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domingo, 1 de julho de 2012

EXCLUSIVO: ESPIÃO QUE INVADIU OS PALÁCIOS DO BURITI E PLANALTO EM BRASILIA NA MIRA DA PF E NCOC

Coluna do Mino

 

 


A Operação Monte Carlo revelou como o bicheiro Carlinhos Cachoeira lançou mão de uma ampla estrutura de arapongagem para descobrir segredos de amigos e inimigos. A PF associou ao contraventor um grupo conhecido do submundo do Distrito Federal.

Grupo este que vende seus serviços ilegais para quem paga mais e também usa essas informações no mercado negro da barganha política. QUIDNOVI descobriu que a ação dos arapongas atingiu os Três Poderes da União e se valeu da estrutura e de servidores lotados no Judiciário, na Polícia Federal e no Congresso. Caíram nas garras dos espiões políticos de diferentes colorações partidárias e até a ocupante do cargo mais alto na Nação, a presidenta Dilma Rousseff.

Foi numa quebra de sigilo dos telefones do Palácio do Buriti, sede do Governo do Distrito Federal, que foi identificada a atuação do araponga Edilson Gomes Neves. Com 36 anos e quatro passagens pela polícia, Gomes foi recrutado por Idalberto Matias de Araújo quando adolescente, há quase 20 anos, época em que Dadá trabalhava na inteligência da Aeronáutica. Começou fazendo pequenos serviços em linhas telefônicas. Com o tempo, aprendeu tudo o que se pode saber sobre o ofício da espionagem e se tornou um especialista no trabalho de campo, ou seja, violando sigilos telefônicos, telemático, fiscal e bancário.

Sob as ordens de Dadá e de seu colega Jairo Martins, o PM da ABIN que se tornou célebre em outros escândalos da República, foi que Gomes investiu contra políticos como o senador Blairo Maggi (PR/MT). Cotado para assumir o Ministério dos Transportes após a queda de Alfredo Nascimento, Maggi virou alvo preferencial de Carlinhos Cachoeira, que precisava levantar informações para beneficiar a construtora Delta dentro do DNIT. Gomes pôs as mãos nos registros telefônicos do senador, maior produtor de soja do Brasil, entre janeiro e junho deste ano. Também foram alvo do araponga o senador Demóstenes Torres, os deputados Fernando Francischini (PSDB/PR), Carlos Augusto Leréia (PSDB/GO) e os governadores Agnelo Queiroz (Brasília) e Marconi Perillo (Goiás).

Até o vice de Agnelo, Tadeu Filipelli, também virou vítima da espionagem. Alguns jornalistas foram monitorados, como o repórter Felipe Coutinho, do jornal “Folha de São Paulo”, o blogueiro do DF Edson Sombra, e este QUIDNOVI.
 

No momento em que está sendo publicada esta reportagem, Gomes continua atuando, mas sob os olhos da Polícia Federal, da Polícia Civil e do Núcleo de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do DF (NCOC). Curioso, no entanto, é que essas autoridades, que há mais de um mês já sabem quem é o espião, onde mora e como atua, até agora não tomaram quaisquer providências para detê-lo. Considerando o conteúdo das quebras de sigilo, obtidas por QUIDNOVI, essa inépcia só pode ser explicada por dois motivos: incompetência ou cumplicidade. A Operação Monte Carlo revelou que os procuradores Wilton Queiroz e Libânio Alves mantinham estreitas relações com esses criminosos. Mas eles continuam nos seus cargos, intocáveis. Vale lembrar que dezenas de policiais e autoridades da Segurança Pública de Goiás e do DF abasteciam o grupo de Cachoeira com informações privilegiadas.

Quando Agnelo depôs na CPI, há duas semanas, um de seus mais fortes argumentos para marcar distância de Cachoeira foi a alegação de que seu governo nunca cedeu a pressões para beneficiar a construtora Delta. Outro argumento dizia respeito a como o GDF fora alvo de espionagem. O governador informou que 300 telefones do Palácio do Buriti haviam sido violados, e responsabilizou um indeterminado grupo criminoso. Sem citar nomes, sugeriu participação de blogs que publicam as mazelas de sua gestão. Agnelo não disse, talvez não soubesse, que esse grupo criminoso estava prestando serviço para Claudio Monteiro, que era seu chefe de gabinete até ser flagrado nas escutas da Monte Carlo recebendo propina do esquema.

Monteiro, como chefe de gabinete, tinha acesso à estrutura policial do GDF e recebia com frequência o araponga Dadá. Tudo indica que ele usou, e abusou, dessa estrutura, inclusive se utilizando de agentes e delegados para monitorar inimigos políticos do governador. O principal alvo foi o deputado Francischini, que tem feito oposição ferrenha a Agnelo. Se o governador não sabia de nada, Monteiro protagonizou uma espécie de “Aloprados do PT” no DF, ao agir de forma independente para se cacifar dentro do governo. Trata-se de uma prática que se tornou rotina na capital da República, onde políticos criam grupos de perfil paramilitar com o objetivo de disputar espaço na estrutura do poder. O problema é que acabam trazendo essas guerras particulares para dentro do governo.

