Coluna do Mino
A Operação Monte Carlo revelou como o
bicheiro Carlinhos Cachoeira lançou mão de uma ampla estrutura de
arapongagem para descobrir segredos de amigos e inimigos. A PF associou
ao contraventor um grupo conhecido do submundo do Distrito Federal.
Grupo este que vende seus serviços
ilegais para quem paga mais e também usa essas informações no mercado
negro da barganha política. QUIDNOVI
descobriu que a ação dos arapongas atingiu os Três Poderes da União e se
valeu da estrutura e de servidores lotados no Judiciário, na Polícia
Federal e no Congresso. Caíram nas garras dos espiões políticos de
diferentes colorações partidárias e até a ocupante do cargo mais alto na
Nação, a presidenta Dilma Rousseff.
Foi numa quebra de sigilo dos telefones
do Palácio do Buriti, sede do Governo do Distrito Federal, que foi
identificada a atuação do araponga Edilson Gomes Neves. Com 36 anos e
quatro passagens pela polícia, Gomes foi recrutado por Idalberto Matias
de Araújo quando adolescente, há quase 20 anos, época em que Dadá
trabalhava na inteligência da Aeronáutica. Começou fazendo pequenos
serviços em linhas telefônicas. Com o tempo, aprendeu tudo o que se pode
saber sobre o ofício da espionagem e se tornou um especialista no
trabalho de campo, ou seja, violando sigilos telefônicos, telemático,
fiscal e bancário.
Sob as ordens de Dadá e de seu colega
Jairo Martins, o PM da ABIN que se tornou célebre em outros escândalos
da República, foi que Gomes investiu contra políticos como o senador
Blairo Maggi (PR/MT). Cotado para assumir o Ministério dos Transportes
após a queda de Alfredo Nascimento, Maggi virou alvo preferencial de
Carlinhos Cachoeira, que precisava levantar informações para beneficiar a
construtora Delta dentro do DNIT. Gomes pôs as mãos nos registros
telefônicos do senador, maior produtor de soja do Brasil, entre janeiro e
junho deste ano. Também foram alvo do araponga o senador Demóstenes
Torres, os deputados Fernando Francischini (PSDB/PR), Carlos Augusto
Leréia (PSDB/GO) e os governadores Agnelo Queiroz (Brasília) e Marconi
Perillo (Goiás).
Até o vice de Agnelo, Tadeu Filipelli,
também virou vítima da espionagem. Alguns jornalistas foram monitorados,
como o repórter Felipe Coutinho, do jornal “Folha de São Paulo”, o
blogueiro do DF Edson Sombra, e este QUIDNOVI.
No momento em que está sendo publicada esta reportagem, Gomes continua atuando, mas sob os olhos da Polícia Federal, da Polícia Civil e do Núcleo de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do DF (NCOC). Curioso, no entanto, é que essas autoridades, que há mais de um mês já sabem quem é o espião, onde mora e como atua, até agora não tomaram quaisquer providências para detê-lo. Considerando o conteúdo das quebras de sigilo, obtidas por QUIDNOVI, essa inépcia só pode ser explicada por dois motivos: incompetência ou cumplicidade. A Operação Monte Carlo revelou que os procuradores Wilton Queiroz e Libânio Alves mantinham estreitas relações com esses criminosos. Mas eles continuam nos seus cargos, intocáveis. Vale lembrar que dezenas de policiais e autoridades da Segurança Pública de Goiás e do DF abasteciam o grupo de Cachoeira com informações privilegiadas.
No momento em que está sendo publicada esta reportagem, Gomes continua atuando, mas sob os olhos da Polícia Federal, da Polícia Civil e do Núcleo de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do DF (NCOC). Curioso, no entanto, é que essas autoridades, que há mais de um mês já sabem quem é o espião, onde mora e como atua, até agora não tomaram quaisquer providências para detê-lo. Considerando o conteúdo das quebras de sigilo, obtidas por QUIDNOVI, essa inépcia só pode ser explicada por dois motivos: incompetência ou cumplicidade. A Operação Monte Carlo revelou que os procuradores Wilton Queiroz e Libânio Alves mantinham estreitas relações com esses criminosos. Mas eles continuam nos seus cargos, intocáveis. Vale lembrar que dezenas de policiais e autoridades da Segurança Pública de Goiás e do DF abasteciam o grupo de Cachoeira com informações privilegiadas.
Quando Agnelo depôs na CPI, há duas
semanas, um de seus mais fortes argumentos para marcar distância de
Cachoeira foi a alegação de que seu governo nunca cedeu a pressões para
beneficiar a construtora Delta. Outro argumento dizia respeito a como o
GDF fora alvo de espionagem. O governador informou que 300 telefones do
Palácio do Buriti haviam sido violados, e responsabilizou um
indeterminado grupo criminoso. Sem citar nomes, sugeriu participação de
blogs que publicam as mazelas de sua gestão. Agnelo não disse, talvez
não soubesse, que esse grupo criminoso estava prestando serviço para
Claudio Monteiro, que era seu chefe de gabinete até ser flagrado nas
escutas da Monte Carlo recebendo propina do esquema.
