O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, admitiu ontem que chamou o
ex-adjunto José Weber de Holanda para trabalhar em sua equipe mesmo
sabendo de investigação contra o auxiliar por supostas irregularidades
cometidas em cargos anteriores. Em entrevista de mais de uma hora,
concedida antes de audiência com a presidente Dilma Rousseff, ele disse
que, na condição de assessor direto, Weber falava em seu nome na AGU,
embora não tivesse licença para "extrapolar". Ele afirmou que não viu
crime na conduta de Weber, indiciado pela PF na Operação Porto Seguro.
Ao avaliar a conduta do auxiliar, Adams disse que houve excesso, mas
não um crime. "O que parece é que, de fato, ele extrapolou, quando
encaminhou os pareceres para análise do doutor Paulo (Vieira, ex-diretor
da ANA). "Não necessariamente, isso é crime, mas eu acho algo
reprovável", completou.
'Proatividade'. Adams disse conhecer Weber há mais de dez anos e
elogiou sua "proatividade" como profissional, uma das razões citadas
para convocá-lo à sua equipe. "Quando assumi, convidei-o para trabalhar
comigo. Ele me relatou um caso pendente", lembrou o advogado-geral,
ponderando, contudo, que a promoção ao adjunto só veio quando o processo
foi arquivado no Superior Tribunal de Justiça . "Entendi que, superada
essa questão, poderia indicar, como indiquei", disse Adams,
acrescentando que denúncias de desvio ético nem sempre são confirmadas.
Weber respondia a processos administrativos por supostas
irregularidades em sua passagem pelo Instituto Nacional de Seguridade
Social (INSS), mas recorreu ao STJ, com sucesso, alegando que o prazo
para a abertura dessas investigações estava prescrito. De acordo com
fontes da AGU, desde sua nomeação, Adams pretendia nomeá-lo adjunto, o
que foi barrado pela Casa Civil por conta das suspeitas contra o
servidor.
Adams disse que Weber se reportava aos subordinados em seu lugar.
"Todos os adjuntos possuem alguma autorização para falar em nome do AGU,
para trazer demandas, levar questões. Agora, essa autorização não
autoriza qualquer extrapolação de função", afirmou.
Dilma. Adams garantiu que o episódio não afeta sua relação com a
presidente Dilma. Segundo ele, ela lhe pediu apenas que investigasse o
caso e punisse responsáveis eventualmente identificados. Questionado se
via necessidade de pôr o cargo à disposição, reagiu: "Não acho, não. Não
tenho nenhum envolvimento nesse caso. Não tenho porque assumir a culpa
de um fato pelo qual não sou responsável".
O titular da AGU se disse "magoado, chocado e triste" com o ex-adjunto.
"Para mim, é pessoalmente um choque e uma indignação", afirmou. Ontem,
Adams anunciou que as consultas à AGU feitas pelos demais órgãos
federais vão cumprir daqui por diante um rito mais rigoroso, para evitar
desvios.
Uma das mudanças é que os interlocutores de cada lado terão de ser
nomeados e constar dos registros com a movimentação dos processos.
Fonte: Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário