José
Múcio se declarou impedido de avaliar contrato após acusados da Porto
Seguro dizerem em conversas interceptadas que seria bom ele deixar o
caso
Integrantes da organização que comprava pareceres técnicos de órgãos
públicos tramaram no início de dezembro de 2010 a saída do ministro José
Múcio, do Tribunal de Contas da União (TCU), como relator de um
processo relativo à Tecondi - empresa que, segundo a Operação Porto
Seguro da Polícia Federal, foi beneficiada em contrato de arrendamento
no Porto de Santos.
No dia 16 de dezembro daquele ano, de fato, Múcio alegou impedimento
por "foro íntimo" e se afastou do caso. O Ministério Público Federal em
São Paulo vai investigar os motivos que levaram o ministro a tomar essa
atitude, "sem justificação objetiva".
A investigação será feita em âmbito de inquérito civil. Na esfera criminal, um procedimento poderá ser instaurado em Brasília.
Ao propor a apuração, o procurador da República José Roberto Pimenta
faz menção a troca de e-mails entre Paulo Vieira, apontado como
articulador do grupo dentro do governo, e o empresário Carlos César
Floriano, vice-presidente da Tecondi.
"Uma medida extravagante, se não for possível adotar as anteriores,
seria o ministro Múcio solicitar a redistribuição do processo para outro
relator, alegando impedimento por motivos de foro íntimo", escreveu
Paulo Vieira a Floriano, em 1.º de dezembro de 2010 - 15 dias antes de
Múcio se declarar impedido.
O delator do esquema, Cyonil Borges, então auditor do TCU, declarou à
Procuradoria que Vieira pretendia levar integrantes do PT a uma reunião
com Múcio.
"O sr. Paulo Vieira afirmara que, em encontro com políticos do Partido
(leia-se: PT), no mês de dezembro, discutiriam diretamente com o
Ministro José Múcio Monteiro sobre o desenrolar do processo, para
convencê-lo da legitimidade quanto à manutenção do contrato", escreveu
Cyonil, em 2011.
O procurador destaca que Cyonil afirma que Múcio "declarou seu
impedimento por razões políticas, não por ter recebido vantagem
indevida".
"Cumpre investigar (...) o móvel que levou o ministro a suscitar o
impedimento, que fora uma das medidas cogitadas por Paulo e César para a
‘solução do problema", anotou o procurador. Seu despacho foi juntado
aos autos em fevereiro de 2012, mas a apuração ficou em aberto ao longo
da investigação principal. Nesse período o procurador não abriu
investigações específicas para que não houvesse risco de vazamento da
Porto Seguro.
Sobre a citação ao ministro do TCU, a Procuradoria informou que "todos
os fatos anormais" serão investigados no âmbito cível, assim como na
esfera criminal.
Em seu despacho, o procurador destacou que a manobra que levou ao
afastamento do ministro permitiria uma reavaliação do contrato da
Tecondi no Porto de Santos pela Agência Nacional de Transportes
Aquaviários, onde estavam alojados aliados de Vieira.
"O destino do processo agora estava sob controle, porque estava em
curso a fiscalização da Antaq, onde Paulo tinha incontestável
influência", anotou o procurador. Ele anexou a seu parecer 62 e-mails de
integrantes do grupo. Múcio estava prestes a dar decisão que apontaria
irregularidades no contrato da Tecondi. As correspondências revelam que o
grupo trocou e-mails sugerindo que a "solução do problema" poderia ser a
sua saída do processo.
Fonte: Jornal Estado de São Paulo - Por Fautso Macedo e Bruno Boghossian
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