Em sua última manifestação formal antes
do início do julgamento do mensalão, o procurador-geral da República,
Roberto Gurgel, enviou aos ministros do Supremo Tribunal Federal um
documento no qual afirma que o caso foi "o mais atrevido e escandaloso
esquema de corrupção e de desvio de dinheiro público flagrado no
Brasil".
A expressão faz parte de um vasto
memorial que foi entregue na última semana aos 11 integrantes do Supremo
e obtido pela Folha. O julgamento começa na quinta.
Ao enviar o material, Gurgel visa facilitar o trabalho dos ministros,
caso advogados contestem provas citadas pela acusação, ou afirmem que
não existem indícios sobre um ou outro ponto. O que Gurgel fez foi
pinçar das mais de 50 mil páginas do processo o que
chamou de "principais provas" contra os acusados. Esses documentos
(como perícias, depoimentos e interrogatórios) foram separados pelo nome
de cada réu, em dois volumes.
Nos últimos dias, advogados de defesa
também entregaram os seus memoriais. No texto em que Gurgel chama o
mensalão de o mais "escandaloso esquema",
o procurador retoma uma frase que usou nas alegações finais, enviadas
ao Supremo no ano passado, quando havia dito que a atuação do STF
deveria servir de exemplo contra atos de corrupção.
Agora, diz que "a atuação do Supremo Tribunal Federal servirá de
exemplo, verdadeiro paradigma histórico, para todo o Poder Judiciário
brasileiro e, principalmente, para toda a sociedade, a fim de que os
atos de corrupção, mazela desgraçada e insistentemente epidêmica no
Brasil, sejam tratados com rigor necessário". Em outro ponto, ele afirma que o mensalão representou "um sistema de
enorme movimentação financeira à margem da legalidade, com o objetivo
espúrio de comprar os votos de parlamentares tidos como especialmente
relevantes pelos líderes criminosos."
Em sua manifestação final, Gurgel tentou relembrar alguns detalhes
fundamentais, como o papel do núcleo financeiro do esquema. "Impressiona
constatar que as ações dos dirigentes do Banco Rural
perpassaram todas as etapas do esquema ilícito, desde sua origem
(financiamento), passando pela sua operacionalização (distribuição) e,
ao final, garantindo a sua impunidade pela omissão na comunicação das
operações suspeitas aos órgãos de controle", afirma. Ao resumir o que a
ação contém, o procurador concluiu: "Colheu-se um
substancioso conjunto de provas que não deixa dúvidas à procedência de
acusação".(Folha de São Paulo)
Fonte: CoroneLeaks - Coturno Noturno
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