Governador em exercício avisa que não há mais tempo para aventuras e denuncia pressão por mais espaço
"A posição de Policarpo é de um bedel de escola, não a do presidente de um dos principais partidos da aliança.” |
A gula faz parte dos sete pecados capitais. Vale também para a política
e para a administração. Entre os partidos da base do governo Agnelo
Queiroz, cresce o desconforto com o apetite voraz do PT por espaços
dentro da máquina pública. A avaliação é do vice-governador e presidente
regional do PMDB, Tadeu Filippelli. Aos olhos do dirigente
peemedebista, grupos petistas buscam a hegemonia dentro da máquina
pública, com foco nas eleições de 2014. Na analise do vice-governador,
hoje no exercício do governo, o Buriti também enfrenta o desafio de
apaziguar as disputas internas em administrações regionais e secretarias.
O GDF inicia o ano com novo clima político?
O ano de 2011 foi muito duro. Em 2012, começamos a respirar um pouco
mais. Neste ano tenho a convicção que é hora de colher algumas sementes
plantadas. E a política precisa ter o mesmo rumo, a mesma maturidade,
o mesmo cuidado, o mesmo esforço. Às vezes, porém, o que vejo é um
certo descompasso nesse aspecto.
Que descompasso?
Desde as primeiras reuniões dos presidentes de partidos da aliança, eu
sempre tenho feito questão de ressaltar: é preciso tomar cuidado e
respeitar o conjunto da coligação. A busca da hegemonia, por qualquer
uma das correntes do governo, seria extremamente prejudicial. Esse tipo
de comportamento não é do governador Agnelo, não é do perfil dele, uma
pessoa de aspecto humano fantástico, mas o partido o pressiona de certa
forma.
O PT?
Vi uma página, no Jornal de Brasília, com manifestações do presidente
do PT, Roberto Policarpo, e do secretário responsável pela relação do
GDF com os partidos, Roberto Wagner. O secretário mostra um grande
esforço de agregar forças, de ciscar para dentro, e esta é a essência da
atual situação política do governo. Mas o presidente do PT parece não
se dar conta do momento. Falou de disputas internas do governo, do
“enquadramento” de quem não andar na linha. Mas vamos deixar claro: as
principais disputas por espaço político dentro do governo têm sido
feitas pelo PT. De forma nenhuma pelos demais partidos. A posição de
Policarpo é muito mais de um bedel de escola, do que a do presidente de
um dos principais partidos da aliança, o partido do governador.
Essa postura gera desconforto?
O PT foi o último partido a fazer parte da aliança. Ela foi
construída na ausência do PT, em reuniões semanais, num trabalho árduo
de mais de um ano. As reuniões foram sempre no escritório político do
Roberto Wagner, com diversos partidos. O último partido a se agregar
foi o PT. E ele foi importante, assim como todos os outros também
foram. A presença do PT deu a liga final e o próprio posicionamento da
chapa majoritária e das proporcionais para as eleições em 2010. Sempre é
preciso o exercício de se relembrar tudo que foi construído desde o
começo da aliança. Eu tenho certeza de que este é o pensamento do
Agnelo. Tenho certeza que este é o pensamento de grande parte de líderes
do PT que participaram dessa história mais de perto, sentiram e
exercitaram toda essa construção política. Mas algumas pessoas do
partido, talvez pressionadas pelas bases, são levadas a esquecer.
E a relação política com o Legislativo?
Essa relação deve ser exercida no limite da harmonia que seja benéfica
para Executivo e Legislativo. Para isso é preciso de um pouquinho de
paciência, ponderação e calma entre as partes. Me preocupam também
algumas pessoas que gravitam em torno de determinados postos-chave do
governo, tanto na Câmara ou no Executivo. E às vezes elas podem
interferir na relação cuidadosa entre os Poderes.
As administrações regionais são palco de disputas políticas internas, qual é sua avaliação?
Nós entramos no terceiro ano de governo, estamos em ano pré-eleitoral.
As administrações representam a terminação nervosa do governo.
Representam a interface política do GDF com a sociedade. Não é dado mais
tempo para aventuras ou para experiências. Precisamos consolidar,
lapidar e aprimorar essas interfaces com a sociedade. Estamos passando
pelo último momento para liberdades, modificações ou mudanças nestes
postos. Se ocorrerem, precisam ser cuidadosas.
Como fica a questão das movimentações políticas internas com foco em 2014?
São legitimas dentro do limite do respeito. Todos os partidos deverão
ter a mesma iniciativa e vão buscar sair fortalecidos para as eleições.
Em caso contrário, não terão expressividade nas bancadas e não farão
deputados distritais, federais e demais representantes. O PT está
expressivamente representado. Agora na Câmara Federal e Legislativa
existe espaço para todos. E é importante que este espaço seja
equilibrado. Qualquer ação que representar uma busca de hegemonia na
formação das nominatas para a disputa da próxima eleição será a gota
d’água para impedir qualquer tentativa de construção de uma bela
aliança.
Fonte: Jornal de Brasília - Por Francisco Dutra
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