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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

MOTORISTA DIZ TER SIDO AMEAÇADO DUAS VEZES

Célio Soares, que afirma ter entregue R$ 1 milhão ao ministro, acusa pessoas ligadas a ONGs
 
BRASÍLIA. O motorista Célio Soares, uma das principais testemunhas dos supostos desvios de dinheiro do Ministério do Esporte, afirmou ontem que recebeu ameaças de agressão de duas pessoas ligadas a Organizações Não Governamentais (ONGs) suspeitas de envolvimento em irregularidades. Uma das tentativas de coerção teria partido do irmão de um político petista de Brasília. A outra ameaça teria como origem um homem que teria relações com a ONG Instituto Liga de Futebol Society. Em entrevista ao GLOBO ontem, o motorista reafirmou ter levado RS1 milhão para o ministro do Esporte. Orlando Silva, que nega com veemência.

 
Soares está intimado para depor hoje na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara. O motorista disse que os dois responsáveis pelas ameaças estiveram na casa dele em Sobradinho. na semana passada. Como não encontraram o motorista, os dois teriam deixado com familiares recados ameaçadores. Desde então. Soares não anda sozinho. Só se movimenta em Sobradinho. cidade-satélite de Brasília, na companhia de amigos. Soares foi motorista de Fredo Ebling. ex-candidato a deputado federal pelo do PCdoB e um dos principais aliados de Orlando no partido.

 
— Um ficou lá em casa e falou para minha mãe que eu não sabia onde eu estava entrando. Que eu ia me lascar todinho. O outro também ficou lá meia hora me esperando. Falou para eu tomar cuidado por onde eu estaria entrando. Deixou esse recado com a menina que trabalha lá em casa — disse Soares, em entrevista gravada.

 
Célio diz que usou credencial para entrar na garagem do ministério


Esta é a primeira vez que Célio Soares rompe o silêncio que se auto-impôs após declarar à revista "Veja", há duas semanas, que tinha levado RS1 milhão para Orlando Silva na garagem do ministério. Numa longa conversa, o motorista reafirmou que recolheu e levou uma caixa de dinheiro para o ministro em novembro ou dezembro de 2008. Ele teria recolhido o dinheiro com dirigentes de ONGs beneficiadas pelo programa Segundo Tempo a mando de Fredo e. em seguida, transportado o dinheiro numa caixa de papelão até a garagem do ministério.

 
Ele relata que entrou na garagem do ministério com uma credencial fornecida por Fredo. parou o carro ao lado do carro oficial do ministro e. em pouco tempo, entregou a encomenda. O motorista do ministro teria ajudado a carregara caixa do porta-malas de um carro para o outro. Segundo ele. a ajuda era necessária para evitar que o peso do dinheiro arrebentasse a caixa.

— Levei um RS1 milhão em notas de RS50. RS100. Parei do lado. desci, abri o porta-mala do carro, peguei o dinheiro. O motorista abriu o porta-mala do carro oficial. Fui eu quem botou com a ajuda do motorista — disse Soares

 
Segundo ele. o motorista estava no banco de trás do carro e perguntou pela saúde de Fredo. O militante do PCdoB teria contraído uma virose e não pode comparecer ao compromisso com o ministro.

 
— Só perguntou se o Fredo estava melhor Falei: "tá melhorando" — disse.

 
O motorista sustenta ainda que, a pedido de Fredo. recolheu o dinheiro com dirigentes de ONGs. Ele diz ter recebido RS200 mil do ex-jogador de futebol Toni Matos e de Hilton. ex-funcionário do Ministério do Esporte. Ele teria recolhido ainda outros RS300 mil com Geraldo Nascimento, apontado como um dos laranjas de seis empresas acusadas de fornecer notas fiscais falsas para dirigentes de ONGs.

 
Soares disse que recolheu o dinheiro próximo à sede da Associação Toni Matos, em Sobradinho. Ex-jogador ligado ao PCdoB, Matos tem vínculos com quatro ONGs financiadas com recursos do Ministério do Turismo. Procurado pelo GLOBO, o ex-jogador negou que tenha repassado dinheiro ao ministro.

 
— É tudo mentira. Não tem nada disso — disse Matos, segundo relato de uma funcionária da associação.

 
Procurados pelo GLOBO, os dois acusados por Célia pelas ameaças não foram localizados. Célio Soares tem 30 anos e seis filhos. Ele foi apresentado a Fredo em 2006 pelo policial João Dias Ferreira, delator de supostas fraudes no ministério. Soares trabalhou para Fredo entre 2007 e 2008. Hoje. Célio Soares faz bico para um sindicato de jogadores de Sobradinho.

 
Por Jailton de Carvalho

Fonte: Jornal O Globo
Blog do Edson Sombra

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