Monteiro, como chefe de gabinete, tinha
acesso à estrutura policial do GDF e recebia com frequência o araponga
Dadá. Tudo indica que ele usou, e abusou, dessa estrutura, inclusive se
utilizando de agentes e delegados para monitorar inimigos políticos do
governador. O principal alvo foi o deputado Francischini, que tem feito
oposição ferrenha a Agnelo. Se o governador não sabia de nada, Monteiro
protagonizou uma espécie de “Aloprados do PT” no DF, ao agir de forma
independente para se cacifar dentro do governo. Trata-se de uma prática
que se tornou rotina na capital da República, onde políticos criam
grupos de perfil paramilitar com o objetivo de disputar espaço na
estrutura do poder. O problema é que acabam trazendo essas guerras
particulares para dentro do governo.
Mas onde se encaixa a atuação de Edilson
Gomes das Neves? O araponga, ligado a Dadá e Jairo, que prestaram
serviço para Claudio Monteiro, bobeou e acabou sendo flagrado quando
tentava obter de uma companhia telefônica a senha de controle do gestor
dos contratos dos telefones do GDF, inclusive do governador e de seu
vice. Nos áudios disponibilizados pela companhia telefônica, e obtidos
com exclusividade pelo QUIDNOVI,
Gomes se faz passar pelo gestor Francisco Monte para se credenciar
junto à empresa e, a partir dali, ter acesso total a todos os registros
de ligações. Um desses registros, por meio de terceiros, acabou vindo
parar nas mãos desse blog no início do ano, quando Agnelo se defendia
das acusações de cobrar propina a empresas farmacêuticas, feitas pelo
ex-funcionário da Anvisa Daniel Tavares. Eram ligações telefônicas entre
o chefe da Casa Militar do GDF, coronel Rogério Leão, e o deputado
distrital Chico Vigilante (PT).
Após aquela publicação de QUIDNOVI,
Leão desconfiou da violação e investiu contra a companhia telefônica,
que foi obrigada a fornecer as gravações de todas as chamadas feitas à
central de atendimento que tratassem do contrato do GDF. Não se sabe
porque, Agnelo não quis usar essas informações na CPI. Leão, por sua
vez, encaminhou a documentação para a Polícia Civil, mas nada foi feito
até agora.
Com a prisão dos cabeças do grupo de
Carlinhos, os pagamentos pelos serviços de espionagem foram suspensos.
Gomes, então, passou a tentar vender a informação para a própria
imprensa. Ofereceu, sem sucesso, para a “Folha de São Paulo”, para o QUIDNOVI
e para o jornalista Edson Sombra, que resolveu procurar a PF e o NCOC a
fim de denunciar a ação do araponga. Para reunir o máximo de provas,
Sombra alimentou o diálogo com Gomes. Todas as trocas de mensagens por
celular e email foram entregues a peritos do NCOC e da PF, na
expectativa de que alguma providência fosse tomada. Essas autoridades
prometeram prender o criminoso, mas a operação vem se arrastando.
Talvez, pela tamanha influência que o grupo que Gomes integra tem dentro
das instituições.
No acervo que está nas mãos das
autoridades, Gomes oferece não só os sigilos telefônicos das
autoridades, mas cópias de declarações de imposto de renda, cadastros do
Infoseg, dados de investigações sigilosas do Ministério Público e todo
tipo de monitoramento. Diz que tem até o extrato telefônico e telemático
de Dilma, que lhe foi pedido durante a campanha de 2010. Provavelmente,
há uma relação entre Gomes e o hacker “Douglas”, que foi flagrado
tentando vender para o PSDB e o DEM uma coletânia de 600 emails de
Dilma, quando candidata.
É preciso fechar algumas pontas.
Coincidência ou não, aquele hacker foi apresentado, na ocasião, ao
jornalista da Folha Rubens Valente, pelo ex-deputado federal Alberto
Fraga, presidente do DEM no DF o jornalista não fez matéria e denunciou o
hacker a PF. Fraga tem estreitas relações com Jairo Martins, sócio de
Dadá, e a tenente-coronel Soraya Barbosa Sales de Almeida, que ocupava
cargo de analista de inteligência da Secretaria de Segurança Pública do
DF. Ela foi a responsável por vazar documentos sigilosos do governo
Agnelo a pedido de Fraga e também caiu nas escutas da Monte Carlo
passando informações para Dadá abastecer a quadrilha de Cachoeira. O
novelo é tão complexo que o mesmo Dadá chegou a trabalhar no grupo de
inteligência da campanha de Dilma, coordenado pelo jornalista Amaury
Ribeiro Jr, para elaborar dossiês contra o candidato tucano José Serra.
Pelo visto, o governador Agnelo Queiroz
fez um mal para ele mesmo ao sepultar a CPI da Arapongagem na Câmara
Distrital. Era uma oportunidade de ouro para se fazer uma assepsia geral
nas instituições de segurança, exterminando de uma vez a ação desses
grupos criminosos. Isso ajudaria Agnelo a afastar de vez qualquer
suspeita de cumplicidade sua com essas ações. O problema é que o
governador também perderia um argumento que usa de forma recorrente para
justificar a ineficácia de sua gestão: o de que não consegue governar
por conta da ação desses grupos criminosos que querem derrubá-lo.
Fonte: QuidNovi por Mino Pedrosa
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