Renan Calheiros (PMDB-AL). A relação ficou
tão próxima que Valmir comprou propriedades em Alagoas e chegou a
desfilar com Renan pelos ares alagoanos em época de campanha.
Sertanejos
Se Valmir ostentou poucos atributos políticos, descontou na vida
social. Aprecia cavalos, joga tênis e adora lanchas. Morador da QL 08 do
Lago Sul, uma ponta de picolé que invade área de proteção ambiental, o
empresário ficou conhecido pelas festas embaladas por cantores da moda.
Já soltaram a voz na residência do ex-senador gente como Ivete Sangalo,
Leonardo, Chitãozinho e Xororó, dupla que animou as bodas de ouro dos
pais, em 2010.
Na festa milionária onde circularam mil convidados, uma socialite
descreve a simplicidade de Valmir. “No dia a dia, ele recebe a gente é
com carne de porco, comidinha caseira”. Cardápio caseiro no forno, mas
carro de luxo na garagem. Entre os bens pendurados pela Justiça em meio a
uma briga pela dissolução da sociedade familiar, há uma Lamborghini
Gallardo, uma Ferrari, um Porsche. Desde 2012, os possantes estão em
poder da Justiça. Desde ontem, o governo se apoderou das sucatas que o
Grupo Amaral dispunha para atender às concessões do transporte público
no DF.
Os rolos do ex-senador
Valmir Amaral entrou para a política em 2000 na vaga aberta pelo
senador cassado Luiz Estevão. Ganhou sete anos de mandato sem ter de
passar pelo teste das urnas. Como o antecessor, Amaral também é alvo de
uma série de acusações de negócios considerados irregulares e
fraudulentos.
Empréstimos irregulares
Pouco após estrear como senador, surgiram denúncias de empréstimos
irregulares envolvendo as empresas dele e o Banco de Brasília (BRB). O
Grupo Amaral tinha uma dívida de R$ 6 milhões com o banco estatal, que
já era cobrada na Justiça, e mesmo assim arrancou um novo empréstimo, de
R$ 4,6 milhões.
Sem concorrência
Já na vaga de suplente de senador, Amaral ganhou 88% de 218 novas
linhas de ônibus abertas em Brasília, sem licitação. Entre elas, as mais
rentáveis da TCB, como a GranCircular, o que levou a estatal a quase
extinção. Tudo graças a decreto assinado pelo aliado político Joaquim
Roriz, então governador, em 2001. Amaral financiou as campanhas de Roriz
e Estevão.
Escândalo sexual
Em 2005, um barco de Amaral naufragou no Rio São Francisco, no norte de
Minas Gerais, e matou três dos seus empregados. Além dos mortos, na
embarcação, estavam duas meninas, e mais seis funcionários do político.
Todos participavam de uma festa, que teria sido organizada por ele, às
margens do rio, onde ficou ancorado um luxuoso barco do então senador.
Havia suspeita de exploração sexual de menores, mas o Senado e a Polícia
Civil mineira não levaram as investigações adiante.
Invasão no Lago Sul
Em 2006, Valmir Amaral trocou a casa de classe média em Sobradinho por
uma mansão no Lago Sul. Em nome do pai dele, Dalmo Amaral, a propriedade
virou caso de polícia. A Justiça do DF aceitou uma denúncia do MP
contra ele, em janeiro de 2007, por acusação de ocupar irregularmente
área verde. O empresário ergueu — na área pública entre a margem do lago
e o que deveria ser o limite da propriedade — garagens, heliporto,
campo de futebol com arquibancadas e quadra de tênis. Além disso,
construiu três píeres, avançando sobre as águas.
Briga em família
Tia de Valmir Amaral, Dalva Rosa do Amaral o acusa de ter invadido as
linhas de ônibus de sua pequena empresa de transporte coletivo em
Planaltina de Goiás. Mas nem mesmo com a decisão judicial que obteve em
seu favor, ela conseguiu retirar os ônibus de Valmir de sua área de
atuação.
Bens penhorados
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) mandou
penhorar os bens de empresas do ex-senador Valmir Amaral, no valor de R$
38,5 milhões, em maio do ano passado. A quantia se refere à
participação de Dorival Josué do Amaral e Luzia Domingos Caixeta do
Amaral, tios do ex-parlamentar, na dissolução societária de 11 empresas
do Grupo Amaral.
Fonte: Correio Braziliense - Por Lilian Tahan, colaborou Renato Alves
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