Benedito, Aylton e Raad, mosqueteiros a serviço do cardeal, não do rei.
Três fortes
aliados do Palácio do Buriti estão a caminho do cadafalso. O peso da
cassação ronda os deputados Benedito Domingos (PP), Raad Massouh (PPL) e
Aylton Gomes (PR). E o governador Agnelo Queiroz, que acaba de emergir
de uma profunda crise política, teme que a perda desses mandatos faça
desabar as densas nuvens negras que voltam a cobrir seu gabinete.
A temida tempestade que se avizinha não se restringirá à Câmara
Legislativa, avaliam atentos observadores da política brasiliense. É
consenso geral que Benedito, Raad e Aylton têm segredos guardados. E ao
sentirem que a guilhotina deixa de ser ameaça para se transformar em
realidade, começam a mandar recados imperativos ao comandante da aliança
que governa o Distrito Federal aos trancos e barrancos.
Para lembrar um jargão popular, os três distritais estão com a corda
no pescoço. E não escondem o incômodo com o assunto. O trio enfrenta
investigações céleres na Justiça. Os assuntos vão da alçada eleitoral à
criminal, passando por improbidade administrativa e peculato.
O temor maior é que, por privarem da intimidade palaciana e da
residência oficial de Águas Claras, onde costumam ser recebidos com
sorrisos e afagos, Benedito, Raad e Aylton, sendo cassados, associarão
seus pecados diretamente a Agnelo Queiroz. E o governador, que mal tem
tempo de respirar, sentindo os respingos ainda úmidos da cachoeira do
contraventor goiano, estará na obrigação de prestar mais esclarecimentos
à sociedade.
Não se sugere aqui nenhuma ilação. São fatos observados por quem faz,
vive e respira política na capital da República. Não vem ao caso se um
dos três candidatos à perda de mandato errou ontem. O problema é que,
por ter errado, continua a receber afagos. Os outros dois também estão
em situação igual ou pior.
Sem que caiba aqui mencionar a ordem de probabilidade de cassação de
cada um desses aliados do Buriti, sabe-se que a situação é de desespero.
Também, quem manda confiar demais em um assessor até então próximo, mas
que agora conta aos quatro cantos o perrengue que pode se aproximar do
chefe?
Quem fala pelos cotovelos e com quem não deve, paga a conta. As
provas são tão chocantes, que o processo corre em segredo de justiça. E
Aylton, vendo o fogo crescer, não consegue que bombeiro algum saia em
seu socorro. A semana é do peixe, mas não é todo mundo que sonha repor
três mil garoupas batendo em porta de bode velho.
Outra história associada a mais um aliado de Agnelo – e que é
comentada nos diferentes pontos cardeais de Brasília – diz respeito ao
personagem que aparenta ser temente a Deus, mas que mesmo assim foge dos
dogmas da Bíblia. Benedito é flagrado em conversas que delas até o
Todo Poderoso duvida.
O pastor que se faz de coadjuvante no Legislativo andou pedindo
muito, em alto e bom som, para que o Senhor ilumine seu plano de
conseguir ampliar seus dízimos. E como as paredes dos templos são
frágeis, os templários que ouvem passam adiante o que ouviram, em busca
de uma confirmação que virá quando a cassação for decretada.
Enquanto Agnelo emerge da cachoeira, águas turvas afogam Raad em um
poço com o fundo enlameado. O deputado que se passa por secretário dos
micros, mas que pensa para si sempre grande, vê voltarem os fantasmas
que assombraram seu mandato nos tempos do Democratas. A teia formada por
seus parentes e funcionários é a prova que a justiça precisava para
denunciá-lo, inclusive por prevaricação.
Quando se aventurou a fazer política partidária, Agnelo foi informado
que o jogo é sujo, mas preciso. Hoje, o alerta de pessoas próximas a
ele e ao vice Tadeu Filippelli, sinaliza com a necessidade de os
suplentes sejam agradados. Tudo para não correrem o risco de verem os
substitutos ingressarem no Legislativo sem um discurso afinado com o
Buriti. Seria um risco muito grande para o Palácio.
Ninguém sabe ao certo que rumos tomarão os distritais de
mandatos-tampão após as cassações de Benedito, Raad e Aylton. Se
dançarem no ritmo da batuta de Agnelo, menos mal. Porém, se houver uma
debandada, se saírem de plaga em plaga em busca de novas sagas, é sinal
que as chuvas e trovoadas que se aproximam com o fim da estiagem terão
um volume de águas maior que qualquer cachoeira.
Isso incomoda muito ao Palácio do Buriti. Por essas e outras, é
melhor adiar o tanto que der a abertura das ações. Ou ao menos tentar,
porque o tempo, faça chuva ou faça sol, é o Senhor da razão. Salvo se a
guilhotina for mais rápida. Nesse caso, não haverá remédio para estancar
a sangria vermelha.
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