Mas onde se encaixa a atuação de Edilson Gomes das Neves? O araponga, ligado a Dadá e Jairo, que prestaram serviço para Claudio Monteiro, bobeou e acabou sendo flagrado quando tentava obter de uma companhia telefônica a senha de controle do gestor dos contratos dos telefones do GDF, inclusive do governador e de seu vice. Nos áudios disponibilizados pela companhia telefônica, e obtidos com exclusividade pelo QUIDNOVI, Gomes se faz passar pelo gestor Francisco Monte para se credenciar junto à empresa e, a partir dali, ter acesso total a todos os registros de ligações. Um desses registros, por meio de terceiros, acabou vindo parar nas mãos desse blog no início do ano, quando Agnelo se defendia das acusações de cobrar propina a empresas farmacêuticas, feitas pelo ex-funcionário da Anvisa Daniel Tavares. Eram ligações telefônicas entre o chefe da Casa Militar do GDF, coronel Rogério Leão, e o deputado distrital Chico Vigilante (PT).

Após aquela publicação de QUIDNOVI, Leão desconfiou da violação e investiu contra a companhia telefônica, que foi obrigada a fornecer as gravações de todas as chamadas feitas à central de atendimento que tratassem do contrato do GDF. Não se sabe porque, Agnelo não quis usar essas informações na CPI. Leão, por sua vez, encaminhou a documentação para a Polícia Civil, mas nada foi feito até agora.

Com a prisão dos cabeças do grupo de Carlinhos, os pagamentos pelos serviços de espionagem foram suspensos. Gomes, então, passou a tentar vender a informação para a própria imprensa. Ofereceu, sem sucesso, para a “Folha de São Paulo”, para o QUIDNOVI e para o jornalista Edson Sombra, que resolveu procurar a PF e o NCOC a fim de denunciar a ação do araponga. Para reunir o máximo de provas, Sombra alimentou o diálogo com Gomes. Todas as trocas de mensagens por celular e email foram entregues a peritos do NCOC e da PF, na expectativa de que alguma providência fosse tomada. Essas autoridades prometeram prender o criminoso, mas a operação vem se arrastando. Talvez, pela tamanha influência que o grupo que Gomes integra tem dentro das instituições.

No acervo que está nas mãos das autoridades, Gomes oferece não só os sigilos telefônicos das autoridades, mas cópias de declarações de imposto de renda, cadastros do Infoseg, dados de investigações sigilosas do Ministério Público e todo tipo de monitoramento. Diz que tem até o extrato telefônico e telemático de Dilma, que lhe foi pedido durante a campanha de 2010. Provavelmente, há uma relação entre Gomes e o hacker “Douglas”, que foi flagrado tentando vender para o PSDB e o DEM uma coletânia de 600 emails de Dilma, quando candidata. 

É preciso fechar algumas pontas. Coincidência ou não, aquele hacker foi apresentado, na ocasião, ao jornalista da Folha Rubens Valente, pelo ex-deputado federal Alberto Fraga, presidente do DEM no DF o jornalista não fez matéria e denunciou o hacker a PF. Fraga tem estreitas relações com Jairo Martins, sócio de Dadá, e a tenente-coronel Soraya Barbosa Sales de Almeida, que ocupava cargo de analista de inteligência da Secretaria de Segurança Pública do DF. Ela foi a responsável por vazar documentos sigilosos do governo Agnelo a pedido de Fraga e também caiu nas escutas da Monte Carlo passando informações para Dadá abastecer a quadrilha de Cachoeira. O novelo é tão complexo que o mesmo Dadá chegou a trabalhar no grupo de inteligência da campanha de Dilma, coordenado pelo jornalista Amaury Ribeiro Jr, para elaborar dossiês contra o candidato tucano José Serra.

Pelo visto, o governador Agnelo Queiroz fez um mal para ele mesmo ao sepultar a CPI da Arapongagem na Câmara Distrital. Era uma oportunidade de ouro para se fazer uma assepsia geral nas instituições de segurança, exterminando de uma vez a ação desses grupos criminosos. Isso ajudaria Agnelo a afastar de vez qualquer suspeita de cumplicidade sua com essas ações. O problema é que o governador também perderia um argumento que usa de forma recorrente para justificar a ineficácia de sua gestão: o de que não consegue governar por conta da ação desses grupos criminosos que querem derrubá-lo.











Fonte: QuidNovi por Mino Pedrosa

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